Séries derivadas são sempre uma grande aposta. Geralmente elas surgem quando a atração principal faz muito sucesso e algum personagem ou narrativa se destaca o suficiente para ter um caminho solo. Por isso não é novidade a aposta da CBS em Young Sheldon. Mas o que poderia ser um seriado totalmente infantil e bobo focado na infância do pequeno gênio, é, na verdade, uma atração gostosa de assistir e até mais simpática do que a original.
Um dos grandes méritos para isso é o elenco principal com quem o jovem Sheldon (Iain Armitage) interage. Desde seus irmãos Georgie (Montana Jordan) e Missy (Raegan Revord), até seus pais (Lance Barber e Zoe Perry) e sua avó (Annie Potts), todos se destacam pelas excelentes atuações, que se unem com um roteiro que traz boas discussões. Nesta segunda temporada, por exemplo, é mostrado como há vários tipos diferentes de inteligência. Enquanto Sheldon é realmente um gênio à frente de seu tempo, sua irmã gêmea Missy tem uma inteligência emocional muito grande ao observar o comportamento das pessoas, algo que não faz parte das características do protagonista. Ela o complementa na resolução de problemas e vice versa.
Aliás, o núcleo familiar de Sheldon funciona muito mais do que o escolar. Enquanto na instituição de ensino o jovem precisa lidar com amigos que não lhe entendem e professores sem paciência para suas perguntas extremamente diretas, é em casa que Sheldon aprende suas maiores lições de vida. E o mais surpreendente é como ele está aberto para essas lições, em um contraponto com sua versão adulta. Enquanto o personagem de Jim Parsons é teimoso e, muitas vezes, maldoso em The Big Bang Theory, o jovem Sheldon realmente não entende muitas interações sociais, mas sempre está aberto a aprender.
É assim, por exemplo, quando sua mãe Mary passa por um momento muito difícil e, mesmo não entendendo o que está acontecendo, o garoto a consola; ou quando Sheldon quer levar melhorias para as áreas de ciências de sua escola e por isso concorre ao cargo de presidente de sala. Ele se incomoda, claro, ao perceber que precisará interagir com outras pessoas durante a campanha, mas está aberto a aprender. É curioso que Young Sheldon e The Big Bang Theory sejam de Chuck Lorre e tenham abordagens tão diferentes em relação ao protagonista. É muito mais fácil gostar de Young Sheldon e não apenas pela fofura do protagonista. O que chama a atenção, na verdade, é como o garoto está disposto a aprender coisas novas, diferente de sua versão adulta.
Outro ponto positivo da série é o desenvolvimento de tramas que não envolvem Sheldon diretamente. Como já foi dito diversas vezes na série principal, a família Cooper é do Texas e isso rende vários desenvolvimentos interessantes. Um deles, por exemplo, é quando a mãe de Sheldon suspeita que está grávida e fica com vergonha de comprar o teste de farmácia. Quando é vista por lá, a notícia se espalha na pequena comunidade e até George, o pai de Sheldon, fica constrangido. Dessa forma a atração mostra como havia um estigma com a gravidez naquela época, mesmo entre pessoas casadas.
Já Connie, a famosa avó de Sheldon, rende momentos divertidíssimos. Annie Potts interpreta com leveza a senhora que quer viver a vida muito bem e não se importa com a opinião dos outros. Seu relacionamento com o Dr. John Sturgis (Wallace Shawn) é fofo e também rende momentos emocionantes, como no season finale. Sturgis ajuda Sheldon a se preparar para ouvir os vencedores do prêmio Nobel, mas ele próprio fica triste ao olhar para trás e ver que não realizou seu grande sonho de ganhar tal reconhecimento. Isso faz com que uma série focada em uma criança gênio tenha espaço para falar também das frustrações da velhice, sem parecer forçado ou fora de lugar.
Havia uma grande expectativa para o encerramento da segunda temporada de Young Sheldon, pela apresentação das versões mirins de outros personagens de The Big Bang Theory (confira como ficou aqui). O momento tinha tudo para soar forçado ou piegas demais, mas o roteiro criou uma situação muito delicada e bonita. Sheldon convida os colegas de escola para acompanhar a entrega do Nobel, mas ninguém aparece. Ele chora ao se sentir completamente sozinho, e então a série faz uma montagem com o que cada um de seus futuros amigos estava fazendo naquele momento. A cena é simples e não traz nenhuma grande inovação, mas funciona ao mostrar ao público que sempre há esperança de algo melhor no futuro.
Com tanta delicadeza para tratar de temas importantes, humor irônico texano e um ótimo elenco, Young Sheldon tem tudo para continuar contando boas histórias mesmo com o final de The Big Bang Theory.