Produzido, segundo informações do canal, por fanáticos por quadrinhos, Super-Heróis utiliza uma perspectiva bem interessante para analisar 65 anos de HQs: a história dos Estados Unidos. Começando com a relação entre a criação do Super-Homem e os imigrantes europeus pós-Primeira Guerra, a história dos super-heróis é colocada em contraste com a Segunda Guerra, a Guerra do Vietnã, o moralismo da década de 50, as fortes transformações sociais da década de 60, a política de Ronald Reagan e até os últimos reflexos dos ataques de 11 de setembro.
Para tanto, os documentaristas buscaram a nata dos entendidos sobre quadrinhos nos Estados Unidos, entrevistando muita gente que viu as coisas acontecerem de perto, ou mesmo os que fizeram as coisas acontecer. É o caso de Denny ONeil, escritor e editor do Batman por décadas, que não só revitalizou o homem-morcego, como também trouxe transformações históricas para a Mulher-Maravilha e Lanterna Verde. Além de O´Neil estão presentes no documentário Mike Richardson (editor-chefe da Dark Horse Comics), Kevin Smith, Frank Miller, Paul Levitz (chefão da DC), Joe Quesada, Neil Gaiman e os arroz-de-festa Will Eisner e Stan Lee, ambos na ativa há mais de 60 anos. Não faltaram também Michael Chabon (que pesquisou a fundo os primórdios dos quadrinhos para escrever o romance As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay, Jim Steranko (escritor, desenhista e historiador) e o já citado historiador Bradford Wright.
O documentário é excelente e traz detalhes históricos que devem encantar os apaixonados por quadrinhos. Qual a importância da vida sexual do criador da Mulher Maravilha nas histórias desta? Como foi, passo a passo, a criação de Marvel Comics 1? Por que o Quarteto Fantástico surgiu a partir de uma partida de golfe? De qual trabalho Denny ONeil se arrepende amargamente?
Deixando de lado o conteúdo, o simples fato de poder conhecer o rosto e a voz de alguns dos criadores mais importantes da história das HQs já é um destaque à parte. É interessante ouvir o israelense Avi Arad, responsável pelas adaptações da Marvel para o cinema, tentar montar uma frase conexa em inglês e demonstrar que não entende muito sobre o que sua própria empresa faz.
Infelizmente, o documentário também tem seus defeitos. Causa estranheza o fato de Jim Steranko aparecer dizendo que foi o responsável por trazer o surrealismo e o expressionismo para os quadrinhos, quando Will Eisner já era expressionista pelo menos 25 anos antes e o surrealismo corria solto nos quadrinhos de terror. A edição e a trilha sonora também não são das mais agradáveis, com vários excessos e jeito de que não levam o tema a sério.
Mas o principal problema é a desconsideração com praticamente todos os quadrinhos fora da DC ou da Marvel Comics. Ok, é um documentário sobre super-heróis nos quadrinhos, mas os quadrinhos independentes e alternativos são totalmente ignorados e o espectador é levado a acreditar que todos os quadrinhos americanos têm como tema os super-heróis. Faltou uma explicação mais aprofundada.
De qualquer forma, vale a pena sentar e ouvir aquele pessoal contar suas histórias, montando um quadro que demonstra a importância dos quadrinhos na cultura pop americana em todo século XX e imaginando o que vai acontecer no século XXI. Ver Frank Miller rindo ao responder se os super-heróis vão sobreviver ao novo século já vale o show.
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