Arte/Omelete

Séries e TV

É hora de conhecer (e acreditar) em Vai Na Fé, nova novela das 19

Estivemos na festa de lançamento da nova novela e contamos para vocês o que esperar dessa trama (e tem até vídeo de José Loreto se apresentando).

16.01.2023, às 10H21.
Atualizada em 16.01.2023, ÀS 10H56

Em algumas das coletivas sobre o lançamento da nova novela das 19 horas, Vai Na Fé, a autora Rosane Svartman explicou que a ideia para a criação da trama surgiu durante os grupos de discussão de sua outra novela, a ótima Bom Sucesso. Rosane notou que grande parte das pessoas que formavam os grupos eram evangélicas, o que lhe acendeu uma espécie de alerta: apesar de a TV Globo não ser nem meramente assumida como uma opção para a maioria dos integrantes dessa comunidade religiosa, ainda existe um público evangélico que não se sente representado nas novelas da emissora.

Se esse anseio realmente existir, eles têm razão. Durante as poucas vezes em que evangélicos surgiram nas novelas globais, eles foram direcionados a coadjuvantes e que geralmente eram castradores e moralistas. As tramas de Aguinaldo Silva, principalmente, sempre tinham beatas católicas meio malucas, que, de certa forma, vibravam numa frequência parecida. Minha primeira lembrança de um personagem evangélico em novelas foi em 1991, com Barriga de Aluguel, de Glória Perez; onde Leonardo Villar vivia Ezequiel, o pai de Clara (Claudia Abreu), a personagem que aceitava ser a barriga de aluguel do título.

Seu Ezequiel era o exemplo mais cabal do fanático religioso (de qualquer religião, aliás). Controlador, prepotente, manipulador e, é claro, hipócrita. Vestindo o figurino fechado e carregando uma bíblia, ele condenava tudo e todos ao inferno e não tinha nem 1% de razoabilidade. Naquele ano de 1991, os evangélicos surgiam para a mídia a passos de tartaruga e Glória – que naquela época era mesmo uma autora à frente de seu tempo – contribuiu para construir uma imagem quase cristalizada dessa comunidade. A palavra “crente” virou uma espécie de bordão pejorativo, devidamente eternizado por Fernanda Torres em sua entrevista no Roda Viva.

Com o tempo, os evangélicos se proliferaram vertiginosamente e com a proximidade da Globo com pautas progressistas, a atenção a esse núcleo foi se diluindo ainda mais, sobretudo quando a Record se tornou propriedade de Edir Macedo e foi construindo sua reputação como a “casa dos cristãos”. Todos aqueles que consideravam a Globo um perigo para os valores tradicionais migraram para a Record e lá encontraram uma dramaturgia preparada para recebê-los, com histórias bíblicas adaptadas burocraticamente, sem risco de problematizações.

Rosane Svartman sentiu-se compelida a situar sua protagonista dentro desse universo, que é, sim, uma realidade substancial nas periferias e subúrbios do país (onde a personagem está situada). Contudo, me parece que as pessoas que fazem parte desse nicho e que estão ligadas na Globo, assim permanecerão; e que as que não estão, jamais mudarão de ideia simplesmente porque a protagonista se diz evangélica. Ainda é cedo para dizer o apelo que a novela terá com esse público, mas é muito importante que esse não seja um pano de fundo superficial, banalizado; e que não represente a barreira que a protagonista precisa vencer para ser “livre”; o que, pela sinopse, já é ligeiramente sugerido.

Vai Na Fé

Sheron Menezzes vive Sol, que ganha a vida vendendo quentinhas e tem uma rotina de família e de canto aos domingos, na igreja. Na juventude, Sol costumava ir escondida a bailes funks e viveu uma paixão com Benjamin (Samuel de Assis). Contudo, ela se casou com Carlão (Che Moais). O destino, então, a coloca por acaso numa apresentação do decadente cantor Lui Lorenzo (José Loreto); e quando uma de suas backing vocals tem um problema, Sol acaba topando ocupar a posição. É claro que ela começa a funcionar no palco e o conflito se forma.

Divulgação

Ao mesmo tempo em que precisa do dinheiro que as apresentações lhe trazem, cantar na noite não é exatamente o tipo de trabalho que sua família vai apoiar. Além disso, Sol acaba reencontrando Benjamin e vive sendo cortejada por Lui, o que forma um quadrilátero amoroso que complica a vida da protagonista. Há a tensão familiar, moral, religiosa... Rosane Svartman se colocou numa situação em que muitas coisas podem ser representadas de maneira controversa; de como a religião entra nessa receita até o fato de José Loreto ser o galã divertido que com meia dúzia de cenas vai fazer o público esquecer que os outros dois existem. Rosane não tem um histórico exatamente justo nesse sentido. Em Bom Sucesso, o personagem de David Junior era constantemente antipatizado e, de fato, nunca teve a menor chance com a protagonista de Grazi Massafera.

Na festa de lançamento de Vai na Fé, o núcleo central era formado por nomes mais populares como Renata Sorrah (que viverá a mãe de Loreto), Emílio Dantas (que viverá o vilão central) e Carolina Dieckman (que viverá a esposa de Emílio). Entretanto, essa será uma novela dominada por um elenco de novas apostas, que até pode ser encabeçado por Mel Maia e Bela Campos, mas que se expande bem além, numa clara referência à boa resposta que Rosane teve das tramas adolescentes de Bom Sucesso.

A novela ainda falará de terapia holística, relações abertas, cultura influencer, depressão, mundo das fofocas de celebridades, diferenças entre classes sociais e por aí vai... A autora sabe bem como manter a atmosfera de comédia romântica de suas novelas, em perfeita harmonia com pautas importantes, de forma elegante e inteligente. Essa é a receita necessária para afastar o horário das 19 da completa irrelevância em que Cara e Coragem o colocou. É hora de torcer a favor, ungir a novela com nossa boa vontade e acreditar que as boas intenções encontrarão sintonia com a execução do trabalho. Ir na fé é só o que podemos fazer no momento.

Está definido...

Divulgação

... que José Loreto tem a chance de viver um personagem ainda mais bem-sucedido que o Tadeu de Pantanal. Lui Lorenzo é engraçado, abusado e sedutor. Durante a festa de lançamento da novela, Loreto se apresentou no palco com duas canções produzidas para a novela e foi um verdadeiro sucesso. Vocês podem conferir esse momento no vídeo logo abaixo. A festa, aliás, foi incrível, com um show de Negra Li que merecia ter sido televisionado para o mundo. 

Está a definir...

Divulgação

... a razão pela qual a equipe responsável pelo layout da novela criou um logotipo que deve ser o mais preguiçoso da história da TV Globo. A fonte usada para o título Vai Na Fé é idêntica ao outro grande preguiçoso do horário, Verão 90. Para coroar a chatice dessa abordagem, só mesmo se a abertura for outra animação hipercolorida ou caleidoscópica (e não, não estou dizendo isso só porque queria a caixinha de som com a logo da novela, que foi enviada para alguns jornalistas e influencers e não veio para mim).