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Emmy 2022 mostra que há muita televisão para pouco espaço de reconhecimento

Premiação deixou vários nomes de fora em sua mais recente edição

12.07.2022, às 17H50.
Atualizada em 12.07.2022, ÀS 18H18

Os membros da Academia de Artes e Ciências Televisivas enfrentaram seu próprio Round 6 para escolher os indicados da 74.ª edição dos prêmios Emmy, que divulgou nesta terça-feira (12) os finalistas: graças ao recorde absoluto de inscrições, com mais de 754 programas pleitando por vagas na premiação, o dó e a piedade ficaram de lado para montar a lista de nomeados. Com isso, cartas marcadas (This Is Us, black-ish e Insecure) tiveram que se despedir sem qualquer cerimônia graças à abundante onda de “novas séries imperdíveis” que brotaram, praticamente, em todas as semanas durante o último ano — sem mencionar o retorno de títulos que se ausentaram devido à pandemia do novo coronavírus (como Succession e Ozark).

Na categoria de comédia, a briga deve ficar, mais uma vez, entre Ted Lasso e Hacks, que receberam 20 e 17 indicações, respectivamente. O único nome da lista que parece estar à altura é Only Murders In The Building que, assim como Hacks, também recebeu 17 nomeações. Mas o que atrapalha as chances da estreante de abocanhar o prêmio é o fato de sua estrela, Selena Gomez, ter ficado de fora da lista de atriz — uma injustiça, já que a ex-Disney consegue segurar a barra, mesmo dividindo a cena com duas lendas-vivas, Steve Martin e Martin Short — mostrando que a Academia não comprou 100% os esforços da série.

Quem também merecia mais destaque aqui, mas teve que se contentar com a lanterninha, foi Abbott Elementary, com apenas 7 indicações — o menor número entre as indicadas da seção cômica. Criada, escrita e estrelada por Quinta Brunson (agora, detentora do título de primeira mulher negra a ser indicada como produtora, atriz e roteirista em uma comédia), o título retrata e satiriza as dificuldades da educação pública nos Estados Unidos — uma temática muito mais importante e pontual do que a administração de um time de futebol, digamos. Com menos chances que as demais, Abbott Elementary também é a única série da TV aberta indicada às principais categorias da edição.

No lado dramático, o que seria a grande disputa da noite foi encerrada antes mesmo de começar. Isso porque Succession, da HBO, desbancou qualquer chance que Round 6 tinha de sair como vitoriosa em melhor série. Primeira favorita do ano, a aposta certeira de Hwang Dong-hyuk fez história e se tornou a primeira produção não falada em inglês a figurar entre a lista de títulos dramáticos. Mas mesmo com todo o esforço da Netflix e todos os bilhões investidos em ações de marketing para divulgar a “corrida maluca” sul-coreana, a produção apareceu com apenas 14 indicações contra as 25 abocanhadas pelo clã da família Roy. Piorando o cenário para Round 6, ela não ficou nem em segundo lugar entre os nomeados em drama, que, surpreendentemente, foi de Euphoria, com 16. Enquanto isso, Pachinko, belíssima produção da Apple TV ficou totalmente de fora, mostrando que, aparentemente, havia apenas espaço para uma atração internacional.

Se os membros da Academia concentraram seus esforços em tentar distribuir bem a atenção entre novas séries e seus gostos adquiridos, eles simplesmente fecharam os olhos e votaram aleatoriamente na categoria de minissérie. Alguém pode explicar como The Staircase ficou de fora da lista final, mesmo indicando Colin Firth e Toni Collette? (Isso porque não vou comentar o verdadeiro crime: a esnobada de Juliette Binoche, também pelo projeto). Ou como Inventando Anna, com menos apelo crítico e boa recepção da indústria, passou a perna em Maid, e ganhou espaço na categoria?

Dentre todos os títulos que deram o ar da graça nessa seção, o único acerto da Academia foi o amor para The White Lotus, da HBO. A crônica sobre falta de autoconsciência dos ricos em um resort recebeu 20 indicações, mais do que qualquer de seus outros oponentes. Curiosamente, The White Lotus é a única indicada da categoria que representa uma trama original, enquanto as demais são adaptações de documentários, livros ou histórias reais.

No começo do texto, mencionei o esforço hercúleo que os votantes do Emmy tiveram que fazer para selecionar os finalistas do ano. Sim, estamos em uma era com abundância televisiva, com mais qualidade que nunca nas telinhas. Mas, no geral, as indicações desse ano decidiram contemplar apenas um número bem reduzido de séries em todas as categorias, não dando espaço para nenhuma outra. Se antes, produções mais obscuras, ou com pouca audiência, como The Wire, ficavam de fora da grande festa, mas ainda conseguiam cavar um espacinho em uma categoria ou outra, como roteiro, por exemplo, este ano, simplesmente não houve oportunidade — ou força de vontade de Academia — para distribuir seu amor para todo mundo.