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Séries e TV

Entrevista

Eu, a Avó e a Boi | Conheça a série do Globoplay inspirada por thread no Twitter

Escrita por Miguel Falabella, seriado estreia ainda esse ano na plataforma digital da Globo

22.09.2019, às 11H16.

Eduardo Almeida (Eduardo Hanzo, no Twitter) achava que aquele dia na padaria seria só mais um esperando o pão ficar pronto. Para matar o tempo, ele resolveu fazer uma “thread” (sequencia de tweets sobre o mesmo assunto). O tema escolhido por Eduardo foi a longa rivalidade entre sua avó e uma vizinha, que é citada por seu apelido “boi”. A suculência dessa história toda está em toda parte, inclusive na razão pela qual a tal vizinha não tem um nome próprio: “Boi é o apelido da vizinha dado por minha avó. Até lá pelo meio dos anos 90 minha avó chamava a vizinha de A Vaca, mas lá por 1996 minha vó decidiu que isso era muito machista e que tudo tinha limites. E ai A Vaca foi renomeada para A Boi”, conta ele na sequência de mensagens.

Os tweets se tornaram virais na rede social e pararam nas mãos da autora Glória Perez que, na busca por novos projetos dramatúrgicos, considerou a história boa o suficiente para se tornar uma série cômica. Toda a história inacreditável da rivalidade entre as duas mulheres se encontrava com a maneira igualmente inacreditável com a qual aquela situação aparentemente casual se tornou um contrato. “Imagine, eu moro tão longe que parece a Venezuela” – Disse Eduardo na nossa conversa sobre a produção – “e de repente eu estou num avião indo encontrar Gloria Perez e Miguel Falabella”.

Falabella, inclusive, chegou ao projeto como uma opção partida das primeiras conversas entre Perez e Almeida. O agora cocriador da série explica como essa dinâmica aconteceu: “Miguel escreveu a redação final, eu participei da colaboração. Ele escreveu os dois primeiros”. Sobre a interação com o astro, Eduardo completa: “Sabe aquilo que dizem: Não conheça seus ídolos porque você pode se decepcionar? Então, ele foi maravilhoso, era tudo que eu esperava, sempre disposto a ouvir, discutir ideias...”. Eis então, que Vera Holtz e Arlete Salles deram vida a Yolanda e Turandot, respectivamente. Na série, porém, o protagonista Roblou (Daniel Rangel) é neto das duas.

As mudanças não param por aí. A história será ambientada em Madureira e as duas famílias – da Boi e da Avó – vivem separadas por uma vala na rua Tudor Afogado. Ao longo de 12 episódios o mundo da série vai sendo preenchido pelos personagens adoravelmente absurdos que sempre saem da mente de Falabella: Norma (Danielle Winits) e Celeste (Giovana Zotti), filhas de Turandot; Marlon (Magno Bandarz) e Montgomery (Marco Luque), filhos da Boi; Orlando (Otavio Augusto), dono de um suspeito brechó da região; Cabello (Edgar Bustamante), proprietário da lanchonete que é ponto de encontro de todos; Seu Rocha (Alessandra Maestrini), a detetive que cobre a área, entre tantos outros.

Uma das grandes expectativas acerca da produção está justamente na maneira como Holtz e Sales personificarão as rivais. “Conversei com elas”, diz Almeida, “Mas achei que elas deviam ter liberdade de criação”. No primeiro semestre, o jovem esteve nos Estúdios Globo para visitar os sets da série e ficou muito emocionado com o resultado palpável e concreto de algo que começou como uma “conversa de padaria”. Em meio a um momento criativo tão voltado para remakes, reboots e readaptações, a busca por material original começou a ultrapassar certas fronteiras que antes pareciam intransponíveis, sobretudo para a Globo, que somente nos últimos anos começou a abrir espaço criativo para novos autores em suas novelas (antes presas em loopings com os mesmos nomes). A perspectiva de encontrar novas e boas histórias em contextos mais plurais é bastante animadora.

Falabella já mostrou talento para discutir assuntos tensos com sensibilidade e humor, como aconteceu no Irajá de Pé na Cova, e isso deve se repetir aqui. A rivalidade entre as duas vizinhas não deixa de ser uma história de ódio, mas Eu, a Avó e a Boi provavelmente vai escolher falar do que resiste a ele. Será uma história sobre tudo de melhor que pode surgir do rancor, uma história sobre um novo e bem-vindo tipo de esperança.