Sofia Vergara como Griselda (Netflix/Divulgação)

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Entrevista

Griselda | Sofia Vergara explica por que tornou a traficante tão cativante

Atriz faz paralelo entre a traficante e ela mesma durante entrevista ao Omelete

26.01.2024, às 12H00.

Em 2015, quando a terra dos serviços de streaming era completamente dominada pela Netflix, a empresa lançou a série Narcos, uma premiada produção sobre a vida do notório narcotraficante Pablo Escobar. O título rapidamente se popularizou no Brasil — especialmente pelo fato de ser estrelado pelo baianíssimo Wagner Moura, além dos astros Pedro Pascal e Diego Luna, e seu sucesso ampliou o olhar latino sobre produções policiais.

Os números da série garantiram a criação de outros títulos semelhantes, como o derivado Narcos: México e, agora, a minissérie Griselda, que estreia nesta quinta-feira (25) e conta a história da criminosa Griselda Blanco, vivida por Sofía Vergara. Na produção, dirigida por Eric Newman, criador de Narcos, vemos como a criminosa montou um dos cartéis mais lucrativos da história enquanto criava seus filhos sozinha. Mas em um universo amplamente explorado como o narcotráfico latino-americano, como diferenciar Griselda de suas antecessoras?

Para manter a originalidade sem abandonar o espírito consolidado em Narcos, a minissérie concentra seu olhar no lado familiar da Poderosa Chefona. Detalhes sobre a produção da cocaína, divisão de territórios e os segredos do tráfico ficam em segundo plano. Em vez de apostar no feijão com arroz das “narcosséries”, a produção destaca o lado mãe da personagem, colocando-a muitas vezes no papel de vítima e mostrando as como ter uma mulher no comando do narcotráfico era algo quase impossível.

Ao Omelete, Vergara explica que foram essas características de Griselda que chamaram sua atenção.“Nunca havíamos visto alguém assim, uma mãe criando quatro filhos e se tornando tão impiedosa quanto os piores traficantes da época”, diz ela, também produtora executiva da atração. Vergara conta ainda que se enxergou em alguns aspectos de Griselda e que a traficante já despertava seu interesse há muito tempo: “sou mulher, colombiana e imigrante. Fui mãe solteira, tenho muitas coisas em comum com ela. Eu vivia na Colômbia naquela época e havia coisas que me inspiravam, como o fato de uma mulher, aparentemente inofensiva, se tornar algo que eu não conseguia compreender”.

Essa afinidade entre atriz e personagem, no entanto, também é passada para a tela e pode levar o espectador a se afeiçoar com a traficante, como assume a atriz. “Isso foi um problema para mim durante a pesquisa sobre Griselda, porque eu me pegava admirando alguns aspectos dela e precisava lembrar que ela não era uma boa mulher e que não deveria glorificá-la”, conta. Ainda assim, a história de Griselda era ago irresistível para a Vergara, que se via constantemente admirada diante da personalidade da criminosa. “Isso me interessava muito, porque Griselda era inteligente, corajosa, e acredito que se ela tivesse direcionado toda aquela energia para o bem, poderia ter sido presidente da Colômbia ou presidente de uma multinacional”, pondera.

Encantada pelo estilo bossy da traficante colombiana e apegada aos aspectos em comum entre elas, Vergara também pôde concluir que a trajetória de Griselda foi uma história de amor de uma mãe pelos filhos. Para ela, inicialmente, a narcotraficante “queria sobreviver ao terrível abuso do marido e ao que sofreu quando era criança”. “Acredito que ela queria salvar seus filhos e não tinha outras maneiras além das que conhecia naquele negócio”, aponta. E mesmo tendo protagonizado uma história que mostra o terror causado pela personagem, ela afirma: “Quero acreditar que, em algum momento, ela pensou em sair dessa vida e endireitar seu caminho, mas não pôde, e isso é o interessante da personagem, vê-la tomar decisões erradas e terminar daquele jeito.”

Mas Griselda não foi a primeira personagem com quem Sofia Vergara se identificou. Você provavelmente já ouviu o nome da atriz graças a sua icônica personagem Gloria, da sitcom Modern Family. Assim como a sua intérprete, Gloria é uma imigrante e trabalhou muito para viver nos Estados Unidos e cuidar do filho; porém, Vergara já não vê tantas semelhanças entre a personagem e Griselda. “Sim, são colombianas, imigrantes e mulheres, mas Gloria Pritchett era uma mulher boa com uma personalidade forte, como nós, latinas, protetoras”, diz. “Embora eu acredite que Gloria poderia ter matado alguém para defender seu filho, ela não faria o mesmo apenas por poder, dinheiro ou ego”, continua.

E já que falamos de Gloria, vale lembrar que a personagem tinha sua pronúncia do inglês constantemente questionada ou transformada em chacota na sitcom estadunidense. Nesse aspecto, Griselda faz justiça por sua conterrânea e traz a maioria dos diálogos em espanhol, na versão original, fazendo com que os americanos leiam legendas. “Bom, sempre é um risco, mas eu queria que a série fosse realista e queria trabalhar com os melhores atores que temos”, explica Vergara sobre a decisão. “As cenas tinham que ser realistas, e um grupo de traficantes colombianos sentados à mesa não falaria inglês. Então, logicamente, em algumas cenas falava-se inglês e em outras, espanhol, e fizemos 50-50”, continua.

Apostando no lado maternal de Griselda Blanco, a minissérie da Netflix aborda vários temas sociais como machismo, vício em drogas e proteção às crianças e adolescentes, mas sem deixar de lado o tiro, porrada e bomba literal das tramas policiais.

Estrelada e com produção executiva de Sofía Vergara, a minissérie é do mesmo produtor de Narcos e Narcos: México, Eric Newman, que dirigiu os seis episódios de Griselda ao lado de Andrés Baiz. No elenco, também estão Alberto Guerra (Narcos: México), Christian Tappan (Pablo Escobar, o Patrão do Mal), Martín Rodríguez (O Tempo e o Vento), Juliana Aidén Martinez, Vanessa Ferlito (NCIS) e Karol G, em sua estreia nas telas.

Griselda estreia com seis episódios na Netflix nesta quinta-feira (25).