Pouca gente sabe, mas Gustavo Kuerten foi aluno da faculdade de artes cênicas da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) após se aposentar do tênis, no final dos anos 2000. Apesar dessa aproximação do teatro, no entanto, o atleta mais conhecido como Guga ainda mantém que a parte mais difícil de sua trajetória foi lidar com a atenção da mídia, especialmente após as primeiras grandes vitórias internacionais.
“Você viu no documentário: falar é a parte mais complicada”, brincou ele na coletiva de lançamento da série documental Guga por Kuerten, acompanhada pelo Omelete. “Quando estava fazendo esse projeto, precisei olhar para a carreira deslocando a pessoa do personagem, da façanha. Foram dois anos de entrevista, e quando cobrimos aquele momento dos grandes campeonatos, do número 1 do mundo, eu realmente fiquei impressionado em observar e lembrar da empolgação com o qual o Brasil recebeu tudo aquilo. Aí virei personagem mesmo, tudo fica mais grandioso, fantástico, inacreditável”.
Entre 1997 e 2001, Guga venceu três vezes o torneio de Roland Garros, um dos mais importantes do circuito internacional, ganhou jogos contra lendas do esporte, como Pete Sampras e Andre Agassi, e foi número 1 do mundo por 43 semanas. Em Guga por Kuerten, esse período triunfante é temperado por influências decisivas, como o treinador Larri Passos, a mãe Alice Kuerten, e o pai Aldo Kuerten, que morreu quando o tenista tinha nove anos de idade.
“A distância facilita eu olhar para tudo isso e reverenciar ainda mais as pessoas que estavam do meu lado”, comentou Guga na coletiva. “O pai foi o primeiro a trazer a raquete. Hoje eu olho e penso: ‘Por que? Como ele teve essa ideia?’. E daí tivemos a perda dele no caminho - depois disso, como que continuou dando certo? Por causa da mãe, do Larri. São esses desvios que fazem a diferença. Eu gosto de estar próximo da minha família sempre, da torcida deles, e vem muita emoção na hora de recapitular esses momentos. É difícil falar disso para a câmera”.
De certa forma, portanto, Guga por Kuerten se mostrou uma oportunidade para o atleta observar o quadro maior de sua carreira: “Pra mim, no momento, o tênis era algo que eu fazia porque era apaixonante, divertido - doloroso também, várias vezes pelo caminho, mas a gente aprendeu a gostar até dessa parte. A dor fazia a gente crescer. Então, a parte mais fácil, nesse caminho todo, foi estar na quadra, enquanto dar a entrevista foi difícil. Lembro da primeira que fizemos para este projeto, do diretor tentando me fazer falar alguma coisa. Eu não sabia por onde começar. É muito mais difícil ser ator”.
Os cinco episódios de Guga por Kuerten já estão disponíveis para streaming no Disney+.