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Novos Spartans, muito mais ação: 8 mudanças de Halo para a segunda temporada

Visitamos o set da produção e trazemos detalhes exclusivos dos novos episódios

25.01.2024, às 06H00.
Atualizada em 08.02.2024, ÀS 10H02

Kiki Wolfkill, produtora de Halo, compara a experiência de fazer a primeira temporada da série com a de criar a primeira versão de um jogo”. “Antes mesmo de finalizar o trabalho, eu já tinha uma lista enorme de coisas que queria fazer diferente, ou melhor, na segunda temporada”, comentou ela em entrevista ao Omelete durante visita ao set de Halo, em Budapeste (Hungria), em março de 2023.

Wolfkill sabe muito bem do que está falando - antes de se envolver com a série do Paramount+, ela trabalhou por mais de uma década na 343 Industries, responsável por desenvolver os jogos da franquia Halo (atualmente, a produtora ocupa o cargo de chefe de expansão de propriedades intelectuais na Microsoft, empresa-mãe da 343). Ela parecia em casa enquanto conversava com o Omelete dentro de um dos gigantescos hangares do Korda Studios, ao lado de uma réplica em tamanho real da nave de Soren (Bookem Woodbine), um cenário impressionante com suas superfícies metálicas robustas, correntes soltas e pintura vermelha e preta de inspiração soviética.

Eu tenho muito orgulho do que entregamos na primeira temporada”, declarou ela. “Mas nossa inexperiência às vezes fez com que ficássemos muito focados em execução e técnica, enquanto dessa vez pudemos nos equilibrar melhor para não perder de vista a visão holística da história, dos personagens e de todo o resto que envolve o nosso universo”.

Esse equilíbrio entre exaltar o que foi feito na primeira temporada e expressar como os novos episódios se afastam dela é uma constante entre a equipe criativa de Halo. O diretor Otto Bathurst foi ainda mais franco nesse sentido: Acho que muito do que fizemos ali [na primeira temporada] funcionou bem... outras coisas, nem tanto. Sou o primeiro a admitir isso. A parte mais divertida de fazer essa segunda temporada foi construir por cima desses erros e acertos, aproveitar essa fundação para seguir adiante”.

Com o retorno de Halo se aproximando - os dois primeiros episódios da segunda temporada chegam ao Paramount+ em 8 de fevereiro - o Omelete reuniu tudo o que descobrimos durante a visita ao set para te contar o que esperar. Vem com a gente, Spartan!

1. Menos episódios

A primeira mudança é a mais óbvia: ao invés de nove episódios, a segunda temporada de Halo contará com oito. Segundo Wolfkill, não se trata de um mandato prévio do Paramount+, mas sim de uma decisão criativa: “Começamos pensando em fazer nove episódios de novo, mas, conforme estávamos escrevendo os roteiros, percebemos que oito nos davam um ritmo melhor para a história que queríamos contar. Foi uma decisão orgânica”.

Quem bateu o martelo, no caso, foi David Wiener, o novo showrunner de Halo. O roteirista, que acumula créditos em séries como The Killing, Fear the Walking Dead e Homecoming, trouxe uma filosofia diferente para a trama épica de Halo, que se espalha por múltiplos planetas, e tem dezenas de personagens divididos em núcleos diferentes.

No primeiro ano, era como se fosse uma troca - a sua história desaparecia por um episódio todo, e depois você tinha um capítulo quase inteiramente dedicado a você. David tentou costurar melhor essas tramas, juntá-las de maneiras interessantes. Eu estou em todos os episódios dessa vez!”, nos contou um integrante do elenco da série, que não vamos nomear para evitar spoilers mais espinhosos.

O que podemos dizer, no entanto, é que assistimos às filmagens de duas cenas da temporada durante nossa visita a Budapeste, e que ambas as sequências trazem encontros entre personagens que não se cruzaram no primeiro ano - incluindo Cortana (Jen Taylor) e Makee (Charlie Murphy), que compartilham um diálogo tenso dentro de uma nave do Covenant.

2. Mais espaço para coadjuvantes

Bastidores das filmagens de Halo, 2ª temporada (Divulgação/Paramount)

Talvez até como consequência dessa abordagem narrativa, Halo abrirá muito mais espaço para seus personagens secundários brilharem na nova temporada. Nós sempre soubemos que tínhamos um elenco incrível nas nossas mãos, mas essa segunda temporada foi uma revelação mesmo assim”, definiu Kiki Wolfkill.

Os maiores beneficiados disso parecem ser os colegas de esquadrão de Master Chief (Pablo Schreiber) - os Spartans Kai (Kate Kennedy), Riz (Natasha Culzac) e Vannak (Bentley Kalu) passarão por uma crise existencial” nos novos episódios, agora que a validade estratégica do programa militar do qual fazem parte está em questionamento após o afastamento da Dra. Halsey (Natascha McElhone) da UNSC. Eles precisam repensar quem são como soldados e, francamente... como seres humanos”, disse a produtora.

No caso de Riz, esse processo ainda é complicado pelo fato de que ela foi gravemente ferida na batalha final da primeira temporada. A jornada da personagem surgiu como destaque do novo ano na boca da maioria dos atores e da equipe de Halo com quem o Omelete conversou durante a visita ao set. O que significa para uma Spartan perder a sua habilidade física? Eu diria que, enquanto o primeiro ano é sobre encontrar sua humanidade, o segundo é sobre definir a natureza dessa humanidade, o que fazer com ela”, arrematou Wolfkill.

Mas também sobra espaço para Soren, que passa a questionar qual é seu próximo passo depois de alcançar tudo aquilo que ele sempre quis”. Nas palavras do ator Bookem Woodbine: Quando o reencontramos, ele está no seu auge - mas, como muitas pessoas que chegam nessa posição vitoriosa, ele começa a sentir que ainda está faltando alguma coisa. A jornada dele é sobre descobrir o que é essa coisa”.

E quem acha que o protagonista Pablo Schreiber ficou magoado por perder espaço nessa segunda temporada não poderia estar mais errado. Definido como um líder naturalpor todos os colegas de elenco, e responsável por manter o clima leve no set apesar das filmagens desafiadoras, Schreiber declarou-se mais do que feliz em dividir os holofotes. Pude ver os meus amigos do elenco brilhando cada vez mais. São pessoas que conheço já há três ou quatro anos, sou muito próximo deles. Fico muito feliz que eles puderam mostrar seus talentos”, comentou.

3. Madrigal ficou para trás

O planeta de Madrigal em Halo (Reprodução)

Não pisamos em Madrigal nessa temporada”, cravou o diretor Otto Bathurst em entrevista ao Omelete, confirmando que o planeta natal de Kwan (Yerin Ha), cenário de uma das subtramas mais criticadas da primeira temporada, não faz mais parte da história da série. Nós fizemos mudanças bem grandes nessa temporada, e aplicamos algumas viradas que eu acredito que as pessoas não estavam esperando. Isso é divertido para mim, como contador de histórias”.

Não dá para esperar, no entanto, que Halo ignore completamente os eventos que transpiraram em Madrigal durante o primeiro ano. Bathurst garante que as consequências desses eventos serão profundamente sentidas” na nova temporada, principalmente durante os episódios que ele dirige (a saber: 2x05 e 2x06), adiantando ainda que os fãs podem esperar uma morte impactante nesses capítulos que assinou.

O Omelete apurou com integrantes do elenco da série que o planeta de Madrigal foi destruído (explodido pelos ares”, como definiu uma atriz) durante os seis meses que se passaram no pulo temporal entre o fim da primeira temporada e o início da segunda. Isso deixa alguns personagens à deriva, e empurra outros para trajetórias surpreendentes.

A escrita de David é muito ligada a temas como as consequências da guerra, a monstruosidade da guerra, como ela afeta civis e como ela cria refugiados”, adiantou um integrante do elenco. Muito disso está refletido justamente nessa história [que se segue à destruição de Madrigal]”.

4. A chegada dos Spartan-III

Os Spartan-III nos jogos de Halo (Reprodução)

Por falar nas consequências da guerra, digam boas-vindas ao programa Spartan-III, um velho conhecido dos fãs de Halo, que chega à série junto com o seu idealizador, o Coronel James Ackerson (Joseph Morgan). A ideia da UNSC com essa nova estirpe de guerreiros,  assim como acontece nos nos games, é produzir versões mais baratas e mais numerosas dos soldados de elite do programa Spartan-II, do qual Master Chief e cia. fazem parte. Eles são, em suma, bucha de canhão.

Ackerson é um personagem que eu sempre achei fascinante, então agarrei a oportunidade de explorá-lo melhor nessa temporada”, confessou Kiki Wolfkill. A ideia por trás dos Spartan-III, desses soldados considerados dispensáveis pela UNSC, é bem sombria - e, quando você conhece as pessoas que estão por trás dos capacetes, isso abre espaço para oportunidades dramáticas incríveis, além de mostrar com muita clareza o estado da guerra entre a humanidade e o Covenant”.

A introdução dos Spartan-III, é claro, implicou no desenho de novas armaduras, muito mais leves do que aquelas carregadas por Pablo Schreiber e seus companheiros de esquadrão. O Omelete visitou a oficina que produz as armas e trajes do universo de Halo, onde topamos com paredes enormes cobertas de referências visuais dos jogos, além de caixas e mais caixas de modelos de acrílico em estados diferentes de finalização. Nas palavras do designer de adereços Liam Byrne, a chave para a criação dos novos soldados foi equilibrar fidelidade ao material base e a praticidade de um traje que funcione na vida real - e que, portanto, tira inspiração de materiais militares reais.

Wolfkill completou que a introdução dos Spartan-III é só um dos muitos exemplos das transformações que ocorrem dentro da UNSC nessa segunda temporada: “No primeiro ano, fizemos muito trabalho de preparação e apresentação desse mundo para o público. O mais legal agora, portanto, é que já temos essa base para nos apoiar, então podemos mostrar como a UNSC e o programa Spartan mudaram após os últimos eventos da série - e são sistemas políticos complexos que se desenvolvem ali durante o período de guerra”.

5. Mais cenas no Covenant

Set no Korda Studios reproduz nave do Covenant (Caio Coletti/Omelete)

E se a UNSC terá um desenvolvimento mais detalhado na segunda temporada, pode apostar que o outro lado da guerra também terá seu espaço. Fãs de Halo sabem que alguns dos jogos se esforçam para mostrar o ponto de vista do Covenant, a raça de alienígenas cujo envolvimento na disputa bélica contra os humanos ganhou tons vagamente religiosos na primeira temporada - até porque nosso principal contato com eles foi através dos Hierarcas, também conhecidos como Altos Profetas, os líderes do governo teocrático da espécie.

Dessa vez, no entanto, conheceremos mais a fundo dois personagens que fazem parte das forças militares do Covenant. O diretor Otto Bathurst aposta, inclusive, que eles se tornarão favoritos dos fãs: “No primeiro ano, eles eram vilões genéricos. Os soldados eram meio que sem rosto e sem personalidade. Dessa vez, o inimigo é muito mais caracterizado, e por isso muito mais acessível.

Em Budapeste, o Omelete visitou um cenário enorme que reproduz uma nave do Covenant, completo com corredores sinuosos iluminados em neon e povoados por criaturas medonhas construídas em látex, além de um salão circular bastante espaçoso, ladeado por estações de controle vagamente fálicas. Foi certamente o set mais épico no qual entramos, e esse investimento pesado dá a entender que a narrativa do Covenant será importante na trama.

Pablo Schreiber, inclusive, definiu essa exploração dos vilões como uma de suas partes favoritas da temporada toda: Vamos entrar na mentalidade deles através desse pareamento [de personagens]. Isso é bem marcante dos jogos, inclusive: não acho que alguém chegue a torcer pelo Covenant, mas ao menos a opinião deles é expressada, a história deles é contada. É algo que fazemos nessa segunda temporada, sim, mas devo dizer que os planos para as temporadas além dessa vão ainda mais fundo nisso”.

6. Ação onipresente - e mais imersiva

Bastidores das filmagens de Halo, 2ª temporada (Divulgação/Paramount)

Um pouco antes da estreia de Halo, em 2022, Schreiber contou ao Omelete exatamente quais episódios da temporada seriam destaque pelas cenas de ação - mas essa seria uma missão muito mais difícil nesse segundo ano. Na temporada passada, nós conscientemente fizemos episódios que eram espetáculos - o primeiro, o quinto e o último. Dessa vez, temos mais cenas de ação, e elas estão espalhadas melhor entre os episódios”, declarou Kiki Wolfkill.

Otto Bathurst assinou embaixo, dizendo que, nas séries onde trabalhou anteriormente (a saber: Black Mirror, Peaky Blinders, Fronteiras do Universo e muito mais), sempre havia o que ele chama de bottle episodes - ou seja, capítulos deliberadamente esvaziados de cenas de ação, a fim de equilibrar o orçamento. Não existe isso na segunda temporada de Halo. Todos os capítulos são produções gigantescas”, apontou ele.

Não se trata só de produzir mais cenas de ação, no entanto, mas também de produzi-las melhor. Seguindo a deixa do roteiro de David Wiener, Bathurst e os outros diretores da temporada (Debs Paterson, Craig Zisk e Dennie Gordon) procuraram imprimir um tom mais brutal às grandes batalhas da trama, utilizando muita câmera na mão para colocar o espectador no chão com os Spartans e os soldados do Covenant.

Temos tanta violência maluca na TV hoje em dia, coisas realmente extremas, que se a ação não tiver um elemento pessoal nela, ninguém vai ligar”, declarou Bathurst. “Está todo mundo dessensibilizado por essas séries colossais que estão saindo todos os anos. Não importa qual truque você acha que tenha na manga, o seu concorrente tem algo maior planejado. Mas uma cena de ação muito simples pode funcionar muito bem se você faz o público se importar com o que está acontecendo”.

Schreiber define como “mais sombrio” o visual da segunda temporada. Quando você está trabalhando com ficção científica, usando armaduras de plástico que não são reais, um dos jeitos de esconder essa irrealidade é filmar as coisas de um ponto de vista mais subjetivo. Ao invés de colocar a câmera para trás, em uma posição na qual ela vê tudo objetivamente, você a coloca ao lado dos soldados, mergulhando o público naquela batalha”.

7. Mais CGI para os Spartans

Master Chief em cena da 2ª temporada de Halo (Reprodução)

Apesar dessa busca pelo realismo, Schreiber também contou que a equipe de Halo decidiu recorrer mais aos efeitos especiais quando se trata dos movimentos dos Spartans no campo de batalha. O ator confessou que, mesmo com o trabalho valioso da equipe de design para melhorar as armaduras que ele e seus colegas de elenco precisam carregar, funcionalmente, acho que é meio difícil elas se aperfeiçoarem muito mais”.

É um pedaço de plástico em cima do seu corpo, então com certeza vai limitar seus movimentos… mas o visual é incrível, e é isso que importa”, brincou. Na visita do Omelete aos bastidores, descobrimos que cada pedaço de armadura dos Spartans é produzido em duas versões pelo time de design: uma mais pesada e “realista”, para o benefício das câmeras em filmagens mais próximas, e outra bem mais leve (normalmente, de um material sintético que fica entre a borracha e o isopor) para as tomadas mais dinâmicas. 

Mesmo assim, de acordo com Schreiber, Halo recorreu à captura de movimentos bem mais nessa segunda temporada - ou seja, muitas vezes os atores “só” tinham que vestir alguns pedaços das armaduras, enquanto o CGI preenchia o restante. Eu adoraria que continuássemos nessa direção, porque assim podemos fazer cenas de ação muito mais impressionantes”, comentou ele. “E digo isso nem tanto para o meu bem! Nós fazemos muito pouco das nossas cenas de ação, ok? Deixamos os profissionais cuidarem disso, e o nosso time de dublês é incrível”.

8. Menos CGI em todo o resto

Sets no Korda Studios reproduz naves de Master Chief e Soren (Caio Coletti/Omelete)

Como o Omelete pôde verificar em nosso passeio guiado pelo Korda Studios, a diretiva de toda a produção de Halo foi deixar o mínimo possível para a imaginação dos atores. Além dos cenários já mencionados acima, acompanhamos filmagens em uma caverna modificada pela equipe com estruturas de metal e computadores futurísticos para simular uma escavação da UNSC; vimos a nave do Master Chief, ampliada em relação ao primeiro ano, um cenário com múltiplos andares e rico em detalhes, desde o vidro que cerca a cela onde Kwan foi mantida no começo da primeira temporada até as pesadas cadeiras de bordo; e andamos por uma impressionante ponte espacial enquanto os trabalhadores do set parafusavam e pintavam as decorações geométricas que formavam o cenário.

Tudo isso e muito mais está sob a supervisão do designer de produção James Foster, cujos créditos anteriores incluem Black Mirror, Warrior e Resident Evil: A Série. Trazido pelo novo showrunner David Wiener, Foster construiu um universo que o elenco define como mais tátil do que aquele visto na primeira temporada. “Toda essa conversa que trazemos sobre o tom mais sombrio da temporada só funciona por causa do design... David coloca em palavras o que quer ver, mas é James quem precisa transformar em realidade”, elogiou Pablo Schreiber.

Bookem Woodbine, o Soren, concordou: Faz a diferença ter algo em três dimensões, um apoio de verdade para sua performance dentro daquele mundo. Faz diferença você sentir o calor das explosões, ouvir o som, ver as coisas voando ao seu redor... enfim, ter aquele choque visual e sensorial. Assim, você sente que faz parte de uma encenação coesa, e percebe melhor que aquilo é o trabalho de uma equipe, em que tudo se junta no final”.

*O jornalista viajou a convite da Paramount.