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Homeland | Sétima temporada continua trabalhando as dinâmicas entre poder e mídia

Série retorna com mais provocações

19.02.2018, às 13H11.
Atualizada em 01.03.2018, ÀS 12H00

Quando olhamos para Homeland em retrospectiva, a sensação que temos é de que estamos diante de uma série que se bifurcou e parece duas mesmo sendo uma. Até o terceiro ano,  o programa estava aprisionado na figura de Brody e buscava formas de continuar aproveitando-o, prejudicando até mesmo a integridade da produção. O personagem era um americano convertido ao islã, lutando para desvendar em si mesmo a qual pátria deveria continuar sendo leal.

Anos depois, é como se Homeland (em português: pátria) tivesse tido seu conceito amplificado. Carrie (Claire Danes) trabalhou todas as questões terroristas viáveis e agora estuda outro tipo de terror: o terror midiático. A série precisou acordar... Embora as organizações terroristas ainda sejam parte preponderante do temor mundial, as dramaturgias a respeito foram entrando numa espiral de repetições desinteressantes. Homeland precisou olhar para o mundo sob uma perspectiva panorâmica, reconhecendo até mesmo no Brasil um potencial ponto de inspiração.

A queda da Presidente Dilma do poder foi cercada de teorizações sobre controle de mídia. Verdadeiras ou não, as teorias acordam para uma realidade colateral do nosso vício em redes sociais: passamos a ser construídos pelo que expomos nas redes e com isso, também provocamos uma espécie de “catequização” do nosso seguidor/leitor. O Facebook é um celeiro de verdades atribuídas e muitas delas – que não passam de mentiras tuteladas – são capazes de transformar uma nação.

Inquisição

Foram algumas dessas mentiras tuteladas que transformaram a eleição da Presidente Keane (Elizabeth Marvel) num circo de horrores. A temporada passada mostrou que o setor do governo que não queria mudanças drásticas na abordagem ao terror, conspirou para manipular a opinião pública acerca da candidata, inclusive usando Brett O’Keefer (Jake Weber), como arauto jornalístico desse propósito. Passamos toda a sexta temporada torcendo para que Keane superasse aqueles atentados físicos e psicológicos, mas não prevíamos que as polaridades voltariam a se inverter.

A vida de Carrie não está fácil nesse começo. Morando com a irmã e lutando praticamente sozinha para impedir a caça às bruxas de Keane (que se tornou uma tirana paranóica), ela voltou a ter sua sanidade questionada após usar de métodos nada convencionais para conseguir a atenção de um senador que poderia ajudá-la a conseguir libertar os 200 prisioneiros que a Presidente acusou de conspiração.

A ótima estreia mostra que Homeland ainda sabe usar sua protagonista a serviço da trama. Limpa, sem exageros e buscando coerência, a série avança com a storyline de Carrie gradativamente e embora a surpreendente imaturidade profissional da ex-agente ainda esteja ali, por vários momentos o roteiro flerta com a ideia de que as loucuras que Mathison faz para conseguir o que é necessário não tem a ver com sua doença, mas com sua completa incapacidade de respeitar regras e hierarquias. O senso de respeito de Carrie é uma terra-de-ninguém.

Se no sexto ano torcíamos pela vitória de Keane, agora passamos a odiá-la. Essa inversão é maravilhosa e enriquece muito a proposta. Decidida a demonstrar força e a se vingar, a Presidente tornou-se tudo aquilo contra o qual ela lutava e ainda não está claro se ela é só um fruto do medo ou se há algo de premeditado em suas ações. O momento final do episódio recorta bem essa ambiguidade, nos informando que podemos estar diante de uma Presidente que ainda está sendo manipulada ou de uma Presidente totalmente enlouquecida.

A tirar por esse ótimo retorno, o que Homeland pode ter para nos oferecer é um sétimo ano cheio de boa dramaturgia e principalmente: cheia de boas provocações.