Killing Eve teve uma excelente segunda temporada: além de ir bem nas críticas, o programa da BBC America teve aumento de 87% na audiência em relação ao ano um. Agora é possível definir como um sucesso, mas há alguns meses isso não era tão certeiro assim. A convite do Globoplay, o Omelete foi a Nova York no começo de abril para conversar com Sandra Oh (Eve Polastri) e Jodie Comer (Villanelle) para entender o que torna a série única e especial ao ponto de não só manter o hype do ano um, mas também aumentá-lo.
“Surtamos com a recepção”, começa Oh falando aos jornalistas. “Vocês sabem como é a televisão: é muito, muito difícil criar uma série e quase impossível de fazê-la se destacar entre as demais - especialmente agora. Isso nos deixou muito felizes!”
Killing Eve/BBC America/Divulgação
Mesmo assim, a atriz explica ao Omelete que a produção não sentiu tanto esse carinho durante a gravação da segunda temporada: “Pelo período em gravamos, [a recepção do público] ainda não tinha acontecido. Rodamos entre julho e dezembro de 2018, mas a série só estreou tarde no Reino Unido, por volta de setembro. Eu diria que ao ritmo que a temporada ia avançando, ficava cada vez mais complicado de gravar nas ruas. Muitas das cenas que fizemos no primeiro mês, como Jodie nas ruas, não poderia acontecer agora. Para as próximas temporadas, os roteiristas terão que ser muito mais inteligentes na hora de estabelecer coisas que precisam da liberdade da privacidade para funcionar”.
Mas o que faz com que Killing Eve receba tanto carinho? Uma jornalista a mesa especula sobre o subtexto LGBT e a representação de mulheres fortes, além de ter uma atriz asiática no comando, mas Oh diz que esse não é o foco do programa. “É muito complicado, mas tudo que eu e a produção da série queremos é contar algo que seja interessante e verdadeiro às pessoas que estão criando o projeto. Não penso que [a produtora-executiva] Sally Woodward ou [a criadora] Phoebe Waller-Bridge estavam pensando sobre representatividade, afinal não dá para dizer qual será o efeito disso na comunidade. Acredito que só funciona porque estamos focados em contar algo interessante.”
“Penso que esse aspecto foi tão bem recebido porque não estamos tentando forçar uma ideia ou sentimento”, complementa Jodie Comer. “Apenas aconteceu que as pessoas se identificaram e se sentiram dessa forma. É isso que é tão legal sobre a nossa série”. Isso, é claro, não significa que a série não seja escrita para retratar o relacionamento das duas personagens e, para as atrizes, a cena de esfaqueamento do ano um é a chave para entender isso: “É algo que afeta as duas mulheres de formas diferentes. Serve para entender melhor como funciona a mente de Villanelle e sua interpretação de um ato desses”, explica Comer. Oh logo complementa: “É algo que também acontece em relações amorosas! Por exemplo quando você acha que alguém gosta muito de você [...] Tem uma base simbólica já que a penetração é um ato íntimo, então Villanelle entender isso como algo íntimo não é errada. Amo brincar com esse tipo de simbolismo, e encaixar pedaços da realidade na nossa ficção ao questionar sobre as consequências.”
Vilã de Peso
É difícil imaginar que a série teria alcançado tanto sucesso sem uma antagonista complexa quanto Villanelle. Com seu jeito infantilizado, a serial killer constantemente parece entediada mas nunca deixa os demais - e nem o espectador - duvidarem de suas habilidades para matar e, claro, se disfarçar. Para interpretar alguém tão versátil assim é preciso de uma atriz a altura, e Jodie Comer não decepciona. Falando sobre os desafios da personagem, a intérprete revelou que uma coisa a assustava: os vários idiomas falados por Villanelle.
Killing Eve/BBC America/Divulgação
“Essa foi a parte que me assustou. No teste de elenco me disseram que ela falava muitas línguas mas vocês sabem como é: na entrevista de emprego, você responde sim para tudo. Aí quando os roteiros chegaram que percebi que estavam falando sério”, brincou. “Quando fiz o teste pela primeira vez me falaram que ela nasceu na Rússia, mas viveu boa parte da sua vida na França. Como ela fala muitos idiomas, seria bom que desse para identificar sua origem mas sem sotaque forte demais”. Segundo a atriz, seu processo de aprendizado foi apenas foneticamente: “Honestamente precisei de um professor de voz para as cenas em russo porque era muito, muito difícil.”
Oh ressalta a habilidade da colega: “Como uma atriz, o que Jody é encarregada de fazer é extremamente complicado. Ela é muito talentosa e tem uma audição espetacular para tirar de ouvido, é muito coragem. Haviam vezes que eu voltava para casa e tentava falar com o mesmo sotaque dela, e era só péssimo”, brincou a colega.
Era visível que Comer era o centro das atenções mas, quando questionada sobre uma possível arco de redenção para Villanelle, ela garante que isso não está nos planos. “Ela não precisa de redenção, algumas pessoas são apenas más. Acontecem algumas fagulhas de esperança que faz com as pessoas pensem ‘Ai meu deus, ela sente remorso!’, ai de repente ela faz algo que contradiz completamente essa ideia. Na segunda temporada brincamos bastante com esses momentos, mas não acredito que ela deva ser redimida, não”, conclui a atriz.
As duas temporadas de Killing Eve estão disponíveis no Globoplay.