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Séries e TV

Entrevista

Lakers: Hora de Vencer é sobre “a genialidade que criou uma máquina de dinheiro”

Em entrevista ao Omelete, John C. Reilly, Adrien Brody, Jason Clarke e grande elenco contam tudo da segunda temporada da série da HBO – e debatem se é mais difícil criar um time vencedor do zero ou mantê-lo no topo

04.08.2023, às 10H56.
Atualizada em 04.08.2023, ÀS 11H23

Os jogadores, vestindo vibrantes uniformes em púrpura e dourado, são praticamente expulsos do ginásio sob uma chuva de garrafas e pontapés. A multidão está agitada após a humilhante derrota do time deles – o todo-poderoso Boston Celtics – na primeira partida das finais da NBA em 1984.

Será esse o ápice dos Los Angeles Lakers?

É assim que começa a segunda temporada de Lakers: Hora de Vencer (Winning Time: The Rise of the Lakers Dynasty, no original), que estreia no canal pago HBO e no streaming HBO Max às 21h deste domingo (6). Quem conhece de basquete sabe o desfecho dessa história, mas o que importa mesmo é como eles chegaram lá.

Antes da greve dos atores, o Omelete conversou com parte do elenco – incluindo John C. Reilly (indicado ao Oscar por Chicago), Adrien Brody (vencedor do prêmio por O Pianista), Jason Clarke (A Hora Mais Escura) e Jason Segel (Os Muppets) – para saber os detalhes da nova leva de episódios. E o principal: se equipes esportivas podem tirar alguma lição desse relato.

Lançada em 2022, a primeira temporada da série deu o que falar. Afinal, reconta um dos momentos-chave do esporte americano: quando o empresário Jerry Buss (Reilly) comprou a famosa franquia de LA, tirando-a de uma situação para lá de ruim e criando a base do que, depois, seria chamado de “Showtime” – época que mudou para sempre o esporte praticado dentro das quadras e a forma como as coisas aconteciam foram delas.

Enquanto retrata o passado, Lakers: Hora de Vencer mantém também um olhar para o presente – usando as relações daqueles tempos para fazer um comentário social sobre aquilo que vivemos hoje.

A produção é de Adam McKay (que também assina a direção do primeiro episódio), trazendo algumas das principais características do cineasta. Ou seja, uma câmera quase documental acompanha uma realidade moldada para criar uma história envolvente. A abordagem causou certa polêmica pelo alto grau de ficção, inclusive. Alguns dos retratados na produção chegaram a reclamar publicamente da forma como são apresentados na tela.

Seja como for, vemos Buss e a sua trupe (incluindo Claire Rothman, um dos grandes nomes da promoção esportiva americana, aqui interpretada por Gaby Hoffmann) montar e dar estrutura para um verdadeiro “dream team” – incluindo jogadores como Earvin “Magic” Johnson (Quincy Isaiah), Kareem Abdul-Jabbar (Solomon Hughes) e Spencer Haywood (Chick Hearn). Juntos, eles venceram a temporada 1979-1980 da NBA.

Um exemplo perfeito para se ter no esporte. Só que não.

Na verdade, eu não acho que seja uma análise muito boa de como construir uma grande equipe, pois eles cometem muitos erros ao longo do caminho e insistem em manter quem não é bom para o moral do time e para o ego das pessoas”, comentou John C. Reilly – que vê em Lakers um retrato realista justamente por esse motivo. “Mas eu não montaria a equipe como eles montaram”, disse, aos risos.

Mantendo-se no topo

Depois de conquistarem tudo, os Lakers retornam agora como aqueles a serem batidos. A segunda temporada da série compreende os fatos de 1980 a 1984, período no qual os angelinos fizeram nada menos que três finais seguidas. O tempo em que eram considerados as “zebras” havia ficado no passado.

Nesse sentido, fica a questão: é mais difícil chegar no topo ou se manter lá?

O Brasil não conquistou títulos consecutivos [no futebol], cara. O que está acontecendo, hein?”, desafiou Jason Clarke, que na série encarna o ex-técnico e dirigente Jerry West. “É difícil fazer isso, né?”, retruquei.

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Você precisa manter as personalidades unidas, e de repente, na primeira vez, requer um foco. É a mesma coisa que eu percebo quando se grava um filme. A primeira tomada pode ser a mais mágica, porque se todo mundo está pronto, tem aquela sensação de que vamos acertar isso agora mesmo, que vamos arrebentar. Se fizermos uma segunda tomada, é mais difícil”, completou o ator.

Quando você está caminhando para o primeiro [campeonato], ninguém tem a oportunidade de se preparar para você. Mas quando está buscando o segundo, todos tiveram tempo para abaixar suas defesas e seus ataques, e conhecem seu estilo. Então agora eles podem criar um contra-ataque”, emendou Jason Segel – intérprete do técnico Paul Westhead – levando de volta o tema para o basquete. “Há poder em ser o azarão”, acrescentou. “O status de azarão é sempre o melhor.

Solomon Hughes, o Kareem da série, trouxe para a mesa uma outra dificuldade, pelo lado dos jogadores: “Inevitavelmente se torna um pouco mais difícil sacrificar as coisas que você precisa sacrificar para ter sucesso como equipe. Portanto, é desafiador manter esse senso de unidade e abnegação.

Mudança de comando

Uma das dinâmicas deste segundo ano é a ascensão de Pat Riley (Adrien Brody) ao posto de técnico. Os seus dois antecessores – Westhead e Jack McKinney (Tracy Letts) – criaram as bases táticas dos Lakers dentro de quadra, mas foi Riley quem liderou aqueles atletas por quase toda a década, se tornando indissociável da Era Showtime.

Agora vemos o ex-jogador ganhando espaço nos bastidores, e como conflitos no vestiário (incluindo com Magic Johnson) minaram a liderança de Paul Westhead. No final, fica aquela sensação de tapete puxado.

É uma relação complexa porque tanto Westhead quanto Riley subiram juntos nas fileiras e formaram uma verdadeira amizade. Eles se devem uma grande dose de gratidão”, diz Brody.

Para o ator, uma das principais dificuldades do antecessor vem justamente do desafio de manter os Lakers no topo. “Você precisa encontrar uma maneira, mesmo que esteja em uma posição de liderança, de unir seu povo, e acredito que essa foi uma falha que levou [Westhead] ao seu declínio.

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Jason Segel e Adrien Brody em cena de Lakers: Hora de Vencer

Nesse contexto, Riley acreditava que também seria demitido, revela Brody. Porém, foi justamente o senso de comando do então técnico assistente que fez as coisas mudarem de rumo: “Ele assume o comando e anima o espírito do Magic, unindo a equipe de alguma forma. Mesmo diante das derrotas, ele lidera como o tipo de treinador que você gostaria de ter, e isso foi algo empolgante para retratar esses aspectos de Pat nesta temporada”.

Hora do show do Showtime

Dentro e fora das quatro linhas, a disputa contra os Celtics se intensifica. Na temporada anterior, vimos como Jerry Buss tinha na franquia de Boston como aquela a ser batida.

Não era por menos: Red Auerbach (Michael Chiklis) havia criado uma das mais longevas dinastias do basquete norte-americano, tendo vencido nada menos que nove títulos como técnico e (até aquele momento) outros quatro como presidente. Desses, sete foram em cima dos Lakers. Ao mesmo tempo, o velho dirigente via o novato da NBA como um “fanfarrão”.

O primeiro ápice desse embate vem em 1984, quando, pela primeira vez, os times se encontram nos play-offs. E é justamente nas finais, por conta do regulamento de mata-mata da liga.

Independente dos resultados gravados nos livros de história, a dúvida paira no ar: qual dos dois dirigentes construiu o melhor caminho para o sucesso? O da ousadia e do espetáculo, ou a solidez da tradição?

Eu acho que os Celtics são os melhores, ponto”, responde Chiklis, sem segurar o riso. “É difícil dizer quem teve o caminho melhor, mas, na nossa cabeça, os Celtics saíram por cima, com certeza, e para muitas outras pessoas também”, completa Sean Patrick Small – que interpreta a grande estrela de Boston naquela era, Larry Bird.

“Vou te falar, eu dou crédito aos Lakers por mudarem a cara dos esportes em termos de comercialização”, admite Michael Chiklis, levando o assunto para o campo mais sério. “Jerry Buss era um gênio do marketing e trouxe de volta o espetáculo ao Coliseu. Ele encarava tudo como entretenimento, introduzindo luzes, dançarinas deslumbrantes e todo tipo de diversão para animar os jogos e transformá-los em eventos enormes. Foi a sua genialidade que transformou os Lakers em uma enorme máquina de fazer dinheiro”.

Todavia, como o ator ressalta, nada disso teria dado certo sem um esquadrão vencedor dentro de quadra. “Ele tinha como alvo a gente porque éramos uma equipe dedicada ao campeonato, de trabalho duro – veja, estou falando como se fosse da minha vida [risos]. Ele sabia que, para competir, eles tinham que nos vencer, embora não tenham conseguido fazer tantas vezes quanto nós os vencemos, mas isso é outra história”.

Essa dinâmica adiciona um tempero no segundo ano de série, que está ainda mais compacta. Afinal, são apenas sete episódios (contra os dez da temporada anterior) resumindo uma história que percorre quatro temporadas da NBA.

No entanto, como John C. Reilly levanta a bola, Hora de Vencer não é sobre quem foi campeão ou não, trata-se de algo muito mais profundo. “Adam McKay se certificou, desde o início, de que esse programa abordasse como era a vida dessas pessoas fora do ginásio. Como era ser um homem negro famoso em 1979 e 1980, e não economizamos nesse aspecto. Nós realmente examinamos quais eram os preconceitos vigentes na época.”

E é o que voltaremos a curtir a partir deste domingo, 6, quando estreia a segunda temporada de Lakers: Hora de Vencer. O season finale está previsto para 17 de setembro, sempre na HBO e na HBO Max.