De passagem pelo México, onde fica até o dia 11 de junho num canto daquele país que define como “o meio do nada”, o cineasta carioca José Padilha tem a segunda temporada de Narcos para entregar à NetFlix e um longa-metragem em solo estrangeiro novo para iniciar sobre um dos mais antigos conflitos do Oriente Médio – mas nem assim se desliga do Brasil. O projeto de série sobre a Operação Lava-Jato está cada vez mais sólido nos planos do diretor de Tropa de Elite I e II, conforme ele antecipa no papo a seguir com o Omelete, falando sobre política e o impacto da televisão em sua estética.
Em que pé está o projeto da Lava-Jato e qual será a abordagem que você pretende para a série?
PADILHA: Estamos na fase de pesquisa e de montagem dos capítulos, bem como da redação do piloto. Pretendemos mostrar para o público quem foram os investigadores, os procuradores e o juiz da lava-jato, como a operação se desenvolveu, a pressão do governo e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sobre eles e as inúmeras intrigas e passagens a que o público não teve acesso na mídia. Vamos contar a história de uma investigação, a mais importante que já ocorreu no país. Não vamos debater política ou ideologia. Mas vamos expor muito cinismo, corrupção e demagogia, assim com faz a Lava-Jato.
Já que você anda estudando sobre a Lava-Jato e seus desdobramentos, de que maneira você avalia o circo político nacional em torno do afastamento da presidenta Dilma Rousseff e o que espera desta Era Temer?
PADILHA: Diz a Lei nº 9504, de 30.9.1997, que desde então regula e dispõe sobre as eleições: “Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos, para fins eleitorais, será negado diploma ao candidato, ou cassado, se já houver sido outorgado”. Não importa se o candidato sabia ou não se os recursos eram ilícitos, muito embora esteja começando a parecer que Dilma sabia da falcatruas ao seu redor, como afirmaram em delações e gravações independentes Sarney, Delcidio, e, como acredito eu, vai ficar claro com a delação de Marcelo Odebretch e de João Santanna. Seja como for, Dilma e Temer forma eleitos com recursos do Petrolão. Ambos estão ilegais onde se encontram, como irá demonstrar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se atuar com seriedade e sem fazer política. O suposto golpe do impeachemnt, portanto, é duplamente farsesco, posto que destitui ilegalmente quem nunca deveria ter sido empossado legalmente.
De que maneira seu mergulho na TV, via Narcos e, agora, com Lava-Jato, mudou a sua relação com a imagem?
PADILHA: A TV não mudou a minha maneira de trabalhar, apenas me forçou a trabalhar mais rápido e em condições mais difíceis de um ponto de vista logístico se comparadas as de um longa. Mas por outro lado, a Netflix nos deu muito liberdade criativa na primeira temporada.
O que já podemos esperar desta segunda temporada de Narcos?
PADILHA: A segunda temporada conta o processo de declínio do cartel de Medellin, o inicio da degradação dos métodos do DEA via los Pepes e a ascensão do cartel de Cali.
Que filmes você tem à vista agora, no Brasil ou nos EUA?
PADILHA: Trabalho agora em um longa-metragem com a (produtora americana) Working Title sobre o conflito entre Israel e os palestinos na década de 1970.