Imagine os desenhos animados mais toscos do universo. Neles, tinha de tudo do ruim e do pior. Pra completar a capenguice, só faltava um letreiro bem fuleiro dizendo orçamento de fome. De resto, era uma um defeito atrás do outro.
Duvida&qt;& Pois, então, pense nas transposições mais constrangedoras de HQs para a telinha. Agora, acrescente personagens estáticas que, em vez de andar, deslizam pelo cenário. Não pare ainda. Limite os movimentos dos ditos cujos a impagáveis piscadelas, bocas arreganhadas e gestos alquebrados; isso sem falar nas panorâmicas de câmara com pessoas papeando imóveis. Difícil de engolir, não&qt;& Só que ainda não acabou. As cenas de ação eram mais geladas do que fotografia. Se alguém levava porrada, quanto muito tremia como vara verde. E como se não bastasse, para garantir os efeitos sonoros, pipocavam onomatopéias grafadas. Pow! Soc! Bang! Com elas, não se fazia economia. As letrinhas enchiam a tela inteira.
Mas, afinal, como uma podreira dessas pôde ser cultuada&qt;&
A resposta, investigativo e abismado leitor, é mais evidente do que o umbigo da Tiazinha. Por acaso, haveria adaptação mais fiel dos quadrinhos para as telas&qt;& De jeito maneira.
E tem gente que acha que South Park é original.
NUM PAU BRABO!
Os verdadeiros heróis visionários" responsáveis por essa "revolução" foram os animadores do finado estúdio Grantay-Lawrence, a mesma turma que, mais tarde, produziu - agora com um orçamento digno - a primeira e memorável série animada do Homem-Aranha.
O ano era o longínquo 1966 e uma série live-action baseada em quadrinhos havia se tornado o maior fenômeno dos Estados Unidos: o seriado Batman da rede ABC. Estrelado por Adam West e Burt Ward, o programa deixou em polvorosa as emissoras concorrentes. De uma hora para a outra, todo mundo queria também faturar em cima dos gibis.
Para se ter uma idéia da pauleira, o tempo médio de produção de um desenho decente de 22 minutos é algo em torno de seis meses. Pois, no caso dos Super-Heróis Marvel, um único estúdio realizou cinco séries com treze episódios cada em... pasmem!!!... menos de um ano.
Ficou ou não ficou claro de onde vieram muitas das "opções estéticas" dessas tranqueiras&qt;&
MAIS FIEL IMPOSSÍVEL...
Suas aventuras dividiam-se em histórias com três blocos de cinco minutos. Cada um deles adaptava exatamente uma edição do herói em questão. Para economizar tempo, havia sempre um resuminho dos fatos anteriores e uma narrativa em off cheia de suspense. Puro gibi!!
Um dos grandes baratos era ver animações diretamente extraídas do traço de Jack Kirby, o desenhista e co-autor da maior parte dessas HQs. As exceções ficavam por conta do Homem de Ferro, desenhado por Don Heck e de Namor, que exibia a elegância de Gene Colan. Os roteiros, sem exceção, eram assinados (ou pelo menos creditados) ao titio Stan.
Eram os heróis Marvel em seus primórdios, muito antes de qualquer reformulação ou queda de vendas.
NO BRASIL, O CLUBE MARVEL
Foi uma jogada e tanto que impulsionou a invasão de quadrinhos gringos. Até hoje, o sucesso desses gibis e seus descendentes tira o sono dos autores locais. Mas isso são outros quinhentos...
Em todo caso, algo inexplicável e maravilhoso aconteceu ano passado. Para surpresa geral, o canal a cabo Fox Kids exibiu os episódios desanimados do Homem de Ferro. A tranqueira veio no meio de outras velharias da Marvel como o Homem-Aranha e seus Amigos e Mulher-Aranha. A resposta do público foi tão boa, que agora o canal decidiu desenterrar mais representantes da era jurássica da Marvel.
Pois que venham muito mais. Afinal, os desenhos desanimados são o que há de melhor no pior. Enfim, clássicos insuperáveis.
Confira a parte 2 desta matéria!
Veja também o guia de episódios!