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O Rei da TV: Diretores e produtor rejeitam retrato “caretinha” de Silvio Santos

Segunda temporada da série aborda crises famosas do Homem do Baú: fraude, sequestro e política

31.03.2023, às 10H39.

Silvio Santos mal acordou, tampouco percorreu a metade dos muitos corredores de sua mansão, e já foi confrontado por um enorme problema: a descoberta de um rombo bilionário em um de seus empreendimentos, o Banco Panamericano. A dramatização do real episódio que motivou o apresentador e empresário brasileiro a vender a instituição em 2011 é o que dá o pontapé inicial na segunda temporada de O Rei da TV, lançamento do Star+ que continua a remontar a trajetória do Homem do Baú na cultura pop nacional.

Em conversa com o Omelete, os diretores Marcus Baldini e Júlia Jordão, bem como o produtor Caio Gullane, falaram da importância de colocar sua versão de Silvio Santos em constante contato com conflitos históricos multifacetados.

“É chato se o personagem sempre acerta”, definiu Jordão. “Eu quero ver o personagem errar, cair, chorar, se levantar, vencer, perder — e eu acho que, tanto na primeira quanto na segunda temporada, a gente vê muito o Silvio passando por vários obstáculos: se humilhando, se levantando, se vangloriando. É isso que torna ele interessante”. Baldini completou, citando as reações à primeira temporada da série: “Eu acho que as pessoas esperavam ver uma mais normal, mais caretinha e de repente surpreendeu essa forma como a gente olhou artisticamente pra esse personagem”.

Com boa dose de liberdades artísticas tomando forma em episódios lisérgicos e interpretativos, a temporada inicial de O Rei da TV não aliviou para o lado de Senor Abravanel ou de sua persona de palco: ressaltou falhas morais em relações de trabalho e relacionamentos pessoais do personagem. O retrato pouco polido, que incluiu também críticas a comportamentos racistas e homofóbicos nos bastidores da telinha, motivou críticas não só de fãs do apresentador, como de sua própria família. Entre a principal queixa, a de que a série fugia demais da realidade dos fatos.

“[Na ficção baseada em fatos], se você não é fiel a alguma coisa, vem sempre uma crítica. Nesse sentido, eu sou muito orgulhoso da forma como a gente fez”, destacou Baldini. “Porque eu acho que a série tem esse lugar de transitar entre o real e o fictício com um olhar artístico. O meu desejo é ver mais coisas nesse estilo do que histórias caretinhas e tradicionais, que se propõem sempre a narrar uma trajetória de um herói comum e monofacetado”.

Gullane também acredita que a popularização de histórias produzidas no Brasil, sobre a cultura do país, possam fomentar a maior aceitação dos diversos formatos que podem ser adotados em cada uma delas. “Cada vez mais, a gente tem que ser um país que pode refletir sobre si mesmo”, afirma. “É nesse sentido que nós temos que amadurecer enquanto audiência. A gente está, de algum jeito, tentando cada vez mais agregar uma massa crítica em relação aos nossos personagens”.

Produzidas de uma só vez pela Gullane Entretenimento em parceria com o Star+, as duas temporadas de O Rei da TV têm suas respectivas identidades muito bem definidas pela divisão na direção de Baldini (primeiro ano) e Jordão (segundo ano). Para a nova temporada, José Rubens Chachá assume definitivamente o papel de protagonista e a linha do tempo da trama se aproxima de vez dos tempos atuais, transitando entre as décadas de 2010, 2000 e 1990 (com uma casquinha de 1989) e cobrindo as crises mais midiatizadas do dono do SBT.

“Além do sequestro [sofrido pelo apresentador em 2001] e do envolvimento com a política [quando Silvio cogitou a Presidência do Brasil, em 1989], acho que um momento bem interessante é a entrada do IBOPE, que mudou o jeito de se ver TV e de se conduzir a TV nacional”, destaca a diretora, entre as novidades da segunda temporada. “Aí, a gente começa com a guerra de audiência entre a Globo e SBT”.

Se esse conflito midiático toma proporções de alta tensão em O Rei da TV, isso sim é só na ficção. Ainda segundo Jordão, o processo de gravar simultaneamente as duas temporadas da série só serviu para tornar tudo mais divertido. “Como eu e o Marcus estávamos filmando ao mesmo tempo — ele, algo da década de setenta, e eu de oitenta — se você passava pelo estúdio era como se fizesse um tour histórico. Entrava em uma época e pousava em outra”.