Outlander chegou à metade de sua 5ª temporada com um episódio, no mínimo, confuso. Além de continuar gerando uma expectativa que nunca é recompensada, a produção ainda escorregou ao mostrar um desentendimento estranho entre Jamie (Sam Heughan) e Claire (Caitriona Balfe).
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[Spoilers de “Better to Marry Than Burn” abaixo]
O capítulo começa mostrando o passado de Jocasta (Maria Doyle Kennedy) e a perda de sua filha adolescente após a batalha de Culloden. Prestes a se casar novamente, a personagem relembra da tragédia e fica triste: enquanto ela está viva e com dinheiro, sua filha não pôde desfrutar da mesma vida. A cena em si é muito boa e serve para estabelecer ainda mais uma personagem que sempre teve sua história contada pelo ponto de vista de outros.
Infelizmente, o trecho perde força no final, quando Jocasta encontra Murtagh (Duncan Lacroix) um dia antes de seu casamento e reconta toda a história que foi mostrada na cena de abertura. Se o episódio dedicou uma sequência inteira para contar essa história, por que a personagem reconta exatamente o que aconteceu? A segunda cena mostra a reação triste de Jocasta e cria uma ligação com Murtagh, mas a repetição é um erro grave de roteiro. Melhor seria, então, não colocar o trecho no começo e guardá-lo para este momento final.
No entanto, este não é o único nem o mais grave problema do capítulo. Nas redes sociais, a autora dos livros de Outlander, Diana Gabaldon, criticou a cena de sexo entre Jamie e Claire nos estábulos e o trecho é problemático de várias formas. A questão começa ainda no meio do episódio, quando Jamie quer apostar a aliança de Frank que Claire ainda usa para se aproximar do vilão Stephen Bonnet (Ed Speleers) e finalmente fazê-lo “pagar” pelo que fez à Brianna (Sophie Skelton).
O primeiro problema é a reação de Claire, que estava calma até então e de repente tem um acesso de raiva quando a aliança é citada. A atuação de Caitriona Balfe, que costuma ser incrivelmente boa, sai do tom da cena e da personagem. Sua raiva surge do nada e evolui ao ponto de ela também tirar a aliança de Jamie, algo que seria inimaginável entre os dois. Claire estava chateada? Com certeza, mas a construção dos personagens até aqui - especialmente em um momento de mais maturidade - sempre foi mais voltada ao diálogo que ao conflito. Jamie e Claire evoluíram sua relação após tanto tempo juntos, mas aqui parece que eles regrediram.
E o que é feito com Jaime simplesmente não tem explicação. Ele vence a aposta e fica com os anéis de Claire, mas se embebeda no processo e volta para falar com sua esposa quase como se fosse outra pessoa. Jamie está irritado e trata Claire mal, dizendo que, por mais independente que seja, ela não pode se esquecer que é “apenas uma mulher”. Essa fala é completamente incompreensível e não combina com o protagonista. Jamie já ficou bêbado em outros momentos de Outlander e em nenhum deles se tornou um homem ríspido. A questão sobre seu incômodo com a independência de Claire é algo que foi resolvido ainda na primeira temporada, quando ele entendeu que a mulher que ama é diferente das outras de sua época. Trazer isso de volta em uma discussão tão mínima não faz sentido e soa como uma conveniência de roteiro para chegar aonde os produtores queriam - que não é um bom lugar.
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Após a briga, Claire dá um tapa no rosto de Jamie, algo que ele poderia “merecer” pelo que falou, mas, novamente, não faz parte da personagem. A briga evolui para os dois fazendo sexto no estábulo e Jamie pedindo para que a esposa olhe para baixo para ele ter a sensação de que ela não quer a relação. Além de continuar destoante, a cena chama a atenção negativamente por ser um tema recorrente em Outlander, que nem sempre é tratado da melhor forma.
Desde que voltou ao passado, Claire se sente ameaçada quanto à violência sexual. Isso acontece em sua primeira cena com Black Jack Randall (Tobias Menzies) e continua até mesmo neste episódio, quando é agarrada à força por Philip Wylie (Chris Donald), em mais um trecho desnecessário. O próprio Jaime também sofreu tal violência nas mãos de Black Jack e Brianna ainda está traumatizada pelos acontecimentos da temporada anterior. Por que exatamente isso foi usado em um momento de reconciliação entre Jamie e Claire? Vale lembrar que a vida sexual dos dois sempre foi mostrada no seriado e nunca deu nenhum indício de caminhar para este lado. Ter Claire no final dizendo que até gostou de como tudo aconteceu simplesmente não se explica pela jornada da personagem e das pessoas ao seu redor.
Como se não bastasse toda essa problemática, “Better to Marry Than Burn” também desenvolve pouco a história dos personagens, questão recorrente nesta temporada. O conflito com os Reguladores vem e volta, sem nunca chegar realmente à uma resolução; o mesmo acontece com Bonnet, que continua pairando como uma ameaça, mas sempre em segundo plano, sem nunca se encontrar de fato com os personagens. Este já é o sexto capítulo da temporada e parece que a série ainda está estabelecendo terreno para algo grandioso, que nunca chega.
Com metade de sua jornada pela frente, é melhor Outlander correr atrás do tempo perdido e tomar cuidado para não deixar a autenticidade de seus personagens pelo meio.
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