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Séries e TV

Além da Ilusão: o slogan de Larissa Manoela. A volta de Cine Holliúdy e mais…

Qual é o saldo do final da novela Além da Ilusão e como será a volta de Cine Holliúdy sem Letícia Colin

22.08.2022, às 17H29.
Atualizada em 23.08.2022, ÀS 09H19

Sempre que uma contratação para o casting da Rede Globo ganha a atenção da internet, isso se dá por conta de dois tipos de artista: o que veio de outra emissora ou o que não é ator ou atriz e está ganhando essa oportunidade na teledramaturgia. É uma dinâmica que faz parte do que a gente pode chamar de “mitologia da TV aberta”, onde as posições e exigências do mercado surfam sem precisão entre profissionais e aparições sem caminhos tradicionais. É assim, sempre foi assim e ao passo que pode trazer ao proscênio o pior dessa triagem, também pode nos presentear com muito talento.

Atualmente, por exemplo, é Jade Picon quem atrai para si essa atenção ao ser hostilizada por conta da oportunidade que Glória Perez lhe deu na próxima novela das 21, Travessia. A argumentação é de que ela não é uma atriz profissional e está tirando uma oportunidade de outra pessoa, o que esbarra no que é a própria história da televisão, que sempre foi um terreno de descobertas de talentos além dos canais convencionais, o que quase sempre funcionou a seu favor, seja no momento ou no curso do tempo. Grazi Massafera era uma miss que entrou no BBB 5... Hoje ela é uma das atrizes mais respeitadas do país.

Larissa Manoela, antiga grande estrela do SBT, começou a trabalhar muito cedo e embora grande parte dessa carreira não tenha se desenvolvido no terreno da poderosa Globo, sobre ela sempre pairou o mesmo estigma da “criança prodígio” que construiu nomes como Bruna Marquezine e Marina Ruy Barbosa. Larissa, desde sempre, precisou estabelecer sua persona midiática, precisou estabelecer a produção de suas respostas e declarações e isso foi, inevitavelmente, afastando-a de sua naturalidade. Quando chegou na Globo para estrelar Além da Ilusão, ela foi recebida com evidente hesitação.

O público da internet – sobretudo – tende a decidir que imagem uma pessoa tem e por quanto tempo ela vai persegui-la. Muitas vezes o artista é responsável por isso (como com Karol Conká, por exemplo) e em outras um fator externo tem peso 2 nessa “eleição” (como com Claudia Leite, que sofre a comparação direta com Ivete Sangalo). Larissa Manoela chegou para viver Isadora na novela das 18 sob o escrutínio desse “tribunal”, que esperava – e em alguns casos até torcia – que ela não fosse suficiente para protagonizar uma trama global ou que para ela – sempre produzida para ser uma marca – seria impossível se descolar da própria imagem para dar vida a um personagem.

Além da Ilusão (de autoria de Alessandra Poggi) foi encomendada para ser a clássica novela das 18, com poucos cenários, de época, com uma história leve e romântica. Sua narrativa era típica dessas diretrizes, com direito a um “amor à primeira vista”, um resultado trágico e uma longa passagem de tempo, que traz de volta o mocinho injustiçado para se apaixonar pela irmã de sua amada perdida. Como em tudo que ocupa os horários teledramatúrgicos da TV, o importante é a forma, é como essa mesma e velha história será contada.

Larissa e Rafael Vitti, então, tinham a missão de fazer com que Davi e Isadora conquistassem a audiência com um amor indescritível que funcionasse nesses tempos de puro cinismo e deboche. Alessandra e sua equipe tomaram as decisões certas, confiando no carisma de Vitti para se aproximar da seriedade de um homem adulto e confiando que Larissa – esse símbolo do artista-mirim de múltiplos talentos e pouca naturalidade – desapareceria para dar lugar à Isadora, uma mocinha construída com o cuidado de ser mais que uma sofredora apaixonada.

Para surpresa de boa parte do público que acompanhou Além da Ilusão, em muito pouco tempo a Isadora de Larissa já tinha ocupado sua posição de comandante de uma novela bem escrita, que precisava de força à frente dos capítulos. Davi e Dorinha viviam cercados dos enredos rocambolescos de Úrsula (Bárbara Paz) e Joaquim (Danilo Mesquita), mas não caíam no erro de transformar aquela relação numa lamúria constante e foram burros ou cegos durante curtos espaços de tempo (sendo esse um dos principais problemas de um casal principal).

Além da Ilusão terminou com outras celebrações, também. Antônio Calloni, que raramente pega bons papeis na TV, deve ganhar todos os prêmios do setor esse ano. Seu Matias era impressionante e conseguiu o feito de atravessar meses sendo louco sem ser cansativo. Seu final com vibes de “velho do rio” gerou controvérsias, mas ele foi um dos pilares da trama. Além dele, Bárbara Paz serviu o melhor da vilania clássica, com direito a uma morte antológica: engasgada com uma pipoca. Malu Galli e Marcelo Novaes foram encantadores e TODO o núcleo da tecelagem foi tratado com o carinho e a atenção necessárias para aliviar da produção sua inevitável branquitude histórica.

Não sabemos como será com Jade Picon, mas está claro o que Além da Ilusão fez por todos os atores que compuseram seu enredo. Quando a novela chegou ao fim, não havia mais dúvidas: Todos fizeram um grande trabalho e Larissa Manoela provou ser uma atriz muito além de uma ilusão de si mesma. 

Está definido...

... que a volta de Cine Holliúdy provou que nem sempre uma troca de elenco é algo negativo para o enredo. Depois de uma primeira temporada que eu considero boa, mas muito próxima de um humor datado típico de um filme dos Trapalhões (e que tem dificuldades para se impor nos dias de hoje), a criação de Halder Gomes comandada por Patrícia Pedrosa retornará para uma segunda temporada sem Letícia Colin e com Luísa Arraes ocupando a posição de musa de Francys (Edmilson Filho).

Globo organizou um evento de lançamento para apresentar o primeiro episódio e ao final da exibição a minha relação com a série sofreu um twist. Depois de uma primeira temporada aturando ET’s e vampiros, o primeiro episódio do segundo ano assentou o enredo central e manteve a inspiração do “gênero cinematográfico do dia” numa posição calculadamente secundária. É evidente que por ser ele a pornochanchada, não havia muito o que se fazer. Contudo, a sensação foi de que o fato de precisar dar mais atenção ao andamento da história da chegada de Francisca fez com que a série parecesse mais equilibrada.

É provável que o elemento procedural permaneça e tenhamos uma história cinematográfica maluca acontecendo toda semana. Mas espero de verdade que possamos ver mais desenvolvimento para as personagens de Heloisa Perisse, Solange Teixeira e até de Lorena Comparato (mesmo dois tons acima do necessário). Luisa Arraes chegou segurando o rojão da ausência de Letícia e fez muito sentido dentro desse elenco. Depois dessa estreia fiquei bastante animado para seguir na temporada.

Está a definir...

 ... o que pensamos sobre a trama de Mar do Sertão, a próxima novela das 18 horas, que tem um elenco promissor de muito atores nordestinos, um compromisso em abordar o nordeste por uma ótica atenta; mas, uma história central pouco atrativa: dois homens interessados na mesma mulher, um deles é dado como morto, o outro se casa com ela e anos depois o falso morto volta para bagunçar tudo.

Não é exatamente interessante, mas pode dar certo no conteúdo. Na próxima coluna dou as minhas primeiras impressões. Aqui abaixo tem uma descrição mais completa da sinopse. Vamos ver:

 “Será que todo grande amor é capaz de resistir ao tempo e à distância? Em "Mar do Sertão", a próxima novela das 6, Candoca (Isadora Cruz) e Zé Paulino (Sergio Guizé) são completamente apaixonados um pelo outro, mas são separados por uma armadilha do destino: Zé Paulino sofre um acidente e é dado como morto. Depois de dez anos, quando retorna, sua noiva está casada com seu grande rival, Tertulinho (Renato Góes).

A história se desenrola em Canta Pedra, um lugar que, segundo contam, já foi mar e virou sertão. Assim, a profecia de Antonio Conselheiro de que o sertão vai virar mar é uma esperança para os moradores da pequena cidade fictícia da trama: há muito tempo, o povo espera pela chuva enfrentando as dificuldades impostas pela seca”.

Sobre a coluna Ovo Mexido 

Há muito tempo que a televisão não é mais a mesma, mas uma coisa sobre ela é irrefutável: ela persiste. O conceito de Omelete é quebrar ovos e transformá-los numa mistura homogênea que sirva ao consumidor com o gosto de familiaridade que ela tem. Um ovo mexido não é tão homogêneo assim, mas dentro de sua irregularidade, pode agradar pela proposta de novas texturas. Aqui na coluna o assunto será a TV em todas as suas épocas, formas e transições. E é isso que vamos servir para quem é apaixonado por entretenimento tanto quanto nós.

Todo mês, a coluna falará sobre tudo que diz respeito à televisão – da aberta ao streaming – com novelas, séries e realities; um espaço para “prazeres culpados" sem culpa nenhuma. 

*Henrique Haddefinir é colaborador do Omelete desde 2013, também é roteirista, dramaturgo, escritor e mestrando em teoria e crítica