Ao longo dos seus seis episódios, Senna procura mostrar os principais momentos da carreira profissional do tricampeão de Fórmula 1, enquanto costura a vida pessoal do piloto e suas angústias e ansiedades para ser um campeão respeitado no meio do automobilismo. Vários grandes nomes tanto da cultura pop brasileira, quanto do meio do esporte, aparecem na produção da Netflix. O mais marcante, sem dúvidas, é a apresentadora Xuxa Meneghel, interpretada por Pamela Tomé, tida por muitos - e destacada na série - como o grande amor da vida de Ayrton Senna.
Mas desde que a produção começou a ser exibida para jornalistas e as resenhas e notícias começaram a sair, uma das personagens mais esperadas da vida pública de Ayrton - e que aparecia no material promocional - chamou a atenção pelo seu pouco tempo na história: Adriane Galisteu. A apresentadora, modelo e atriz era namorada do piloto quando ele sofreu o trágico acidente que causou sua morte, em maio de 1994. Em Senna, a série, no penúltimo episódio, vemos Ayrton conhecendo Galisteu na festa após o GP de Interlagos de 1993, vencido pelo piloto. Após os dois conversarem e se beijarem, Adriane diz que tem que ir embora e deixa um papel com seu telefone para Ayrton. A participação dura cerca de dois minutos e a personagem só volta a aparecer por um breve momento, em cenas que abordam a morte do protagonista.
Não há um motivo claro para a não participação de Adriane Galisteu por mais tempo na história, a não ser o fato de o período de namoro dos dois não ser mais explorado. Com grandes saltos temporais, a série trata vários momentos da carreira de Ayrton de forma breve - alguns mostrados apenas por imagens de TV ou pela narração do Galvão Bueno, interpretado por Gabriel Louchard. O final do quinto episódio traz uma conversa entre Senna e Ron Dennis (Patrick Kennedy), o chefão da McLaren, sobre o futuro do piloto e que ele assinaria com a Williams. Daí em diante, o último capítulo nos joga de volta - já que a primeira cena da produção se passa lá - no fatídico GP de Ímola, em 1994, e toda a polêmica acerca de outros acidentes que envolveram aquela corrida.
Polêmica com a família Senna
Com uma carreira promissora como modelo, Adriane Galisteu deixou os planos de morar fora e focar no trabalho para acompanhar o piloto e dar continuidade ao relacionamento. O namoro foi palco para diversas capas de revistas de fofoca ou de lifestyle dos famosos, como a Caras.
De um lado, especialistas em Fórmula 1 e que acompanhavam os bastidores diziam que Ayrton Senna mudou seu comportamento, se tornando mais calmo, tratando as pessoas de um forma mais profissional do que anteriormente. Entretanto, uma matéria do UOL publicada na semana do lançamento da série, trouxe relatos de Galisteu, que apontavam para um comportamento tóxico de Ayrton Senna, incluindo um publicado no livro “Caminho das Borboletas”, com uma discussão após a publicação de um ensaio fotográfico de Galisteu na revista Caras, dias antes do GP do Brasil, de 1994. “'Você parece sei lá, uma qualquer. Como você deixou que fizessem uma coisa dessas?'. Era comigo, o mínimo que ele dizia. Gritava coisas horrorosas. Estava transtornado. Uma fera. Enrolou a revista e atirou com muita raiva contra a parede do nosso apartamento”, disse Galisteu.
No meio disso tudo, outro conflito: Galisteu e a família Senna.
Após a morte do piloto, ainda durante seu funeral, as coisas já se mostraram problemáticas. O carro de Adriane foi um dos últimos na longa fila que acompanhou o comboio de Senna, enquanto o de Xuxa, ex-namorada e mais próxima da família, foi um dos primeiros. O jornalista Flávio Gomes afirmou que os familiares não gostavam de Galisteu, principalmente por ela ser diferente do modo mais “tradicional” que a família Senna se portava. Ainda no enterro, o jornal O Globo afirmou que Xuxa deixou o cemitério com a irmã de Ayrton, Viviane Senna, enquanto Galisteu ficou para trás.
A própria Viviane já acusou Galisteu de enriquecimento às custas do irmão e de que ela explorava a memória de Ayrton em benefício próprio, como no livro que a ex-modelo lançou. “Adriane não tem o direito de falar da vida de Ayrton. [...] Essa moça sempre utiliza a imagem de meu irmão para se promover. Isso não é novo. Nós só achamos que, se ela está precisando de dinheiro, deveria trabalhar como todo mundo e parar de explorar a imagem de um morto”, disse. Viviane também nega que Senna quisesse casar com Galisteu, afirmando que o próprio já havia dito não ter “encontrado a mulher certa”.
Divulgação/Netflix
Galisteu foi cortada de Senna por pedido da família?
Os debates sobre a vida amorosa de Senna e seu relacionamento com a família devem tomar as redes sociais com a estreia da série na Netflix. As comparações do tempo de tela entre Xuxa - com um episódio praticamente dedicado - e Galisteu, com seus 90 segundos de tela, já estão sendo feitas e até pessoas que não assistiram a série já afirmam que Adriane foi “cortada”.
Em maio de 2024, o portal Notícias da TV, afirmou que a família de Ayrton Senna - que aprovou a série - havia exigido que a presença de Adriane Galisteu fosse removida da produção. Ainda segundo o site, a Netflix afirmou ser inviável que o relacionamento dos dois fosse descartado por completo, o que teria causado um conflito entre o streaming e os Senna. A empresa teria até considerado o cancelamento do projeto, mas chegaram ao acordo de representar Galisteu de “forma reduzida”.
Nada foi confirmado por ambos os lados, mas tendo em vista que a participação da personagem é quase uma ponta na história, fica a dúvida se realmente foi um embate da Senna Brands com a Netflix ou uma decisão artística do seriado.