Visitar o set de gravações de uma série criada, escritra, produzida e dirigida pelos irmãos Andy e Lana Wachowski pode ser algo intimidador. Por isso, quando o Omelete foi convidado pela Netflix para viajar ao México em outubro de 2014 e participar de algo como Sense8, a primeira incursão dos cineastas na TV, ficamos animados. Não só teríamos a oportunidade de ver parte dos efeitos práticos usados na produção como passaríamos a entender um pouco melhor sobre o ambicioso projeto que se desenrola em pelo menos oito cidades diferentes do mundo.
Como Sense8 não é gravada dentro de um estúdio fixo, a grande maioria de suas cenas se passa em locais reais que são muitas vezes maquiados para parecer outra coisa. Brian J. Smith, ator que vive o policial de Chicago Will Gorski, contou que o elenco principal foi "a todas as locações pelas quais a série se passa". "Se precisamos ir a uma favela em Nairóbi, é pra lá que vamos. Assim podemos usar a luz proveniente de cada local e não temos que fingir que estamos em algum lugar que não estamos", contou.
O produtor Grant Hill disse ainda que esse "é um dos projetos mais ambiciosos da Netflix. De um ponto de vista logístico, é como rodar nove filmes diferentes. Em cada país você tem que identificar as pessoas, pré-produzir, deixar tudo pronto com atores, cameramans, etc." Hill explicou que apenas 20 pessoas acompanharam a produção por todas as locações. Segundo Max Riemelt, ator que vive o assaltante de cofres de Berlim Wolfgang, as filmagens "começaram em São Franciso, depois fomos para Reykjavík, Seul, Berlim, México e depois seguiremos para Mumbai". Ainda faltava passar pelo menos em Chicago, Londres e Nairóbi.
Com a grandiosa escala de produção, o que pudemos ver no México foi apenas uma pequena parte de algo imenso. Mesmo assim, foi um pouco diferente visitar o set de Sense8 em comparação com outras produções. De um bairro central na Cidade do México, uma van nos levou à periferia, um lugar afastado que não parecia ter grandes áreas a serem utilizadas por uma equipe grande como essa. Após nos deixar na beira de uma ruela, seguimos até o fim e nos deparamos com uma clareira, um grande espaço aberto em meio às construções apertadas. Era ali que se passaria a cena que assistiríamos.
Não fomos guiados por ninguém, apenas a assessora de imprensa que nos acompanhava. Não nos foi explicada a situação que assistiríamos, não sabíamos ao certo qual dos sensitivos protagonizava aquela sequência. Nada estava muito claro naquele ponto e pouco descobriríamos a partir dali. Algumas coisas, no entanto, começaram a se esclarecer: aquele local, que parecia um pátio interno, havia sido transformado em um museu, com peças espalhadas ao longo do chão, expostas sob pedestais.
Inicialmente, nos colocaram dentro de uma tenda preta, assistindo à ação somente através de telas. Em um segundo momento, nos levaram a um mezanino de onde víamos perfeitamente o trabalho de Andy e Lana Wachowski, assim como do diretor do dia, James McTeig (V de Vingança). Descobrimos então que Lito (Miguel Ángel Silvestre) era o sensitivo protagonista daquela cena, que contaria com explosões e lutas. Nos entregaram tampões de ouvido e descobrimos que veríamos um tiroteio.
O mais interessante, no entanto, não foi assistir à gravação da cena em si, mas acompanhar o processo de trabalho dos Wachowski. Lana, pró-ativa e determinada, estava sempre próxima de Silvestre e no meio da ação. Através de gestos, a diretora demonstrava exatamente o que tinha em mente, praticamente atuando para que os atores entendessem o que ela de fato queria. Desde que chegamos ao set, Lana não parou um segundo sequer. Estava sempre caminhando de um lado para o outro, checando marcações, iluminação, som, efeitos especiais e, vez ou outra, seguia em direção ao irmão e McTeig, que ficaram absolutamente todo o tempo atrás de um monitor, acompanhando tudo o que era capturado pelas câmeras.
Durante as entrevistas, absolutamente todos os atores e produtores com quem conversamos diziam as mesmas coisas sobre os Wachowski: sempre presente, a dupla parece saber o que o outro está pensando. E foi isso que vimos em ação. Enquanto Lana se certificava de que tudo estivesse da maneira como deveria estar na frente das câmeras, Andy ficava de olho na tela, legitimando o trabalho da irmã por trás das câmeras.
Ao final da visita, pouco sabíamos sobre Sense8 em si, mas muito descobrimos sobre os bastidores daquele pesadelo logístico. Contratações de equipe e figurantes ao redor do mundo, incessantes viagens, um cronograma perfeito e um processo monstruoso de decupagem e montagem, pareceu cada vez mais possível nas mãos dos Wachowski e J. Michael Straczynski.
Os 12 episódios da primeira temporada de Sense8 estreiam mundialmente em todos os países nos quais a Netflix atua em 5 de junho. Assista abaixo ao trailer da série: