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Feita para chocar, The Idol se perde em amontoado sem sentido e sem drama

Primeiros dois episódios foram exibidos no 76º Festival de Cannes

23.05.2023, às 11H39.

O grupo de produções originais ruins da HBO é bem pequeno. Mas, a julgar pelos dois episódios de The Idol exibidos fora de competição no 76º Festival de Cannes, a série tem grande chance de ser incluído nele. 

Durante 1 hora e 46 minutos, cerca de um terço da duração total, não dá para sentir nada por Jocelyn (Lily-Rose Depp), a popstar perdida depois da morte da mãe, nem entender por que ela se encantaria por Tedros, a não ser pelo fato de ele ser The Weeknd (ou Abel Tesfaye, como preferir). As cenas se acumulam sem muito sentido, com vários momentos absurdos.

Criada por Sam Levinson, Tesfaye e Reza Fahim, The Idol chegou a Cannes mergulhada em polêmica. Uma reportagem da revista Rolling Stone falava da refilmagem de todos os episódios, depois de a diretora Amy Seimetz ser substituída por Levinson, do descontentamento de parte da equipe com um suposto caos no set e de mudanças supostamente solicitadas por The Weeknd por causa do teor feminista demais. A equipe negou quase todas as acusações. Levinson admitiu preferir um set espontâneo. Seja como for, na tela, o resultado é uma bagunça.

Tirando as cenas de nudez e sexo envolvendo Jocelyn e uma única sequência bastante inspirada da filmagem de um videoclipe, que mostra toda a pressão exercida sobre a popstar, sobra muito pouca coisa. Não há problema nenhum em uma personagem que gosta de sexo ou é sexualizada. Mas para falar disso não é preciso transformar o corpo da atriz que a interpreta em objeto. A câmera passeia pelo corpo de Depp, e só o dela. Ela aparece com o rosto coberto de esperma, tem uma cena de masturbação com as mãos, outra com um copo, várias de nudez, algumas de sexo. Em nenhum momento acontece o mesmo com The Weeknd, que, além de ser mais famoso, é produtor e criador da série. 

O personagem do músico, aliás, é um enigma, mas não no bom sentido. É uma figura ridícula como tantos líderes de cultos, por exemplo, Keith Raniere, do NXIVM. Até aí tudo bem. Na entrevista coletiva logo após a sessão de imprensa em Cannes, The Weeknd o descreveu como Drácula, um sujeito sem talento que vampiriza jovens artistas. É uma ideia bastante interessante, mas falta a esses dois primeiros episódios estabelecer o fator de atração de Jocelyn por Tedros. A não ser que ele fosse um Drácula literal, com superpoderes, faz pouco sentido a rapidez com que ela se encanta por aquele ser pouco atraente. Tedros toma muito tempo e espaço sem acrescentar nada à construção do drama de Jocelyn, a não ser como uma jovem que gosta de sexo.

E então sobra apenas o fator choque. Euphoria, o trabalho mais bem-sucedido de Levinson, também se apóia nisso. Mas, com todos os seus problemas, Euphoria tem personagens carismáticos, com linhas narrativas interessantes, além de uma atriz em grande forma em seu papel principal. Aqui, Lily-Rose Depp não tem nem chance de mostrar seu possível talento. 

The Idol tem estreia marcada para 4 de junho na HBO.