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The Mandalorian ressuscita um dos conceitos mais polêmicos de Star Wars

Série volta a abordar a ameaça do Império em "The Siege"

20.11.2020, às 12H24.
Atualizada em 20.11.2020, ÀS 12H37

Não chega a ser um elefante na sala, mas sempre foi discutível a forma como Star Wars, no intervalo entre O Retorno de Jedi e O Despertar da Força, saltou da derrota do Império para o pleno poder da Primeira Ordem. Assim como alguns livros, quadrinhos e games, o quarto episódio da segunda temporada de The Mandalorian fica com o trabalho inglório de explicar como a Nova República deixou os imperiais se reorganizarem bem debaixo do seu nariz.

Intitulado “The Siege”, o episódio volta a Nevarro, planeta localizado na Orla Exterior da galáxia aonde a série de TV acaba voltando de tempos em tempos. A organização geopolítica da galáxia - com os planetas abastados e organizados mais ao Centro, e os planetas da periferia negligenciados pela vigilância do poder político e econômico - sempre é uma ótima desculpa quando Star Wars precisa de uma solução Deus ex machina: basta dizer que aconteceu em segredo na Orla Exterior. Pois o episódio trata isso de forma pedagógica; vemos que Nevarro se reestruturou e agora uma escola ensina para crianças o que são as zonas de classificação que separam os planetas da galáxia.

Ao mesmo tempo em que o episódio aborda as lacunas de fiscalização da República (fora do seu X-Wing, o Capitão Teva diz que é difícil acompanhar o que acontece na Orla Exterior e tenta convencer Cara Dune, agora delegada de Nevarro, a voltar à Aliança), The Mandalorian começa a esboçar um aumento da ameaça imperial, em números e em poderio militar. Os stormtroopers e os pilotos Tie ainda usam o emblema do Império e o desenho antigo da armadura, mas quando Moff Gideon reaparece, diante de uma linha de produção nova em folha de armaduras pretas reluzentes (ainda com o desenho antigo dos troopers), já fica implícita a transição para a Primeira Ordem. É disso que fala, afinal, a oficial de comunicação vivida por Katy O’Brian ao se referir a uma “nova era” do Império.

A grande surpresa de “The Siege”, porém, não faz uma ponte com o futuro do Episódio 7, e sim relembra uma criação controversa do Episódio 1: os midi-chlorians, microorganismos que residem nas células de todos os seres vivos em condição de simbiose. Na época, George Lucas inventou uma explicação científica para o poder dos jedi: se uma pessoa tem uma contagem mais alta que o normal de midi-chlorians no corpo, isso significa que tem tendência a manipular a Força. Antes disso, a essência jedi era um grande mistério esotérico, e em A Ameaça Fantasma a ideia veio a calhar para explicar por que crianças como Anakin são selecionadas ainda jovens para a Academia Jedi, que nunca tinha sido mostrada no cinema antes.

Nos filmes seguintes, e dada a reação dos fãs ao Episódio 1, a questão dos midi-chlorians deixou de ter tanta importância e só voltou a ser mencionada quando Palpatine tenta cooptar Anakin para o lado sombrio ao dizer que Darth Plagueis manipulava os próprios midi-chlorians para gerar vida e impedir a morte. No ano passado saiu um livro de referência de Star Wars intitulado The Secrets of the Jedi, escrito por Marc Sumerak, e nele Luke Skywalker dá sua opinião: “Durante a República, os Jedi usaram a ciência para explicar porque alguns de nós sente a Força mais fortemente que outros (...) Pessoalmente, eu nunca fui do tipo que se preocupa com o motivo da Força falar comigo, o que importa é que ela ainda fala”.

Pois The Mandalorian ressuscita os midi-chlorians nesta segunda temporada para desenrolar o interesse do Império pel’A Criança. Não seria novidade saber que Baby Yoda tem uma contagem alta de midi-chlorians, porque afinal a criatura já demonstra habilidade de manejar a Força desde a primeira temporada, mas é um prospecto novo para o seriado a possibilidade de o sangue de Yodinha servir, via engenharia genética, para a fabricação de guerreiros sensitivos do Império. O que sabemos pelo episódio é que os testes de laboratório até agora foram um “fracasso catastrófico” apesar de “efeitos promissores”, mas já podemos esperar que, sem a necessidade de recorrer aos sith, The Mandalorian possa colocar imperiais usando a Força para duelar com Ahsoka Tano quando ela aparecer na série.

A questão dos midi-chlorians divide os fãs, primeiro, porque muda o eixo de Star Wars de uma perspectiva filosófica-religiosa (manipular a Força pode ser antes de tudo um processo de autoconhecimento, transcendência e iluminação) para uma racionalização científica. E é polêmica porque, antes de A Ameaça Fantasma, Lucas encontrava outras explicações, como a hereditariedade: em O Retorno de Jedi, Luke diz que Leia também pode usar a Força porque ela é forte na família Skywalker. 

De qualquer forma, engenharia genética se torna uma parte intrínseca de Star Wars a partir do momento em que a clonagem de Jango Fett é uma das premissas dos prelúdios. Aliás, como já virou regra no universo da saga, os midi-chlorians acabaram sendo melhor explicados em The Clone Wars do que nos filmes; na sexta temporada do desenho, numa dupla de episódios marcantes intitulados “Voices” e “Destiny”, Qui-Gon explica os aspectos da Força e Yoda viaja até um planeta no epicentro da galáxia que se revela a fonte da Força e dos próprios midi-chlorians, e lá ele encontra cinco sacerdotisas que detêm o conhecimento da imortalidade; é a forma que Star Wars encontrou para conciliar o científico e o espiritual e, de quebra, para localizar na mitologia como e de onde vieram os midi-chlorians, que de repente voltaram ao vocabulário da franquia.