This Is Us e Um Lugar ao Sol (Reprodução/NBC/Globo)

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This Is Us na Globo? Novela Um Lugar ao Sol "imita" série; relembre outros casos

Emissora se inspira em Kate e Toby para história de casal gordo

07.03.2022, às 12H00.

Uma mulher com uma família problemática se incomoda com o próprio peso e se apaixona por um homem, mas tem dificuldade para assumir o relacionamento porque ele também é gordo. Você pode encontrar esta história em This Is Us, série exibida pela rede norte-americana NBC e disponível no Brasil no Star+, ou em Um Lugar ao Sol, novela das nove da Globo.

Produto mais tradicional e popular da TV brasileira, as novelas se aproximam cada vez mais das séries, seja na edição dos capítulos, seja nas tramas praticamente iguais. Embora a autora de Um Lugar ao Sol, Lícia Manzo, nunca tenha admitido a inspiração, é notável a semelhança com This Is Us, que está em sua sexta e última temporada.

A trama descrita no primeiro parágrafo deste artigo pode ser a de Kate (Chrissy Metz) e Toby (Chris Sullivan), casal de This Is Us, ou a de Nicole (Ana Baird) e Paco (Otávio Müller), casal de Um Lugar ao Sol. Na primeira temporada da série, Kate tenta reduzir o peso, mas o namorado resiste a seguir a dieta. Ele, inclusive, passa a comer escondido para não desapontar a amada. Situação idêntica à da novela das nove, em que Nicole reclama que Paco não a acompanha no regime e é pressionada por sua coach de emagrecimento a se separar.

Telespectadores das duas produções acusaram Um Lugar ao Sol de ter "copiado" This Is Us, mas a novela já foi comparada a outra série nas cenas em que Andrea Beltrão, intérprete de Rebeca, "quebrou a quarta parede" ao olhar para a câmera, como faz Phoebe Waller-Bridge, em Fleabag. A atriz brasileira reforçou ao jornal O Globo que fazia este recurso na década de 1980.

"Eu adoro, amo a Phoebe. É extraordinária. Mas, quando ela nasceu, em 1985, eu já estava quebrando, demolindo a quarta parede há muito tempo e em todos os episódios de Armação Ilimitada (série da Globo exibida entre 1985 e 1988). Quebrar a quarta parede era um traço da direção do Guel Arraes. Do túnel do tempo", afirmou.

Outras novelas já recorreram a séries consagradas para fisgar o público. Quem viu Avenida Brasil em 2012 lembra as comparações entre a vingança de Nina/Rita (Débora Falabella) e a de Amanda/Emily (Emily VanCamp) em Revenge, inclusive alterando a própria identidade. No ano seguinte, a Globo praticamente espelhou cenas de Grey's Anatomy no núcleo médico de Amor à Vida, semelhança que teria chegado até a criadora da série, Shonda Rimes.

A novela Além do Horizonte (2013) deixou seus protagonistas "perdidos" no meio da selva. Lembrou Lost? O autor da trama, Marcos Bernstein, afirmou que não tinha assistido à série, uma das famosas do mundo, e buscou referências em outras obras.

Um pulo até 2018, quando a Globo colocou no ar uma disputa por reinos em uma trama com jeito medieval. Não é Game of Thrones, mas Deus Salve o Rei, protagonizada pelas três atrizes mais populares de seu elenco na época: Bruna Marquezine, Marina Ruy Barbosa e Tatá Werneck.

Esta "inspiração" das novelas em séries famosas é um fenômeno recente? Não exatamente. O Omelete procurou o escritor Nilson Xavier, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira e colunista do portal TV História. Especialista em novelas, ele considera exagerado acusar novelas de "copiarem" séries. Há décadas as emissoras se inspiram em outras produções para suas tramas, mas o recurso só foi notado agora, pelo público imediatista das redes sociais.

"Eu, particularmente, não gosto da expressão 'copiar'. Acho que há um pouco de exagero, porque não é copiar, é se inspirar em uma série, um filme, uma peça ou um romance, o que for, para alguma trama principal ou paralela de uma novela. Isso não é novo, é muito antigo. Há inspirações em filmes e peças nas novelas de Ivani Ribeiro [autora de Mulheres de Areia e A Viagem] e Janete Clair [autora de Irmãos Coragem, Selva de Pedra e Pecado Capital]", explica Xavier.

"Não vejo isso como uma crise de criatividade na teledramaturgia. Não vejo dessa forma, porque isso sempre foi usado. É que hoje temos redes sociais que automaticamente alertam e chamam a atenção para tudo. Sempre há alguém que viu alguma coisa, reconhece um trecho já visto anteriormente em filme ou série e o aponta. Hoje, tudo é mais evidente do que há 30, 40 anos, mas são coisas que já se fazem há 30, 40 anos. Hoje, como as séries têm grande alcance ao público, também servem de inspiração", conclui o escritor.

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