Lançado junto com o primeiro episódio de Watchmen, o site Peteypedia, assinado pelo personagem Dale Petey (Dustin Ingram), preenche as lacunas deixadas pelos 34 anos passados entre os acontecimentos da graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons e a minissérie da HBO.
Assim como cada capítulo do quadrinho apresentava textos complementares à trama principal, o portal traz semanalmente documentos como recortes de jornal, relatórios do FBI – onde Petey trabalha – e trechos de processos que incluem prisões de vigilantes e a origem das reparações econômicas aos sobreviventes do massacre de Tulsa de 1921.
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Abaixo, você confere, episódio por episódio, as revelações que a Peteypedia traz sobre a minissérie e que ajudam a entender os mistérios deixados pela produção
Capítulo 1 - It's Summer and We're Running Out of Ice
Watchmen/Divulgação/HBO
A primeira leva de documentos revelados pela Peteypedia se dedicou a apresentar peças-chave do universo da HQ para uma parcela da audiência que talvez não tenha conhecimento da obra original. Um claro exemplo é Rorschach, que tem um perfil detalhado traçado por Dale Petey, desde sua infância traumática até a carreira como herói, quando se tornou um dos grandes exemplos a respeito dos problemas com os vigilantes mascarados. Entretanto, os arquivos vão além e fazem uma ponte entre o desfecho do quadrinho e o início da série.
Petey revela que o Diário de Rorschach, caderno em que o vigilante registrou as descobertas a respeito da conspiração sobre o “monstro alienígena” que atacou Nova York em 1985, foi divulgado ao público pelo New Frontiersman. Com viés de extrema-direita e gosto por teorias da conspiração, o jornal era a única fonte de informação considerada confiável por Rorschach, que enviou pessoalmente seu caderno de anotações antes de confrontar o culpado pela tragédia. Os registros foram publicados parcialmente até serem lançados na íntegra após uma nova onda de popularidade sobre os heróis nos anos 1990, causada pela prisão de Laurie Blake (Jean Smart) e Dan Dreiberg.
A Peteypedia revelou que a Espectral se tornou agente do FBI e passou a utilizar o sobrenome e o título de vigilante de seu pai. Agora ela é chamada de Comediante e se apresenta como Laurie Blake. A heroína e seu marido Dan Dreiberg, o segundo Coruja, foram presos em 1995 por agir como vigilantes mascarados - violando o Ato Keene. Enquanto Blake foi solta e passou a trabalhar para o governo, Dreiberg segue preso até os dias atuais. Assim, ainda que indiretamente, a prisão dos dois colaborou para a divulgação de partes do diário e para a criação da Sétima Kavalaria, tão citada na série.
As anotações originais de Rorschach revelavam que Adrian Veidt (Jeremy Irons), o ex-vigilante Ozymandias, é responsável pela criação de um falso monstro alienígena que foi teleportado para Nova York, matando milhões de pessoas. Para o empresário, o massacre foi justificado, pois colocou fim à Guerra Fria. A verdade foi revelada não só a Rorschach, como também a Doutor Manhattan, Coruja e Espectral, seus ex-companheiros de equipe. Porém, somente o vigilante com a máscara borrada decidiu desmascarar Veidt, mas foi morto por Manhattan antes que pudesse chegar aos EUA. Várias versões do famoso Diário surgiram, o que dificultou a comprovação de sua autenticidade. Com isso, a maior parte do público considerou o material como mais uma grande teoria da conspiração. Entretanto, ele serviu de inspiração para o surgimento da já citada Sétima Kavalaria, um grupo supremacista branco que passou a utilizar a máscara do vigilante como símbolo. Somando o texto a seu desaparecimento misterioso (que na verdade é obra do Doutor Manhattan), Rorschach se tornou uma espécie de mártir para o grupo que passou a utilizar versões distorcidas de seus discursos para atacar minorias.
Adrian Veidt é outra personalidade em destaque na primeira Peteypedia. O relatório explica que, ao ser questionado sobre a veracidade do Diário de Rorschach, o bilionário afirmou que apesar de conhecer e até admirar seu ex-companheiro de equipe, suas anotações não passam de “rasuras da realidade”. Forte colaborador das campanhas de Robert Redford, presidente eleito logo após o ataque do “monstro alienígena”, o empresário foi declarado desaparecido em 2012 após a Lady Trieu comprar todas as suas empresas. Sete anos após seu sumiço, Veidt foi declarado morto, o que preocupa o agente Petey, que acredita fielmente que o ex-Ozymandias pode ressurgir subitamente.
Além dos eventos do quadrinho original, os artigos expandem também eventos do mundo atual de Watchmen. Os documentos revelam que a tecnologia foi considerada uma das grandes culpadas pelo ataque da lula interdimensional e por isso boa parte das invenções dos anos 1980 - de computadores a torres de celular - foram destruídas e a sociedade passou desenvolver versões alternativas dos dispositivos no mundo real. A postagem também dá grande destaque para Trust In The Law!, um filme baseado em Bass Reeves, conhecido como o primeiro xerife negro de Oklahoma. Entre os documentos está o release de um festival dedicado ao mais celebrado longa sobre o policial, produção que Will Reeves assistia quando aconteceu o massacre de Tulsa pela Klu Klux Klan.
Capítulo 2 - Martial Feats of Comanche Horsemanship
Watchmen/Divulgação/HBO
Os documentos expostos na Peteypedia relativos ao segundo episódio da minissérie expõem as origens das reparações a vítimas e descendentes do massacre de 1921. Em Road to Redfordations, um resumo de um processo legal ocorrido em 2004, uma corte conclui que o “tempo hábil para compensações” já havia passado, não sendo necessário que se tome nenhuma providência em prol daqueles que foram prejudicados pelo ocorrido. Anos mais tarde, o presidente Robert Redford aprovaria a Legislação de Vítimas de Violência Racial, que derrubaria o parecer judicial, implementando uma política de reparações econômicas a descendentes de vítimas de crimes raciais nos Estados Unidos.
O link Masked Vigilantes in Pop Culture apresenta um memorando escrito por Petey sobre a iminente estreia de American Hero Story - série sobre os Minutemen - que, em sua segunda temporada, aborda o herói Justiça Encapuzada. O documento revela que a emissora responsável pelo programa, que em sua primeira temporada contou a história de Rorschach, espalhou diversas propagandas sobre o seriado pela cidade, incluindo um bem em frente ao prédio do FBI, onde trabalha Laurie Blake, ex-Espectral. Em consideração ao passado da colega, Petey sugere entrar com um processo para remover o outdoor em frente à sede.
O terceiro recorte feito no site é uma matéria sobre o desaparecimento de Judd (Don Johnson), capitão de polícia morto no primeiro episódio. O artigo, que já considera o oficial morto por conta das ações do Departamento de Polícia de Tulsa, relembra a vida profissional de Judd, desde sua carreira militar na “libertação” do Vietnã (agora parte dos Estados Unidos)até sua chegada ao comando dos oficiais da cidade após sobreviver à Noite Branca. Entre outros pequenos detalhes da vida do capitão (como o grande número de policiais em sua família), o jornal revela ainda que Judd não usava máscara porque, ao contrário de seus subordinados, a mesma lei que permitia que policiais ocultassem suas identidades, pedia transparência de agentes em cargo de liderança.
Capítulo 3 - She Was Killed by Space Junk
Watchmen/Divulgação/HBO
O segundo capítulo de Watchmen trouxe a bombástica revelação de que o xerife Judd Crawford guardava um manto da Klu Klux Klan em um compartimento secreto de seu guarda-roupas e um quadro de George Catlin que retrata uma estratégia de guerra de povos nativos americanos. Dentre os documentos revelados pela 3ª Peteypedia está uma carta que explica parcialmente a relação entre esses artefatos controversos. Escrita em 1955 por Joe Keene, senador que criou uma lei que proibia a atuação de vigilantes mascarados na década de 1970, a correspondência destinada ao pai de Judd explica que a obra é um “empréstimo” que o então xerife fez por merecer graças a sua atuação em um misterioso evento ocorrido na noite anterior. Com um linguajar carregado de expressões discriminatórias e calcado em tradições, Keene afirma que a pintura representa quão formidáveis seus “selvagens inimigos” podem ser e que deve servir de inspiração. Entretanto, ele frisa que a pintura é um “totem de responsabilidade” que deve ser passado adiante. Levando em consideração que a série se passa 64 anos após o envio da carta, ainda não ficou claro quão envolvida a família Crawford - ou Keene - prosseguiu durante os anos que se passaram.
O memorando de Dale Petey da semana é uma espécie de crítica à American Hero Story, a série de TV sobre os Minutemen. Frustrado pela excessiva dramatização a respeito da trajetória do grupo, o agente denuncia a produção como muito distante da realidade, a ponto de ser “prejudicial”. Dentre os principais prejudicados por essas “liberdades criativas”, estão o Comediante, cuja sangrenta trajetória a serviço dos EUA foi atenuada para servir com uma rasa discussão a respeito de masculinidade tóxica, e Sally Jupiter, a primeira Espectral. De acordo com Petey, Sally é retratada como uma falsa combatente do crime, cujas ações não passavam de dramatização para ser aceita como membro dos Minutemen. Ele cita também o Justiça Encapuzada, o mais misterioso dos heróis cuja trajetória se mantém incógnita graças à falta de fatos comprovados. Ele cita que a abordagem da série é abertamente baseada em Sob o Capuz, o livro escrito pelo primeiro Coruja. Fragmentos da publicação estavam presentes na própria HQ de Alan Moore, mas de acordo com o memorando, não passam de memórias “desleixadas e sentimentais”, portanto não confiáveis.
Por fim, é apresentado um artigo do The New Frontiersman, jornal de extrema-direita lido por Rorschach na HQ original. Assinado por Hector Godfrey, editor da publicação desde os anos 1980, o texto faz diversos ataques ao presidente Robert Redford, que, por suas políticas progressistas, é acusado de tentar tornar os EUA um país comunista. Com uma retórica inflamada, o texto faz uma espécie de recapitulação das últimas décadas da política do país, e faz uma sutil campanha para que seus leitores votem em Joe Keene Jr (James Wolk). Em um dos trechos mais alarmantes, Godfrey faz uma sutil saudação a Sétima Kavalaria, grupo supremacista branco que veste a máscara de Rorschach: “Eu os saúdo, bons soldados. Vocês honram a máscara preto-e-branco que vocês vestem. Mas eu concordo com Senador Keene aqui: não posso tolerar seus métodos”. Por fim, ele cria uma nova teoria conspiratória de que a saída para os “verdadeiros patriotas” é se mudar para marte junto com o Doutor Manhattan.
Capítulo 4 - If You Don’t Like My Story, Write Your Own
Watchmen/Divulgação/HBO
O primeiro link disponibilizado para o quarto episódio mostra, com trechos ocultados, o interrogatório de Laurie após ela e Daniel Dreiberg, o Coruja, serem presos pelo assassinato de um homem que procurava explodir um empreendimento em Tulsa. Durante o interrogatório, a ex-Espectral e então Comediante revela que é a empresa de Dreiberg, a MerlinCorp., que dá aos heróis as armas e financiamento necessários para combater o crime. A vigilante ainda conta aos policiais que o próprio Coruja é responsável por financiar as forças policiais e seus equipamentos, esclarecendo as semelhanças entre os veículos voadores do herói com as viaturas dos oficiais. Em mais um detalhe curioso, Laurie conta que o vibrador inspirado no Doutor Manhattan, apresentado no terceiro episódio, foi criado por Dan após eles se separarem - ele queria uma família, ela queria “armas” -, pois o herói acreditava que a namorada ainda tinha sentimentos pelo ex.
O segundo link mostra os planos de um projeto recuperados pela polícia após uma operação na MerlinCorp. A folha mostra uma planta com os conceitos do vibrador de Laurie, assinado por Dan. As especificações do aparelho mostram que ele é feito com lítio, material banido por causar câncer (algo citado tanto na série quanto no interrogatório da Comediante/Espectral) e que tem sido coletado pela Sétima Kavalaria desde o começo da minissérie.
Capítulo 5 - Little Fear of Lightning
Watchmen/Divulgação/HBO
No memorando divulgado após o quinto episódio, Dale Petey volta a falar sobre American Hero Story. O agente denuncia a abordagem descuidada com que a série adaptou o traumático episódio da tentativa de estupro da Espectral pelo Comediante. A forma extremamente violenta (beirando ao fetichismo) com que a questão é abordada na série preocupa Petey, especialmente porque a série depois mostra a relação sexual entre Justiça Encapuzada e Capitão Metrópole com a mesma estética, rebaixando o papel da Espectral como uma mera escada para a trajetória do Justiça Encapuzada. Por fim, Petey também explica que anos depois, a Espectral e o Comediante se reencontraram e tiveram uma relação consensual cujo fruto foi Laurie, a segunda vigilante a utilizar o nome de Espectral.
O memorando também explica sobre a evolução de Laurie após a conclusão do quadrinho. Petey revela que após descobrir a identidade de seu verdadeiro pai, ela passou a utilizar o sobrenome Blake e, um ano após a morte de sua mãe, passou a agir como vigilante sob o nome de Comediante - com direito a um novo traje com uma máscara. Como revelado anteriormente, Laurie foi presa por vigilantismo. Em troca de sua liberdade, ela foi chamada para trabalhar em uma força anti-vigilante para o FBI.
Além do memorando de Petey há também um folheto de propaganda de Nostalgia, substância deixada por Will Reeves (Louis Gossett Jr.) que Angela Abar (Regina King) ingere no fim do quinto episódio. De acordo com a propaganda, o medicamento “transforma memórias de sua escolha em pílulas facilmente digestíveis que te possibilitam a viver aquelas memórias da forma mais lúcida possível”. A propaganda revela que este produto é criado pelas Indústrias Trieu e esclarece que junto das memórias, ele traz também as emoções vividas durante o momento que foi guardado na pílula. Por fim, há um aviso sobre efeitos colaterais de Nostalgia, que vão desde parada cardíaca a orgasmos involuntários.
Por fim, a quinta postagem da Peteypedia traz um folheto de um grupo de apoio para vítimas do ataque do “monstro alienígena” de 1985. A publicação pode ser vista no quinto episódio durante um encontro de uma dessas associações gerenciada por Looking Glass (Tim Blake Nelson). O folheto apresenta a Extra-Dimensional Anxiety (Ansiedade Extra-Dimensional em tradução livre), um transtorno similar ao Estresse Pós-Traumático causado pelo encontro com “Entidades Cefalópodes Exóticas”, detalhando seus sintomas, formas de tratamento e especialmente a importância de procurar ajuda.
Capítulo 6 - This Extraordinary Being
Watchmen/Divulgação/HBO
O memorando divulgado pelo site referente ao sexto episódio não foi escrito, como os outros, por Petey, mas por Laurie, relatando o que ela presenciou após Angela (Regina King) engolir as pílulas de Nostalgia de Will (Louis Gossett Jr.). De acordo com o documento, a detetive, apesar não responder a nenhum estímulo externo por um longo período de tempo, repetiu palavra por palavra do que seu avô disse em suas memórias, expondo, assim, a identidade verdadeira do Justiça Encapuzada pela primeira vez.
Segundo Laurie, Angela também parece ter relatado como Will causou a morte de Judd, usando o mesmo método de hipnose utilizado pela Ciclope, facção da KKK infiltrada na polícia de Nova York da qual o capitão de Tulsa “quase definitivamente” fazia parte. A agente do FBI ainda acredita que a organização está ligada, nem que seja de maneira distante, à Sétima Kavalaria.
Em outros pequenos detalhes de seu memorando, Blake pede que Petey envie uma equipe à casa de Looking Glass, suspeitando que ele também pode ser parte da Kavalaria - trecho que deixa claro que a cena final do quinto episódio pode ainda não ter acontecido - e avisa que irá interrogar novamente a esposa de Judd para ter certeza de que a mulher não sabia do envolvimento do marido com as facções racistas.
O segundo documento, este sim assinado por Petey, traz um resumo da vida de Nelson Gardner/Capitão Metrópole (Jake McDorman), assim como as ordens de seu testamento. De acordo com o texto, o vigilante morreu em 1974, voltando de um protesto contra a exclusão da 22ª emenda à constituição americana, que permitiu que a reeleição de Nixon para um terceiro mandato em 1976 - na história alternativa de Watchmen, o escândalo de Watergate nunca chegou a ser divulgado.
O testamento de Gardner ordenava que todas as suas posses fossem deixadas para Will, que, na década de 1970, largou a polícia de Nova York e vivia trabalhando em um cinema no Harlem, bairro da cidade. Diferentemente do episódio, que mostrava Metrópole usando a imagem do Justiça Encapuzada para legitimar os Minutemen, o testamento do herói revela que existia algum sentimento na relação dos dois.
Em um parágrafo mais pessoal, Petey admite nunca ter imaginado que o primeiro herói da história poderia ser um homem negro, fazendo um autocrítica por conta de seu preconceito.
Por fim, a sexta postagem da Peteypedia traz um artigo de um jornal de Tulsa sobre fatos e mitos sobre a misteriosa Lady Trieu (Hong Chau), incluindo sua infância reclusa no Vietnã, a criação dura de sua mãe e os vários projetos desenvolvidos por ela relacionados ao Dr. Manhattan, como a instalação das cabines telefônicas para Marte, imagens via satélite que mostram o ser todo-poderoso criando e destruindo castelos de areia e a prova de que o “escândalo” do câncer criado nos 1980 era mentira, permitindo que o lítio sintético voltasse a ser usado.
Entre os vários rumores que circulam sobre a empresária estão a possibilidade de ela ser filha de Edward Blake/Comediante, ter um caso antigo com o presidente Robert Redford e de que o relógio atômico que está construindo em Tulsa seria, na realidade, uma máquina do tempo - teoria que também circula na internet desde a primeira aparição de Trieu na série. Este último ítem, aliás, é o único a apresentar tanto a palavra “fato” quanto “ficção”, dando volume ao rumor iniciado pelos fãs da série.
Capítulo 7 - An Almost Religious Awe
Watchmen/Divulgação/HBO
O memorando semanal de Dale Petey investiga Sister Night, o filme que inspirou a outra identidade de Angela Abar. De acordo com o agente, o longa foi lançado em 1977 durante a febre dos “Máscaras Negras”, nome dado a produções que parodiavam vigilantes mascarados feitas por pessoas negras. Entre as produções estão The Black Superman (o Superman Negro em tradução livre), Tarantula e curiosamente Batman, que nesse universo é uma versão do Coruja.
Petey revela que essa febre fez muito sucesso com a população afro-americana, que migrou em massa para o Vietnã após a vitória dos EUA para fugir do racismo da era Nixon (período em que se passa a HQ original), e que de certa forma faziam uma crítica a onda de vigilantes mascarados protagonizada por pessoas brancas.
Sister Night acompanha Pamela Davis (homenagem dupla à atriz Pam Grier e a ativista Angela Davis), que é freira de dia e vigilante à noite. Assim como Angela, sua origem está ligada ao assassinato de seus pais, que motiva sua luta contra traficantes sexuais e gangsters de colarinho branco. Entre suas frases de efeito estão “o diabo criou o problema do mal; Deus me criou para resolvê-lo” e “Sabe por que Jesus quer que você dê a outra face? Para que eu possa socar essa também”.
O documento revela também que Will Reeves comprou o cinema no Harlem em 2017, que exibe o longa toda a noite desde então. Curiosamente, Angela passou a atuar como Sister Night nesse mesmo ano.
Outro documento anexado nessa nova versão é uma ficha médica a respeito do “acidente” que Cal teria sofrido. Em 23 de dezembro de 2009, Calvin Jelani deu entrada em um hospital por estar um “estado confuso” graças a uma concussão leve. De acordo com o relatório, ele tinha uma marca na testa que sugeria um acidente, mas desapareceu em questão de dias. Angela Abar acompanhou Calvin, ficando a frente da maior parte da conversa com o médico.
Empregado da empresa de construção Pyramid Global, que pertencia a Adrian Veidt, Cal sofreu dos transtornos fuga dissociativa e perda de identidade. O documento afirma que ele se encontrava “passivo e quieto, educado e sereno”, condição rara para pacientes com o mesmo diagnóstico. Uma anotação do médico afirma que ele teve muito interesse em seu boneco do Doutor Manhattan.
Capítulo 8 - A God Walks Into Abar
Watchmen/HBO/Divulgação
Com dois documentos assinados por Petey, a atualização da Peteypedia relativa ao oitavo episódio de Watchmen adianta alguns acontecimentos do capítulo final da minissérie, então cuidado com spoilers. O primeiro link apresenta mais um dos tradicionais memorandos da Força-Tarefa Anti-Vigilantes do FBI, revelando que um cataclisma deve acontecer em Greenwood, mesma região afetada pelo massacre racial de Tulsa de 1921, mostrado no primeiro episódio da série.
De acordo com o texto de Petey, diversos corpos foram encontrados no local e um deles pode ser de Laurie Blake, com quem o agente não tem contato desde que ela foi capturada pela Sétima Kavalaria, no sétimo episódio da série. Além da ex-Espectral, outros dois nomes, ocultados do documento, podem estar entre os mortos. Pelo contexto de “A God Walks Into Abar” e “An Almost Religious Awe”, é possível que Angela, Cal/Dr. Manhattan, Will, Looking Glass, Senador Keene ou Lady Trieu estejam entre os mortos do próximo capítulo.
O memorando ainda cita Fogdancing, um livro escrito pelo mesmo autor fictício dos quadrinhos Contos do Cargueiro Negro mostrados na HQ de Alan Moore e Dave Gibbons. De acordo com Petey - fã confesso da obra -, o livro sobre estresse pós-traumático é um ponto em comum entre diversos vigilantes mascarados, com Traça, Comediante, Looking Glass e Ozymandias sendo citados entre os heróis que possuíam o livro. O último, aliás, é visto lendo Fogdancing em sua cela na cena pós-créditos do oitavo capítulo.
Outra coincidência apontada no memorando de Petey é o fato de Looking Glass possuir a edição de uma revista na qual um resumo do livro assinado pelo agente foi publicado como parte de um concurso. O texto em si é mostrado no segundo documento da Peteypedia da oitava semana.
A trama do livro lembra um pouco a história do Dr. Manhattan: um super-soldado usado pelo governo se apaixona perdidamente por uma mulher e submete ao uso de drogas experimentais para deixar de lado seus pesadelos causados pelo estresse pós-traumático, algo semelhante ao herói todo poderoso que abre mão de suas habilidades e memórias para poder ficar com Angela. Assim como Manhattan, o protagonista do livro conta à amada sobre seu passado assassino e, não só é aceito, como se torna parte da vida da personagem. Tal qual o herói azul em “A God Walks Into Abar”, o soldado de Fogdancing acorda de um coma e descobre que o experimento e sua vida amorosa foram uma mentira - assim como a identidade Cal Abar - e, não aguentando o peso de suas ações, comete suicídio do mesmo jeito que Manhattan é capturado pela Sétima Kavalaria ao fim do oitavo capítulo.
Capítulo 9 - See How They Fly
Watchmen/HBO/Divulgação
Curiosamente, o último documento da Peteypedia não é assinado por Dale Petey, e por uma boa razão. O memorando de Max Farragut (David Andrews), diretor do FBI que aparece no terceiro episódio da série, revela que Petey foi demitido da agência. Ele teria desobedecido a decisão do órgão de suspender a investigação a respeito de vigilantes mascarados após os eventos do último episódio da série - “as mortes simultâneas de um Senador dos EUA e uma distinta bilionária”. Recusando-se a retornar a Washington, ele está desaparecido, e por consequência, desligado de seu cargo.
Farragut afirma que como Petey sumiu seus pertences serão doados. Entre eles, estão “várias cópias dos Diários de Rorschach, centenas de HQs e um jarro do que parece ser algum tipo de óleo de canola”. Esse último é outra sugestão de que Dale Petey possa ser o mascarado apelidado de Lubeman (Homem-Lubrificante). A Peteypedia do oitavo episódio já havia levantado suspeitas de que o agente pudesse ser o misterioso personagem que apareceu no quarto episódio. Afinal, a descrição do traje utilizado por personagens do livro Fogdancers condizem com o visual do vigilante. O memorando ainda reforça que ele é obsessivo por heróis com um risco de assumir comportamento vigilante.
Dentre os pertences do rapaz, o único que está indisponível para doação é o álbum The Manhattan Project (O Projeto Manhattan, em tradução livre) da banda The Nine Inch Nails. Essa é uma clara referência à banda Nine Inch Nails (sem o The) que existe no mundo real e é comandada pelo vocalista Trent Reznor, um dos responsáveis pela trilha sonora da série. De acordo com Farragut, foi um “prazer pessoal destruir esse tipo de ‘música’ a pedaços”.
Além de Petey, o documento dá uma pequena pista sobre o desfecho de Laurie Blake, que ressurgiu “viva e bem” após o misterioso desaparecimento em Tulsa. No nono episódio, ela é teletransportada pelo próprio Doutor Manhattan para o Karnak, a antiga base de Ozymandias. Como decidiu levar Adrian Veidt à justiça, a ex-vigilante passa por um interrogatório em um local secreto devido à gravidade das descobertas - as quais nem o próprio Farragut tem acesso, mas sabe que envolvem “fraudes e conspirações ligadas ao presidente”.