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Entrevista

Ahsoka revisita legado de Star Wars ressignificando erros e acertos

Dave Filoni une televisivo e cinematográfico em 5º capítulo que homenageia a história da franquia

13.09.2023, às 18H09.

Ainda que a aparição de Anakin (Hayden Christensen) em Ahsoka não fosse nenhum segredo, poucos poderiam antecipar a forma como o reencontro do falecido Jedi com sua padawan abraçaria cada fase de Star Wars — por mais divisiva que ela fosse. Escrito e dirigido por Dave Filoni, o quinto episódio da minissérie utilizou conceitos, coreografias e até diálogos de títulos anteriores da franquia, não como um apelo nostálgico, e sim como uma espécie de contexto retroativo.

As referências mais óbvias do novo capítulo, obviamente, são aquelas que remetem às outras produções de Filoni na Lucasfilm. Fazer Ahsoka (Rosario Dawson) relembrar batalhas marcantes para seu crescimento ao lado de um Anakin pós-redenção explicita sua evolução para o público e justifica seus esforços para impedir a volta do Grande Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen). Para a ex-Jedi, o retorno do vilão confirma seu grande medo de ter desperdiçado anos treinando para deixar um legado de morte e violência, tal qual o de seu antigo mestre.

Ao colocar o histórico assassino de Anakin em pauta, Filoni força o público a lembrar que ele não é apenas o jovem angustiado da Trilogia Prólogo. O suposto Escolhido foi um comandante preocupado com seus soldados, um professor, um aprendiz e, mais importante, um pai — neste contexto específico, para Ahsoka. Ele cedeu ao Lado Sombrio anos atrás, mas tem um impacto muito maior na história da galáxia do que apenas o “cão de caça” de Palpatine.

Trazer essas camadas de Anakin à tona mostram que a própria Ahsoka ainda tem muito a aprender, como bem representa a presença de Ariana Greenblatt como uma versão adolescente da guerreira. Assim como seu mestre, a togruta não se resume apenas ao seu papel nas Guerras Clônicas e na Guerra Civil e continua um legado milenar que passa ainda por Obi-Wan Kenobi, Qui-Gon Jinn, Conde Dooku e por aí vai.

Filoni ainda usa esse confronto entre mestre e aprendiz para validar momentos recentes de Star Wars que não foram tão bem aceitos por uma parcela dos fãs. Ao mostrar o espírito de Anakin alternando livremente entre os Lados Sombrio e Luminoso, o cineasta abre a discussão sobre a visão “preto e branco” mostrada pelos Jedi ao longo da franquia — algo que Rian Johnson já havia feito em Os Últimos Jedi. Com Ahsoka, o pupilo de George Lucas borra a linha entre certo e errado estabelecida pelos Cavaleiros da República, lembrando que a galáxia é muito maior e tem muito mais nuances do que as mostradas nos seis longas da era pré-Disney.

Além do roteiro, a parte técnica do episódio também traz homenagens a outras fases de Star Wars. A trilha de Kevin Kiner, por exemplo, dá uma roupagem grandiosa a faixas de Clone Wars e Rebels e as mistura com alguns acordes das composições de John Williams para a Saga Skywalker. Essa “intersecção” entre televisivo e cinematográfico dá a Ahsoka uma atmosfera épica que não é sentida na franquia desde a primeira temporada de The Mandalorian.

O próprio duelo entre Anakin e Ahsoka cria um amálgama entre as coreografias acrobáticas da Trilogia Prelúdio e a visceralidade quase básica da Trilogia Sequência. Mais do que uma mera escolha estética, essa união mostra que tanto o cru e o rebuscado têm lugar em Star Wars, desde que feitos com cuidado e carinho.

Mesmo que não tenha vergonha de se apoiar em referências diretas ao que veio antes, com o final da Parte Cinco inclusive “parafraseando” o encerramento de O Império Contra-Ataca, o capítulo mais recente de Ahsoka é muito mais do que um exercício nostálgico. Ao englobar elementos tanto de histórias queridas quanto infames, a minissérie convida os fãs de Star Wars a olhar além dos seis filmes originais de Lucas e se abrirem às novas ideias que surgirão no futuro da franquia.