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Andor é o melhor “tapa-buraco” de Star Wars até agora

Série do Disney+ usa personagem antes dispensável para contar história mais séria da franquia até agora

12.10.2022, às 19H31.

Os esforços da Disney para expandir o universo de Star Wars para além da Saga Skywalker resultaram em produções bem divisivas. Com exceção de The Mandalorian, praticamente todos os filmes e séries lançados após a compra da Lucasfilm racharam o fandom da franquia no meio, seja por excesso de nostalgia, execução ruim de roteiros ou mesmo a “desmistificação” de alguns personagens emblemáticos. Já quando se prendeu à Saga Skywalker, o estúdio se deu por satisfeito com a criação de vários títulos “tapa-buraco”, dedicando centenas de milhões de dólares a “aventuras” introduzidas por dois ou três diálogos dos Episódios principais. Uma dessas histórias foi Rogue One: Uma História Star Wars que, por mais que tenha superado as expectativas baixíssimas criadas por uma produção conturbada, não deixa de ser um filme relativamente esquecível e cuja grande vitória chegou apenas em 2022, com a série derivada Andor.

No papel, o programa do Disney+ tinha tudo para dar errado, afinal, é um spin-off de outro spin-off, centrado no – sendo bonzinho – quinto melhor personagem de Rogue One, cujo principal problema foi não conseguir fazer o público se conectar com seus protagonistas. Mas, indo contra qualquer expectativa pessimista, Andor aprendeu com os erros de Han Solo e O Livro de Boba Fett e, ao mesmo tempo em que explica a história de seu protagonista, mantém certo mistério que o torna bem mais cativante do que foi em sua aparição original.

Ao invés de dissecar Cassian e, com isso, arriscar perder a aura misteriosa que o cerca, Andor investe naqueles à sua volta e mostra como o personagem, apesar de falho, torna cada pessoa que toca melhor. Assim, o futuro rebelde é desenvolvido de forma calculada e, mesmo que o público siga sem saber boa parte de sua vida, ele se torna bem mais identificável do que o soldado pessimista e rabugento apresentado no longa de 2016.

Outro trunfo usado por Andor é a forma explícita com que lida com as consequências da guerra e do imperialismo. Sim, Star Wars sempre foi uma história política, com Império e Rebelião servindo, respectivamente, como metáforas para os Estados Unidos e o Vietnã, mas sua visão do embate sempre se limitou ao pequeno grupo que cercava os Skywalker. Agora, vemos e sentimos os efeitos que a ditadura exploradora de Palpatine tem sobre pessoas e comunidades comuns e como esse regime opressivo levou o povo da galáxia a se unir e dizer “basta”.

Ao mesmo tempo, Andor não perde a fantasia inerente a Star Wars de vista em nenhum momento. O derivado entrega novos planetas, dróides encantadores e criaturas bizarras, conectando-se ao restante da franquia sem apelar para a mesma nostalgia barata empregada em Obi-Wan Kenobi ou A Ascensão Skywalker. A série é, por enquanto, a expansão mais eficaz do universo criado por George Lucas nas mãos da Disney, somando à sua mitologia ao mesmo tempo em que constrói uma identidade própria.

Andor também tem um cenário infinitamente mais palpável do que qualquer outra produção de alto orçamento atualmente. As locações reais da série contrastam bastante com o uso exagerado de CGI e do Volume em muitas produções, o que permite uma imersão muito maior por parte do espectador. Seja durante protestos contra guardas de gatilho solto ou caminhadas por grandes planícies, é relativamente fácil se sentir parte dos novos planetas apresentados no seriado – algo que, convenhamos, tem se tornado cada vez mais raro em obras audiovisuais milionárias.

Claro, Andor acabou de chegar à metade de sua primeira temporada e não é possível prever o impacto que a série terá no legado de Star Wars. Mas, por enquanto, ela compete com The Mandalorian pelo posto de melhor coisa que a Disney criou para a franquia.