Não é de hoje que fãs e o público geral desconfiam de Star Wars. Os altos de baixos da franquia nos últimos anos fizeram com que a sensação de descontrole criativo dominasse boa parte da audiência. Há quem discorde, pois Andor, Mandalorian, Visions e até Ahsoka são bons exemplos de produções da marca – o negócio é que os vales são mais gritantes que os picos. Acolyte, Obi-Wan, Livro de Boba Fett e o famigerado Episódio IX existem como lembretes amargos vindos da galáxia muito, muito distante.
Skeleton Crew, a nova tentativa de derivado de Star Wars, entra no primeiro grupo. No grupo dos acertos, do êxito baseado na expansão do universo sem necessariamente descartar a nostalgia que alimenta a base que sustenta a comunidade. A aventura de um grupo de crianças (Ravi Cabot-Conyers, Ryan Kiera Armstrong, Kyriana Kratter e Robert Timothy Smith) com um suspeito “pirata Jedi” (Jude Law) é assumidamente um pequeno pedaço da galáxia, sem nenhuma afiliação direta ao cânone maior, mas nem por isso deixa de ter classe e dinamismo na narrativa, ou mesmo grandiosidade nos ambientes e tramas.
Diferente de séries como Acolyte e Kenobi, que sofriam para conseguir dar o escopo físico aos cenários e até mesmo às interações entre personagens, Skeleton Crew assume de início que vive num subúrbio da galáxia e foca nos sonhos e problemas das crianças no planeta At Atin. Os três primeiros episódios, tudo que foi disponibilizado ao Omelete, deixam evidente a importância de ter diretores como David Lowery, que mesmo com pouquíssimo tempo e um roteiro simples, consegue guiar a história de forma encantadora na medida para o espectador precisar do próximo episódio.
Skeleton Crew não é sobre teorias, participações especiais e nem mesmo sobre os mistérios comuns de Star Wars, apesar de brincar com eles o tempo todo. O cerne da história está interação entre quatro jovens, um robô e, acredite, “altas confusões no espaço”. Todas as comparações com E.T. e Goonies são acertadas É impossível não lembrar destes filmes enquanto se assiste, mas não é como se isso alienasse uma parte da audiência – a receita da jornada segue universal e atemporal. A trilha de Mick Giacchino (filho de Michael Giacchino) é daqueles acertos raros, que embalam os episódios sem precisar ser marcante o tempo inteiro, mas brinca no ritmo ideal para renovar a sensação de estar no universo de Star Wars.
O início de Skeleton Crew é uma prova de que Star Wars não será salvo com truques mirabolantes. A solução está na simplicidade que fez a franquia se tornar o fenômeno que é. É bom lembrar, porém, que ser simples não é simples, e são os toques visuais de cineastas como Lowery, junto com a atuação de Jude Law – numa mistura de Jack Sparrow com Han Solo que funciona como uma luva na história criada por Jon Watts – que elevam o pacote. Se a ideia é renovar a marca por meio de um sentimento de nostalgia que não está atrelado a Skywalkers, Palpatines ou Estrelas da Morte, até agora, tudo deu certo, pois é difícil não querer ver mais um episódio de Skeleton Crew.