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Mr. Mercedes dá sinais tímidos dos rumos sobrenaturais da segunda temporada

Apesar de morno, episódio de estreia estabelece boas bases para o novo embate entre Bill Hodges e Brady Hartsfield

23.08.2018, às 18H52.

[Cuidado: spoilers a seguir]

Mr. Mercedes/Audience Network/Reprodução

Com a promessa de trazer o fator sobrenatural para a dinâmica gato e rato de seus protagonistas, Mr. Mercedes deu início à sua segunda temporada com um episódio bastante morno. Tratando a transformação de Brady (Harry Treadaway) em uma espécie de super-vilão como um elemento secundário, “Missed You” prefere focar em uma trama arrastada para estabelecer os novos personagens. As pistas do lado fantástico prendem a atenção, mas é a derrocada final de Hodges (Brendan Gleeson) que realmente envolve o espectador.

Um ano depois da tentativa frustrada do atentado, o detetive aposentado é um novo homem. Além de deixar para trás alguns dos seus velhos hábitos, como o álcool, ele dá passos consideráveis para seguir em frente. Brady, por sua vez, ainda está em coma, com poucas esperanças de recuperação. Ainda assim, Hodges sente que a história do assassino do Mercedes não acabou. E ele definitivamente está certo.

Nas mãos de um médico renomado, Felix Babineau (Jack Huston), o assassino se torna cobaia de uma droga experimental e, já com pequenas doses, começa a ter uma melhora significativa. Mais do que a recuperação cerebral, surpreendentemente imperceptível nos exames, ele ganha uma nova habilidade: passa a controlar a mente de algumas pessoas à sua volta. Os indícios dessa nova habilidade são sutis até que ele de fato desperta, ao final do episódio.

A trama é razoavelmente simples, mas o episódio perde muito tempo com o debate interno de Felix sobre sua ética profissional. Casado com uma das representantes da corporação farmacêutica por trás do novo medicamento, ele é cobrado repetidas vezes pela esposa para aplicar as doses da droga. Cria-se, assim, toda uma dinâmica de manipulação pouco interessante, que culmina em uma resolução forçada e pouco verossímil. Mesmo a química entre Huston e Tessa Ferrer não segura esta parte do capítulo. Faltaram concisão e melhores ideias aos roteiristas para introduzir o jogo do médico e o monstro que vem pela frente.

A evolução de Bill Hodges e seu eventual retrocesso também se estende mais do que o necessário. No entanto, ela é importante para dar o real impacto da morte de Pete (Scott Lawrence) e trazer uma reflexão interessante, que deve pautar o destino do personagem até o final da temporada. Além disso, a familiaridade com Gleeson e o próprio carisma do ator tornam esse enredo mais atraente.

Sem dúvida, ele e o restante do elenco voltam com muita segurança, repetindo as performances que conquistaram os fãs no primeiro ano. Gleeson traz novamente um misto de leveza fofa e completa desesperança, enquanto Treadaway mantém os trejeitos caricatos do psicopata.

Assim, no fundo, “Missed You” funciona como uma espécie de prólogo para a nova temporada. Resta torcer para que os próximos episódios saiam desse lenga-lenga entre Felix e sua esposa para focar de verdade nas novas habilidades de Brady. Porque se ele chocou na primeira temporada pela sua severa psicopatia, a expectativa é que agora o personagem ganhe novas camadas de perversidade.