David Corenswet em Superman (Reprodução)

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Superman: Warner tem motivos para estar preocupada com o filme ou não?

Recepção do trailer e rumores apontam incertezas sobre o filme que estreia em julho de 2025

23.12.2024, às 10H08.

O assunto mais comentado da última semana foi o trailer de Superman. Recheado de luzes, cores, referências aos quadrinhos e uma tonelada de reverência ao herói mais famoso da Terra, a prévia bateu recordes de audiência (superou Deadpool & Wolverine), dividiu parte do fandom da DC (como esperado) e levou insiders a falarem sobre a suposta “má recepção” do filme nos corredores internos da Warner Bros.. Mas será que o estúdio tem motivos para ficar receoso após tamanho sucesso do primeiro trailer?

Só existe uma resposta possível para essa pergunta, e ela é SIM - mas não pelos motivos pautados por rumores, como o divulgado por Jeff Sneider, jornalista que disse existir uma “preocupação” interna na Warner com o corte exibido para um público seleto, e que teria descrito o filme como “uma bagunça”. Aliás, não é só Sneider que ouviu esse tipo de comentário sobre o projeto: há sim, de fato, preocupação com o filme dentro da Warner, mas não necessariamente pelo corte, que até onde sabemos, não foi mostrado para ninguém fora do ciclo de Gunn. Existe um fator muito mais simples e importante para o estúdio se sentir pressionado e extremamente cuidadoso com qualquer passo do longa, e ele se chama "DC nos cinemas".

Em 2024, quase nada deu certo. Podemos até dizer que em 2023 e 2022 também não, com exceção de Batman, de Matt Reeves. Desde o Coringa de 2019, na verdade, nenhum filme com o selo DC Comics ultrapassou os US$450 milhões em bilheteria, antes, durante e pós-pandemia. Só nos últimos dois anos, Aquaman 2, Coringa 2, Shazam 2, Besouro Azul, Aves de Rapina, Mulher-Maravilha 2, Adão Negro e Flash acumularam recepções de público e crítica negativas - só O Esquadrão Suicida, de Gunn, teve boa recepção de crítica. Flash, tido como grande aposta para reviver o DCEU, amargou míseros US$266 milhões de arrecadação, custou mais de US$200 milhões e carregou uma avalanche de comentários negativos por todos os lados. Por isso, com um histórico recente tão complicado, como não haveria preocupação com o que Superman fará nos cinemas?

A questão é que, como o próprio David Zaslav, CEO da Warner Bros. Discovery, fala sempre que pode, a empresa precisa fortalecer suas principais marcas. E quando tentou fazer isso com a DC nos últimos anos, como fez com Harry Potter ou com Senhor dos Anéis, por exemplo, nada saiu como o planejado. Logo, é natural que o clima em Burbank, onde fica a sede da Warner, não seja o mais tranquilo. Os acionistas viram um 2023/2024 com poucos sucessos e agora a aposta é no recomeço de tudo nas mãos de quem soube unir fidelidade, comunidade e assinatura no cinema de quadrinhos na rival Marvel: o diretor e executivo James Gunn.

A boa notícia é que ao escolher Gunn e Peter Safran para presidir o novo DC Studios, Zaslav colocou nas mãos de dois ótimos nomes a responsabilidade de reconstruir o mundo de Superman, Batman e Mulher-Maravilha. Gunn não só criou a trilogia dos Guardiões da Galáxia na Marvel, como auxiliou na produção e escrita de Vingadores, fez a ótima Pacificador e preza antes de tudo por um roteiro coeso para qualquer projeto que ganhará vida. Então, se Zaslav os escolheu, sabia que tudo isso estaria no pacote e teve que concordar com a autonomia que Gunn sempre pediu em seus projetos, o que traz uma natural preocupação em uma empresa que não pode mais errar quando o assunto é franquia.

Mas vale voltar um pouco no tempo para entender os motivos destas supostas “más impressões” sobre o primeiro corte de Superman, e até compreender melhor como estes testes de audiência são feitos. Geralmente, com cineastas com assinaturas mais marcantes e releituras de grandes franquias, é muito raro que haja uma reação positiva sobre as primeiras exibições. Ainda quando estava na Marvel, Gunn não teve ótima recepção com seu Guardiões da Galáxia e o filme foi um sucesso. Flash ficou famoso por ter os melhores testes da história da DC e sabemos o que ocorreu depois. Coringa: Delírio a Dois, por exemplo, dada a tamanha liberdade criativa adquirida por Todd Phillips, sequer ganhou testes de audiência. Batman sempre testou bem e foi um acerto. Thor: Amor e Trovão foi bem recebido e não vingou nas telas. 

Ou seja, não há uma regra quando se fala nesse tipo de teste. Seja no formato, seja na recepção. É apenas uma forma que Hollywood encontrou de aos poucos moldar o filme para o gosto do que acredita ser o seu público, e nem sempre há uma concordância entre a recepção dos testes e o sucesso, e muito menos na qualidade do filme.

Por isso, é seguro dizer que, por mais que seja plausível a preocupação da Warner com o filme, não há motivos para o fã que adorou o trailer e confia na visão de Gunn para o personagem se preocupar com o projeto. A revolta com os rumores sobre a “bagunça” do filme é legítima, ainda mais pra um grupo de fãs que viu a DC sofrer tanto nas mãos de executivos perdidos nos últimos anos. Porém, tudo indica que com James Gunn será diferente, apesar da pressão que ele deve estar sofrendo internamente. O que o diretor optou por fazer, alterando quase que por inteiro a leitura que o personagem teve no cinema nos últimos 15 anos, obviamente traria uma desconfiança enorme de parte do público.

Não faltaram comentários sobre a “péssima atuação” dos figurantes, a terrível “coloração” do trailer e o tom “CW” que a prévia trouxe. E isso não veio só de fãs comuns, por assim dizer, mas de uma série de influenciadores e comunicadores gringos também. Não poderia ser diferente: a aposta é ousada, ainda que tenha completo sentido dentro do que o Superman representa, e até do que o cinema do gênero precisa - e eu comentei sobre isso neste texto, clica aqui.

O fato é que, com ou sem testes de audiência, esse Superman nasceu como uma aposta difícil, mas extremamente necessária para reviver uma marca que sofreu demais nos últimos anos. Se as primeiras reações ao filme forem positivas, de imediato vão lembrar do que falaram de Flash e os comentários de Zaslav que “era o melhor filme de herói de todos os tempos”. Se o teste for ruim, vão comentar que quem reportou não tem nenhuma credibilidade, ou que simplesmente é mentira. Isso acontece, além de todos os motivos citados acima, pela grandeza do personagem e da magnitude do projeto. E na boa? Que bom que existe esse tipo de preocupação, pois a DC não pode mais errar, muito menos com o Superman. A verdade é que o teste real de audiência vai acontecer no dia 11 de julho de 2025, e lá veremos que toda essa história vai se repetir, mas que um novo capítulo da história da DC vai ser escrito - e que ele seja tão grandioso quanto o Homem de Aço merece.