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Nope, Barbarian e os melhores filmes de terror de 2022

Ano teve direito a comeback de franquia, fechamento de trilogia e novidades inesperadas

22.12.2022, às 14H30.
Atualizada em 26.12.2022, ÀS 14H23

Já é o fim de dezembro e, a esse ponto, já cansamos de dizer que lindo ano 2022 foi para o terror. Mas, aqui estamos novamente, afinal, é hora de bater o martelo e decidir os 10 filmes mais bem-sucedidos dos últimos 365 dias de lançamentos no Brasil, e as opções não são poucas: do comeback de Pânico em janeiro até a chegada estrondosa de Terrifier 2 na última semana do ano, o terror passeou por gêneros e qualidades de um jeito lindo de assistir. 

Confira abaixo as nossas escolhas dos 10 melhores filmes de terror de 2022:

10. A Órfa 2: A Origem

A ideia de trazer Isabelle Fuhrman de volta para o papel de Esther, 13 anos depois do primeiro A Órfã, e ainda por cima de fazer desta continuação uma história de origem, parecia ao mesmo tempo absurda e absurdamente divertida, mas nada poderia realmente nos preparar para este segundo filme da improvável franquia, uma sátira de horror espertíssima sobre as mazelas escondidas do núcleo familiar tradicional (especialmente a família branca, rica e americana). Se Fuhrman segue emocionalmente poderosa no papel principal, ao qual ela retorna com a assistência - eficiente, mas sempre consciente da própria precariedade - de dublês, maquiagem e truques de fotografia, quem brilha ainda mais é Julia Stiles, afiadíssima como matriarca controladora da família à qual Esther se anexa desta vez. Ela encarna o que há de melhor em A Órfã 2: a satisfação pura com a qual o filme vira os valores cautelosos do original de cabeça para baixo e posiciona a protagonista, através de seu status subversivo, como uma figura que promete perdurar no cinema de horror. Apoiamos muito essa saga.

9. Até a Morte

Dirigido com eficiência brutal por S.K. Dale, Até a Morte mostra o valor de um thriller de sobrevivência que joga todas as suas cartas na hora e da forma certa. A começar pela escalação de Megan Fox no papel principal - antes desconfortável no meio termo entre sex symbol manipulável e ídolo adolescente de ação, aqui ela mostra inteligência na modulação da própria imagem e contenção emocional exemplar na hora de retratar uma mulher sufocada e anulada pelo próprio relacionamento. Esta é uma performance com P maiúsculo, em um filme que exige tanta fisicalidade quanto aquele carisma que concentra holofotes e faz o espectador investir na jornada de sobrevivência da personagem. Esparso e descomplicado, mas bastante honesto em suas ambições narrativas e igualmente bem resolvido em sua elaboração estética, Até a Morte é um mais do que bem-vindo acerto do terror contemporâneo fora do alcance dos estúdios (grandes e médios) que o dominaram.

8. Terrifier 2

Depois de sobreviver uma longa sessão de 1h30 de Terrifier - disponível aqui no Brasil antes da estreia da sequência, quando ela já estava fazendo pessoas desmaiarem lá nos EUA - era difícil de acreditar no hype de Terrifier 2, para além da expectativa de que ele seria certamente nojento. Mas daí o tempo passou, o Art deixou sua marca e a aguardada sequência chegou aos cinemas com muito - mas MUITO - mais do que o primeiro ofereceu. Absolutamente ciente dos vacilos do primeiro filme (como, talvez, a falta de uma história ou vítimas minimamente carismáticas), Damien Leone retornou com uma vontade divertida de assistir, brincando com sequências de sonho e usando e abusando da figura do Palhaço. A duração é muito maior, ultrapassando 2 horas, mas Terrifier 2 entrega muito mais em todos os sentidos: Lauren LaVera é uma final girl bem construída, sua família é formada por bons coadjuvantes, sua melhor amiga é perfeitamente irritante e, para completar, a trilha sonora e os efeitos de Terrifier 2 não deixam nada a desejar. Que surpresa para a reta final de 2022, um festival de sangue e violência que fez todo sentido. 

7. Fresh

Foi uma estreia tímida no Prime Video, mas a coleção de presentes que Fresh nos entrega não é nada fácil de encontrar por aí. A história de uma garota que cai nos charmes de um sujeito bom demais para ser verdade é quase como uma comédia romântica que vira terror no meio do caminho, e a diretora Mimi Cave combina tudo isso com tanta harmonia que faz com que Fresh seja uma recomendação para qualquer público. Mais do que isso, ele parece aquele terror que se delicia em estudar uma mensagem, e lembra muito o tipo de atmosfera que Bela Vingança quis deixar recentemente. A diferença aqui é a distância de um final ingrato e a construção ainda melhor de um masculino ameaçador, não só porque Cave nos dá uma belíssima cena ao som de “Perfect Day", mas porque Sebastian Stan é um deleite de assistir. Mas não pense que sair de Fresh é só amar o nosso vilão - Daisy Edgar Jones está simplesmente perfeita no papel de “toda e qualquer mulher”, e a química entre os dois é divertida demais (PS: a dobradinha Fresh e Barbarian é certeira).

6. Men: Faces do Medo

Nada do que Men: Faces do Medo fala sobre machismo é novidade - seja para qualquer espectadora mulher ou para os espectadores homens que já pararam para pensar em sua própria posição na sociedade por mais de meio minuto. Alex Garland não parece, no entanto, estar buscando um grande insight: o seu objetivo é muito mais materializar essas verdades naquele formato narrativo oblíquo e cerebral (mas também intensamente simbólico) que ele vem construindo desde a estreia na direção com Ex Machina. Men cumpre essa missão com dexteridade: construindo ligações imagéticas entre a natureza deteriorante e perigosa ao redor da casa onde se passa a ação e os assédios repetidos sofridos pela protagonista Harper (Jessie Buckley, em mais uma bela performance, que irradia energia nervosa); repetindo a escalação de Rory Kinnear, um dos grandes atores-coringas da atualidade, na pele dos diferentes algozes dela; tecendo, na base da imaturidade emocional, o paralelo entre todos eles e o marido falecido de Harper. Men faz e diz coisas simples de maneiras complicadas - e não é esse o trabalho da mitologia, um tipo de narrativa tão intimamente conectado ao horror?

4. X: A Marca da Morte

A ascensão de Ti West como um dos autores mais importantes do terror contemporâneo, desde o frisson em torno de A Casa do Diabo (2009), nunca me caiu muito bem. Embora o cineasta claramente entendesse como poucos a linguagem do gênero, sempre me pareceu que lhe faltava alguma medida de eloquência, algum propósito por trás do seu fazer cinematográfico. X: A Marca da Morte descobre esse propósito e, de quebra, ainda sinaliza a chegada de uma anarquia visual e referencial que faz bem ao cinema até então disciplinado, matemático, de West. Aqui, ele mistura chavões do musical, da pornografia, do thriller psicossexual, do horror religioso e “caipira” dos EUA, do slasher e de mais onde bem entender, tudo para construir uma história que transborda naquela mesma eloquência da qual senti falta em filmes anteriores: X é sobre a crueldade do sonho americano, o culto ao corpo jovem, a infiltração de valores conservadores no discurso progressista… e, é claro, sobre uma octogenária assassina e seu marido veterano de guerra dizimando a equipe de produção de um filme pornográfico. Entretenimento de horror com substância.

5. Morte. Morte. Morte.

Que surpreendente foi assistir um filme da A24 chegar do nada e fazer tudo que Pânico 2022 deveria ter feito. Não me entenda mal: o comeback da franquia de Ghostface fez muita coisa muito bem, mas ele vacilou ao se basear muito mais no passado e não pensar exatamente o que fez de Pânico tão especial: sua autoconsciência e o reflexo de uma geração. Morte. Morte. Morte. soube levar isso muito bem para a tela, com um leque de personagens e atrizes divertidas de assistir e alguns dos diálogos mais memoráveis do gênero este ano.

3. Halloween Ends

Que ótimo, mais uma oportunidade para defender David Gordon Green e a conclusão de sua trilogia. E eu digo isso sem nenhum traço de ironia, porque eu sinto que qualquer um que queira dar a chance que Ends merece pode perceber que aqui há um encerramento que faz tudo muito - muito - bem: Gordon Green foi capaz de deixar para trás todos os vacilos de Halloween Kills sem desrespeitar as regras que a própria produção deixou, e fez um movimento muito mais ousado do que o já ótimo Halloween (2018). Tirando proveito tanto de Jamie Lee Curtis quanto de Laurie, Halloween Ends leva a franquia para frente com originalidade, deixando novos personagens brilharem em uma inesperada jornada de amor, feita com todas as influências sonoras e visuais certas. Com um retorno violento de Michael Myers e um novo assassino em Haddonfield, Gordon Green equilibrou passado e futuro, referência e criatividade e Laurie e Michael, em um filme que defenderei até o fim.

2. Não! Não Olhe!

Que deleite foi aproveitar um dos melhores diretores que temos, Jordan Peele, com tanto orçamento nas mãos, para construir um épico de terror. Não! Não Olhe! foi feito para ver em tela IMAX e isso por si só já é demais, mas a ideia de ir para o território alienígena foi perfeita para a 3ª empreitada de Peele no comando (e até hoje não consigo me conformar com tantos paralelos que existem entre Peele e M. Night Shyamalan, que entregou também Sinais como seu 3º longa de terror). Nope (um título muito melhor e sem spoilers) é um filme para a tela grande que combina sci-fi com faroeste e faz tudo isso com aquele sempre bom-humor de Peele, aliando a história de descobertas com um baita elenco. Todo mundo aqui sabe que Daniel Kaluuya sempre entrega, mas aqui a surpresa foi ver Keke Palmer roubando a cena, em um papel que - eu espero - a leve ao Oscar. 

1. Noites Brutais

Assim como Jordan Peele antes dele, o diretor de Noites Brutais (ouBarbarian, se quiser), Zach Cregger, fez o pulo do mundo da comédia para o terror e, através da combinação das duas sensibilidades, entregou uma descarga de energia criativa extremamente bem-vinda ao gênero. Claramente apaixonado pelos clichês do horror, Cregger os executa com requinte e inteligência, sem economizar nas piscadelas para o espectador que, ele bem sabe, já viu tudo isso antes… ou será que viu? A magia de Noites Brutais é combinar o esperado com o transgressivo, especialmente em sua elaboração visual e ritmo narrativo - este é um filme que faz curvas bruscas, sim, mas também que escolhe cuidadosamente a sua pontuação, a sua forma de se revelar para o espectador. É também uma observação astuta das fronteiras geográficas da miséria e do descaso institucional, e uma condenação inflexível da egolatria masculina. Enfim, Noites Brutais merece o topo da lista porque é o horror que melhor negociou com a fragmentada narrativa contemporânea, mas também o que melhor traduziu todas as potencialidades que o gênero tem desde sempre. Atemporal e urgente, como todo grande filme precisa ser.