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Tintim no Congo | Igreja Católica defende álbum controverso

E segue na Bélgica processo que deseja banir o livro

19.11.2011, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

Completando setenta anos em 2011, o álbum Tintim no Congo comemora também quase a mesma idade de controvérsias, pela forma como Hergé representou os negros e o colonialismo belga. Mas este mês o título ganhou um aliado também controverso: a Igreja Católica.

Tintim

O L'Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano, publicou um editorial de primeira página onde diz que banir o livro - como alguns defendem na Bélgica - ou vendê-lo com avisos sobre conteúdo potencialmente ofensivo - como já acontece na Inglaterra, onde ele é envolvido por uma faixa de alerta - é um "disparate politicamente correto".

"A HQ foi publicada em 1930, e por este motivo expressa os valores de sua era - e vai mesmo perturbar os jovens britânicos de hoje, criados como são pela internet, pelos video games e pelo fish and chips?", pergunta o jornal.

O Osservatore diz que Tintim é um "herói do catolicismo" - o personagem foi criado para um jornal ligado a Igreja Católica, o Petit Vingtieme, em 1929 - e que a atitude inglesa de alerta é preconceito contra o herói belga. Pela mesma medida, os britânicos deveriam banir os escoteiros, fundado pelo "militar, escritor, mas também racista e eugenista" Lorde Baden Powell. "Mas, claro, ele era inglês", reforça o jornal.

A publicação do Vaticano reconhece que há "clichês paternalistas" no álbum e que o Congo era explorado pela Bélgica, mas destaca que a atitude de missionário de Tintim "comandando uma escola e curando os doentes" é louvável. Além disso, os africanos nunca são representados como maléficos.

Enquanto isso, na Bélgica, segue o processo iniciado no ano passado, que pede o banimento do álbum. Em outubro, um conselheiro judicial, o procurador Valery de Theux de Meylandt, recomendou aos tribunais que rejeitem a ação, dizendo que a HQ é reflexo de sua época e que para haver racismo deve haver intenção. O procurador destacou inclusive que os vilões da história são brancos.

No sistema judiciário belga, as recomendações destes conselheiros judiciais geralmente são acatadas pelos tribunais. Mas o processo ainda não tem data para terminar.