As desbocadas entrevistas de Alan Moore já estão virando clichê na indústria de quadrinhos. E mais uma foi publicada esta semana, no Bleeding Cool. A pauta foi a tentativa da DC Comics de lhe devolver os direitos autorais sobre Watchmen, em troca de prelúdios e outros novos materiais baseados na HQ de Moore com Dave Gibbons. A negociação foi revelada pelo próprio Moore em julho.
Watchmen
Na verdade, foi uma tentativa de negociação, segundo a entrevista. Pela versão de Moore, ele só teve contato com Dave Gibbons, que serviu como intermediário. Gibbons estava bastante ligado à editora e à Warner por conta de seu apoio à adaptação cinematográfica de Watchmen. Mas esse papel, aparentemente, lhe custou a amizade com Moore.
O escritor explica que "cortou relações" com o colega desenhista depois das tentativas de Gibbons. Entre as ideias dos editores da DC repassadas pelo desenhista estaria, entre obras relacionadas a Watchmen com autoria de "grandes talentos da indústria de quadrinhos", uma unindo os pedaços de Contos do Cargueiro Negro - a HQ dentro da HQ de Watchmen - e preenchendo as lacunas para fazer uma edição completa. Moore quase concordou com o projeto, que sairia sem seu nome, mas depois mudou de ideia.
Moore reclama repetidamente na entrevista que Gibbons não cumpriu um acordo entre os dois: o desenhista poderia apoiar e receber todo o crédito como criador da HQ quando o filme fosse lançado (Moore determinou que seu nome nunca apareceria), desde que um dia, após receber toda a grana pela participação na produção, telefonasse para o escritor agradecendo-o. Moore diz que Gibbons nunca fez esta ligação - e que David Lloyd, seu colega em V de Vingança, com quem tinha o mesmo acordo, também não cumpriu sua parte. Portanto, o barbudo não fala mais com ambos.
Fim de amizades à parte, Moore aproveita a entrevista para detonar a DC. Primeiro, reclama que a editora fez seu amigo e roteirista Steve Moore (sem parentesco), que escreveu HQs da linha America's Best Comics e a novelização de V de Vingança, de bobo. A editora cancelou projetos com Steve num período de dificuldade financeira, devido a problemas de saúde do irmão, o que Alan Moore interpretou como retaliação contra si próprio, devido à sua recusa a conversar com a DC.
O entrevistado questiona se não haveria outros interesses por trás da decisão da editora em lhe oferecer os direitos de Watchmen: "Tenho pensado nisso, e várias coisas me ocorreram. Devo imaginar que se a Warner Brothers/DC está me oferecendo de volta os direitos já usados e presumivelmente bem gastos de Watchmen... e talvez alguns milhões de dólares, quem sabe - não se falou em quantia, mas tive a impressão de que seria algo nessa faixa - para comprar os direitos sobre os personagens, então isso indicaria que sim, Watchmen, como propriedade intelectual, do ponto de vista deles tenha chegado ao fim de sua vida natural... Mas a possibilidade de outras criações acessórias talvez fossem de valor considerável para eles, e o que menos importa aí são os próprios quadrinhos".
No ataque final à DC, Moore aponta uma possível crise financeira (ele fala em cheques atrasados) e criativa na editora, o que estaria desesperando os chefões. Ele menciona várias "nuvens de pontos de interrogação pairando sobre os heróis" da editora, citando a disputa jurídica por Superman e que os filmes de Batman por Christopher Nolan, apesar de ser "um diretor acima da média", não vão durar para sempre, levando em conta que Nolan tenha outros interesses de carreira.
"No fim das contas, se eles não têm nenhuma propriedade de valor, mas têm esses 'grandes talentos da indústria de quadrinhos' prontos para produzir continuações e prelúdios de Watchmen, bom, talvez isto soe muito radical, mas eles não poderiam pôr esses 'grandes talentos da indústria de quadrinhos' para ter suas próprias ideias? Peguem um desses grandes talentos e façam uma HQ que o público geral, não só o dos quadrinhos, ache tão interessante e chamativo quanto as coisas que escrevi 25 anos atrás. Eles devem ter um criador, com certeza, em toda a indústria dos EUA de quadrinhos, que faria algo equivalente ao que fiz 25 anos atrás. Seria um insulto achar que não", completa.
Para ler a entrevista completa, em inglês, clique aqui.