Ao vivo, Vin Diesel é muito diferente da sua persona das telas. Calmo, concentrado e extremamente interessado, o ator discutiu seus processos de atuação, o envolvimento que busca nos projetos, o encontro com The Rock nas telas e sua necessidade de autoafirmação, suprida quando foi trabalhar com Sidney Lumet, a quem credita seu retorno à franquia que mais o tornou famoso em Velozes e Furiosos 5 - Operação Rio.
Vin Diesel
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Velozes e Furiosos 5
É a quarta vez que você interpreta Dominic Toretto. É mais difícil interpretar o mesmo personagem tantas vezes, já que ele precisa amadurecer?
Engraçado você dizer isso. Eu estava conversando com meu pai há algum tempo sobre isso. Ele me influenciou imensamente por ser um diretor de teatro em Nova York. Quando eu era criança, eu ia assisti-lo dirigir peças e sempre discutíamos sobre a arte da atuação. Ele já havia passado por quase tudo; desde as aulas do Actors Studio até todas as possíveis variações de métodos de atuação - e ele me disse que a única coisa que eles nunca discutiram nessas aulas de técnica e prática foi exatamente isso: como você lida com um personagem ao longo de uma década? Stanislavksi nunca explicou isso. [risos]
Tudo é um desafio divertido, mas isso ainda é uma questão recorrente no mundo da atuação, e foi isso que fez com que eu não voltasse imediatamente para a franquia. Quando eu voltei para Velozes, primeiro entrei para o time de produtores no quarto filme. Foi aí que eu tive uma ideia maluca e o estúdio achou que eu estava louco... eu disse que poderíamos criar uma nova trilogia. Os filmes até Desafio em Tóquio representariam a primeira trilogia e nós poderíamos, se trabalhássemos duro e fizéssemos algo significativo, criar uma nova trilogia. Uma saga, em que os filmes conversam entre si. Assim você poderia assistir a um dos filmes e descobrir o por quê de estarmos no Rio. Alguém se lembra quando o Rio foi mencionado em Velozes e Furiosos?
Você menciona o clima não é? "O Rio deve ser bom nessa época do ano".
Sim! Quem te falou isso?
Eu fiz minha lição de casa. [risos]
É isso aí. Antes de Dom ir embora da República Dominicana, ele está com Letty na praia e ela menciona que Vince falou isso sobre o Rio. Naturalmente, quando Dom sai da prisão, o único amigo dele que o público conhece e que mora no hemisfério sul é Vince e, como Letty disse, ele está no Rio. Então quando você for ver Velozes 5, pense nas dicas e onde elas podem estar e tente descobrir onde será nosso próximo filme. Lógico que a cena pós-créditos já fala de cara onde vai ser, mas é dessa maneira que nós estamos abordando essa trilogia.
Você parece ser bem protetor de seus personagens e projetos. Parece que toda vez que você está envolvido em um filme, você tem um motivo, está lá porque realmente gosta do personagem, da franquia. Esse é o único jeito que você trabalha?
Com certeza! Eu tenho que estar totalmente dedicado ou então prefiro nem fazer. Eu fui uma criança pobre em Nova York e a primeira vez quando recusei um trabalho bem remunerado até meu pai, que era um cara idealista que não ligava para dinheiro, ficou chocado. Se eu não conseguir encontrar um gancho que me prenda ao projeto, eu não consigo fazê-lo. Como, no meu caso, grande processo do trabalho é terapêutico, eu tenho que me identificar com ele.
Você parece ser bem próximo do seu pai e, no filme, quando você fala do seu pai fictício, você também passa essa ideia.
É verdade. Eu não tinha pensado nisso. Provavelmente foi inconsciente. Meu pai é o pai perfeito, eu tive muita sorte em ser seu filho.
Você meio que foi a figura paterna na franquia.
Certamente. Foi assim que a ideia do filme começou; Dom como a figura paterna para um bando de desajustados. Jesse estava sempre no computador, tinha o personagem de Johnny Strong... Brian, um garoto loiro de olhos azuis que é um policial infiltrado, mas estava perdido em seu próprio mundo. E Dom ainda tinha que cuidar da irmã após a morte do pai, sempre a mantendo protegida e estudando. Isso foi provavelmente o atrativo para uma parte do público, que gosta da franquia por causa da figura de irmão de Dom. Acabam fantasiando em como seria ter um irmão mais velho como ele.
Obviamente, não podemos esquecer a ação - e o aguardado confronto entre você e The Rock, que têm carreiras parecidas no cinema de ação. Como foi esse encontro?
Eu o conheço há dez anos e nós sempre quisemos fazer algo juntos. Saber dessas semelhanças só nos motivava mais. Afinal, ver essas duas figuras da cultura pop se enfrentando, para nós, seria algo único e maravilhoso para os fãs. A ideia começou a virar realidade quando li um comentário de uma pessoa no Facebook, que disse que adoraria ver eu e Dwayne juntos em qualquer coisa. Dias depois, eu estava em uma reunião de pré-produção em Nova York com Justin Lin e li para ele esse comentário. Foi aí que sabíamos que estávamos com algo grande em mãos.
Você gostou da cena finalizada?
Gostei muito, achei que ficou muito legal. Especialmente por ela não ser apenas uma cena de ação. É uma cena sobre um cara tentando salvar sua família, tentando fazer seu trabalho - e isso acaba adicionando profundidade à situação. Sem falar na expectativa.
Quanto tempo levou pra preparar e rodar a cena?
Por volta de um mês. Quando a coreografia estava pronta, nós tivemos que ensaiá-la por mais ou menos três semanas e depois levamos mais uma semana para rodá-la. Foram dias longos e tudo o que faziamos era lutar.
Eu gostei da cena. Especialmente por tudo acabar meio que empatado... a cena não se resolve no murro. Dominic tem que pegar uma arma.
Hobbs pegou a arma primeiro.
Verdade. [risos] Dom ganha no final, mas nada definitivo.
É uma briga bem realista. A ideia não é ser definitivo, o legal é criar um adversário digno.
Pra encerrar, Sidney Lumet faleceu recentemente e você trabalhou com ele em um filme que não era exatamente seu perfil. Como foi essa experiência?
Incrível. Meu pai disse uma vez que havia duas pessoas que ele queria muito que trabalhassem comigo: Judi Dench e Sidney Lumet. Lumet foi de extrema importância para mim porque eram os filmes dele que eu assistia quando comecei a dirigir filmes independentes. Foi ele que eu estudei, os livros dele. Se não fosse por Lumet, talvez eu não tivesse voltado para a franquia Velozes e Furiosos. Se eu não tivesse encontrado a oportunidade de atuar em um drama, interpretando um personagem 20 anos mais velho que eu, sem nenhuma cena de ação e efeitos especiais, pode ser que eu não me sentisse confortável o suficiente para voltar a uma franquia de gênero. O que as pessoas não percebem é que eu precisava muito daquilo na minha carreira, para que eu mesmo pudesse me validar. Foi Lumet quem me deu a confiança. Quando estávamos com Sob Suspeita [Find me Guilty, 2006] no Festival de Berlim, alguém perguntou o que ele estava pensando quando resolveu pegar um ator de ação e colocá-lo em um drama de sala de tribunal com dez páginas de monólogo. Ele respondeu que isso era mais ou menos como os equívocos do passado em relação às atrizes mais belas. Ele disse que, antigamente, costumava-se acreditar que quando uma atriz era linda ela não poderia ser uma boa atriz - e que nada poderia ser menos verdade que isso. "É a mesma coisa que ver Vin em filmes de ação e não perceber quão bom ator ele realmente é". Foi a partir daí que eu senti que poderia seguir confortavelmente fazendo mais filmes de ação.
E as pessoas esquecem que [Steven] Spielberg escreveu um papel para você em O Resgate do Soldado Ryan.
Esquecem mesmo! Mas tudo bem. Eu gosto de fazer esses filmes de ação e eu adoro elevá-los; não importa se eu estou fazendo um filme de Sidney Lumet com dez páginas de monólogo ou em uma cena de luta com Dwayne Johnson - eu me envolvo através do mesmo processo e saio com a mesma integridade. Isso é algo que as pessoas percebem quando assistem aos filmes da série Velozes e Furiosos. Ali não tem apenas caras de filmes de ação que sempre precisam da ação para se manter, acho que isso é uma das coisas que nos fez tão bem sucedidos.
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