Além de unir as duas gerações de mutantes do cinema, X-Men - Dias de um Futuro Esquecido está cercado de expectativas por adaptar um dos mais famosos arcos dos X-Men nos quadrinhos. Entretanto, até que ponto a adaptação é fiel? Nós listamos as diferenças entre o filme e a HQ que o originou.
As circunstâncias
Se Wolverine, Magneto, Xavier e Cia. atualmente são populares a ponto de sustentarem uma grande franquia no cinema, boa parte disso se deve a quem concebeu Dias de um Futuro Esquecido: o roteirista Chris Claremont e o desenhista John Byrne. O quadrinho que originou o filme é tido como o ápice do trabalho da dupla, responsável por tirar a HQ dos mutantes do limbo e transformá-la em uma das propriedades mais populares da Marvel.
Juntos, Claremont e Byrne criaram características aproveitadas por vários de seus antecessores, tanto nos quadrinhos quanto no cinema: entre elas, o crescimento da importância de Wolverine no time (e sua rivalidade com Ciclope) e o surgimento da Fênix (cuja saga foi parcialmente adaptada em X-Men 3).
Os personagens
Muito embora os elencos da HQ e do filme sejam parecidos, a forma como eles se unem (e como atuam em cada obra) é bem diferente.
No futuro devastado da HQ, apenas quatro X-Men estão vivos: Wolverine, Tempestade e o casal Colossus e Kitty Pryde - todos parte da formação que também atua no presente. Juntam-se a eles Magneto, como aliado (e em uma cadeira de rodas); Franklin Richards, filho dos falecidos Reed Richards e Sue Storm; e sua esposa, Rachel, cujos poderes telecinéticos são capazes de transportar a consciência de uma pessoa para o passado. Na cronologia do presente, além dos quatro mutantes citados no começo do parágrafo, também estão Noturno, Anjo e, claro, Charles Xavier. Do lado dos vilões, a principal antagonista é Mística, que comanda a nova Irmandade de Mutantes, composta por Avalanche, Pyro, Blob e Sina. Sentiu falta de alguém? Pois é, o Mestre do Magnetismo sequer dá as caras neste lado temporal da saga. Isso sem falar no mentor do programa dos Sentinelas, Bolivar Trask, que recebe apenas algumas menções.
No filme, Franklin e Rachel são deixados de lado (mesmo porque pertencem contratualmente à Fox, dona do Quarteto Fantástico); o papel da telepata é adaptado aos poderes de Kitty Pryde. De resto, são reaproveitados mutantes que já haviam aparecido em filmes anteriores: de X-Men 3, vêm Wolverine, Tempestade, Colossus, Xavier, Magneto e Homem de Gelo (que, na HQ, é anunciado como morto na famosa capa de Uncanny X-Men #141). O longa ainda mostra um quarteto de mutantes que não estava presente no quadrinho, nem nos filmes anteriores: Bishop, Blink, Apache e Mancha Solar. Na cronologia do presente, a principal diferença está no aproveitamento de personagens de X-Men: Primeira Classe: além de Magneto e Mística, Fera, morto nos quadrinhos, dá as caras no cinema. Outro que também só aparece nas telonas é Mercúrio.
A trama
A principal diferença entre o filme e os quadrinhos está no posto do protagonista. Na HQ, Kitty Pryde é a mutante que tem a consciência enviada ao passado para alertar seus companheiros de X-Men. Ela foi escolhida por ser a novata do time na época. Sua falta de bloqueios mentais tornaria a leitura de seus pensamentos mais fácil por parte de Xavier, fazendo com que eles descobrissem aquele futuro sombrio mais rapidamente. No filme, quem faz a viagem temporal é Wolverine, pois seu fator de cura o torna o único mutante capaz de aguentar os danos cerebrais de passar longos períodos de tempo com a consciência no passado.
A premissa é a mesma: os Sentinelas exterminaram quase todos os mutantes e se tornaram uma ameaça para toda a humanidade. Entretanto, vários detalhes são diferentes. Na HQ, os robôs dominaram apenas os Estados Unidos e o Canadá, e estão prestes a invadir outros países, o que causará uma inevitável guerra nuclear. No filme, as criações de Trask já dominaram todo o planeta.
Outra diferença da HQ está no tratamento que os Sentinelas dão aos mutantes, um aspecto pouco explorado no filme. Os robôs de Trask promovem uma segregação entre humanos, que podem procriar; humanos com gene mutante, impedidos de terem filhos; e mutantes, que são assassinados ou confinados em campos de concentração, com colares inibidores de poder - só esse último elemento é aproveitado no filme. A adaptação torna a situação mais dramática porque os androides também exterminam pessoas que carregam o gene responsável por dar os poderes dos mutantes. E, em ambas as histórias, os homo sapiens que ajudaram os mutantes foram exterminados - na HQ, vemos até os túmulos do Quarteto Fantástico.
O desenrolar
Kitty volta aos anos 1980 (época de publicação da HQ) para alertar Tempestade e os outros X-Men do futuro sombrio. A mutante deve evitar que Sina mate Robert Kelly durante um discurso no qual também estão presentes o professor Xavier e Moira MacTagger, que também são assassinados. O crime motiva o governo americano a levar para frente o projeto de produção em massa das Sentinelas - que já haviam dado as caras nas revistas dos X-Men diversas vezes.
Nas telonas, Wolverine viaja para a década de 1970 - dez anos depois de X-Men: Primeira Classe -, para convencer um desmotivado professor Xavier a evitar que Mística mate o cientista Bolivar Trask (que, ao contrário da HQ, tem participação muito mais decisiva). Seu assassinato motiva o governo a produzir em massa as Sentinelas. Ao contrário da HQ, essa é a primeira grande participação dos robôs nos filmes - antes, apenas a cabeça destruída de um deles havia aparecido em X-Men 3, numa cena na Sala do Perigo.
Uma diferença importante na condução da trama está entre o balanço entre futuro e presente. Na HQ, a ação é mais balanceada entre ambos os períodos temporais, com os X-Men remanescentes tentando invadir o Edifício Baxter, antiga casa do Quarteto Fantástico e atual centro de comando das Sentinelas. Nos cinemas, o futuro sombrio aparece bem menos, em algumas cenas de luta e em flashes durante as desventuras de Wolverine nos anos 70.
O tempo do qual os dois dispõem também é diferente: na HQ, Kitty deve cumprir sua missão antes que as Sentinelas saiam dos EUA no futuro, o que automaticamente desencadeará uma guerra nuclear; no filme, Wolverine precisa alterar o passado antes que as Sentinelas encontrem o esconderijo onde estão todos os X-Men sobreviventes.
O desfecho
Outra grande diferença está no final do conflito. Se você não quer spoilers do quadrinho e do filme, dê meia volta!
Na HQ, os X-Men chegam a tempo de evitar o assassinato de Kelly, Xavier e Moira, resultando num conflito entre os heróis e a Irmandade dos Mutantes, enquanto, no futuro, os mutantes sobreviventes são mortos um a um, deixando apenas Rachel e uma desacordada Kitty. Muito embora a equipe de Xavier tenha tido sucesso em sua missão, jamais sabemos o que aconteceu com as duas, deixando uma questão: o futuro distópico das Sentinelas foi evitado ou apenas adiado?
No filme, tudo se desenrola de maneira diferente: a trama culmina em uma sequência em que Trask, o presidente Richard Nixon e diversos políticos são arrancados à força do bunker da Casa Branca por Magneto, que é impedido no último instante por Mística de cometer uma chacina. Xavier então a convence a voltar ao lado dos mocinhos, fazendo com que o projeto das Sentinelas seja engavetado e Trask, preso. Além disso, o futuro se transforma praticamente em um reboot de todos os filmes: Wolverine acorda na Mansão Xavier e vê todos vivos: Kitty Pryde, Homem de Gelo, Tempestade, Fera, Vampira... e até mesmo Jean Grey e Ciclope, que foram mortos em X-Men 3. Uma realidade com final feliz, mas que dificilmente será reaproveitada nos próximos longas.