Talvez isso seja uma surpresa para muitos, mas mesmo os fãs japoneses de tokusatsu mais aficionados pelo gênero podem não conhecer um herói como o Jaspion. O Tarzan das galáxia é um fenômeno cultural no Brasil, só ver a boa audiência conquistada na reexibição aos domingos pela Band, mas o Jaspion passou batido em seu país de origem.
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Mas ele não é o único a passar por isso. Varios animes e séries japonesas fizeram mais sucesso no Brasil se comparar com a repercussão no Japão, às vezes a ponto de se tornar um fenômeno cultural ou conquistar recordes de vendas de produtos. Contamos abaixo alguns desses exemplos mais famosos:
National Kid
Uma das primeiras séries de tokusatsu a chegar no Brasil foi National Kid, produção feita pela Toei em 1960. A série contava a história de um herói que vinha à Terra lutar contra inimigos maléficos como os Incas Venusianos ou os Seres Abissais. Para chamá-lo, um grupo de crianças com roupas parecidas contava com a ajuda de um rádio-comunicador à pilha.
A série foi um acontecimento no Brasil, fazendo todas as crianças pararem na frente da Record para acompanhar os embates de National Kid. A música, mesmo sendo em japonês, era cantada pelo público e frases de efeito como "Awika" viravam bordões entre os jovens.
Embora tenha sido um sucesso gigantesco no Brasil, National Kid não fez sucesso em canto algum do mundo, inclusive no Japão. O plano da Toei com a série era fazer dela um grande merchandising dos rádios de pilha da National (uma linha da Panasonic), por isso eles apareciam na série como comunicador.
Mas a febre de National Kid ficou nos anos 60. Durante os anos finais da Rede Mantece tentaram um revival nostálgico da série, mas a baixa qualidade da produção e o fato de ser em preto e branco afugentou o público, segundo Eduardo Miranda (diretor de programação na época). Alguns anos depois houve um lançamento em DVD, e atualmente a série pode ser vista no Prime Vídeo.
Jaspion
Durante os anos 80 a Toei produziu diversas séries de "policiais do espaço", a maioria com grande sucesso. A primeira foi Gavan, abrindo as portas para outros metal heroes como Sharivan e Metalder. Jaspion foi a quarta série do gênero, mas não foi tão querida pelo público japonês quanto as demais. Para ser mais exato, a história do herói órfão enfrentando o maléfico Satan Goss é quase ignorada pelo público japonês.
No Brasil, por outro lado, foi um fenômeno sem precedentes. Ao lado de Changeman, Jaspion trouxe a febre dos tokusatsu dos anos 80 e atingia índices de audiência tão impressionantes que todas as emissoras foram atrás de séries parecidas. Um dos fatores usados para explicar esse sucesso foi o ineditismo da série no Brasil, e depois todo mundo queria prolongar o sucesso com mais séries parecidas. Inclusive a sucessora Spielvan chegou a ser chamada de "Jaspion 2", aproveitando do fato dos dois personagens terem armaduras semelhantes.
Por aqui Jaspion teve brinquedos, gibis, fitas VHS e até uma exibição ao vivo em um circo itinerante. A série foi relançada em DVD no começo dos anos 2000 também com ótimas vendas, e agora confirma sua força com a boa audiência na reprise pela Band. O futuro parece ainda mais promissor, com um filme brasileiro produzido com autorização da Toei e um mangá nacional contando o que aconteceu com o personagem após o término da série.
Os Cavaleiros do Zodíaco
Durante o final dos anos 80, o autor Masami Kurumada publicou na Shonen Jump o mangá Saint Seiya, um sucesso mediano na revista. Ganhou um anime, brinquedos, filmes no cinema e tudo mais, mas nunca conseguiu chegar perto do tamanho de um outro mangá da antologia, um tal de "Dragon Ball". No entanto Kurumada não precisava se preocupar, pois a série ganhou uma sobrevida fora do Japão.
A luta de Seiya e seus amigos com suas armaduras inspiradas em constelações chegou à Europa e teve seu título trocado para Os Cavaleiros do Zodíaco, e com este nome chegou no Brasil em 1994. A distribuidora ofereceu a animação para a Rede Manchete em troca de encher os intervalos comerciais com os brinquedos oficiais dos cavaleiros, e o resultado foi uma corrida às lojas durante as festas de final de ano e pais brigando para levar um boneco para casa. Todo mundo queria um Seiya ou um cavaleiro de ouro de seu signo.
Para muitos, Os Cavaleiros do Zodíaco é o anime que abriu as porteiras da animação japonesa no Brasil. O anime teve audiências relevantes em todas as suas exibições em diferentes emissoras e épocas, filmes foram lançados no cinema, os mangás foram republicados várias vezes e por aí vai. Seiya é quase um brasileiro honorário!
Digimon
Aqui temos um caso diferente dos anteriores. Digimon foi bem no Japão e a série se mantém até hoje com novas temporadas ou reboots, mas o sucesso conquistado aqui no Brasil foi acima do esperado graças a uma ajudinha da Globo.
A primeira série de Digimon conta a história de um grupo de crianças japonesas que são transportadas para o Digimundo, uma realidade paralela em que cada um ganha a companhia de um monstro digital capaz de lutar e evoluir. Por ter uma premissa muito parecida com a do sucesso Pokémon, Digimon foi licenciado no ocidente para tentar atrair a atenção dos ávidos por novos episódios de Ash e Pikachu.
Enquanto isso, aqui no Brasil a Globo estava incomodada com a audiência obtida por Pokémon dentro do programa da Eliana na Record, e comprou os direitos de exibição de Digimon para competir. Uma gigantesca campanha de marketing foi colocada em execução, e até chamaram a Angélica para gravar a música de abertura (em um vídeo zoado por fãs até hoje). Todas as crianças queriam assistir ao novo anime, e muitas discussões de Pokémon vs Digimon inflamavam conversas nos intervalos das escolas.
Além da audiência impressionante conquistada pela Globo, Digimon estampou uma quantidade sem igual de produtos nas lojas e bancas de revistas. Como a Toei não tinha materiais disponíveis para utilização em licenciamento, desenhistas brasileiros precisaram criar um guia de personagens para oferecer às empresas. Porém, assim como Pokémon, o público brasileiro foi se cansando aos poucos de Digimon a cada nova leva de episódios ou temporada.
Bucky
Muitos dos exemplos desta matéria envolvem séries de repercussão mediana no Japão, mas Bucky é um caso à parte. Bucky (Jibaku-kun no original) até teve um anime exibido na TV Tokyo e um mangá com seis volumes, mas é quase irrelevante para o mercado japonês. Por outro lado, sua exibição no Brasil pegou o público de surpresa e é seguro afirmar que a bolota rosa explosiva faz parte do imaginário cult do otaku brasileiro.
A série protagonizada por Bucky, um garoto mau humorado cujo sonho é ser um... tirano (!?) não é nada de muito criativa: tem cenas de ação, animais mágicos acompanhando os protagonistas, reviravoltas com traições no meio da série e uma jornada para aprimorar suas habilidades. De excepcional havia apenas o design marcante dos personagens e a bizarrice dos mascotes que conquistaram a atenção do público brasileiro mesmo com sua clara feiura.
A vinda de Bucky ao Brasil foi surpreendente se levarmos em conta a época da exibição japonesa. Enquanto Dragon Ball levou quase 10 anos para ser lançado no Brasil, Bucky chegou em questão de meses após a transmissão original. A série foi exibida por aqui dentro do Band Kids, aquele programa criado pela Band com o intuito de aproveitar o sucesso de Dragon Ball e tentar emplacar outros animes.
Bucky não teve nenhum produto derivado lançado por aqui, mas é impressionante o número de otakus com memórias nostálgicas do anime. Yumi Matsuzawa, a cantora da abertura original, já realizou apresentações em eventos de anime no Brasil e a abertura de Bucky é uma faixa obrigatória em qualquer apresentação.
Alguns outros casos curiosos
Há também as séries com sucesso relevante no Brasil, mas que não foram mal em seu país de origem. Na mesma linha do Bucky é possível lembrar da série Fly - O Pequeno Guerreiro. As aventuras do garoto com um pouco de mago e muito de herói conquistou o Brasil após sua exibição no SBT, e teve diversos brinquedos lançados exclusivamente por aqui. No Japão a série também foi bem, principalmente por fazer parte da franquia Dragon Quest, mesmo tendo sido interrompida sem um final (exclusivo do mangá, este nunca publicado por aqui por motivos de licenciamento).
Outra série também exibida nos anos 90 com um forte apelo nostálgico no Brasil foi Shurato, produzido pela Tatsunoko. A série foi exibida principalmente por trazer adolescentes com armaduras assim como o sucesso Os Cavaleiros do Zodíaco, mas Shurato saía na vantagem por ter uma série de bonecos com preço mais em conta.
Mas um caso muito interessante foi o do mangá Love Junkies, publicado pela JBC a partir do ano de 2003. A comédia erótica foi lançada sem muita pretensão pela editora brasileira, mas foi um sucesso de vendas tão grande que chamou a atenção da autora japonesa. No final do 15º volume do mangá, a autora brincou sobre como ficou aflita com os inúmeros e-mails de fãs brasileiros, principalmente por não fazer ideia do conteúdo das mensagens.