Brasileiro e anime é uma combinação que sempre deu certo, e tivemos inúmeros fenômenos exibidos no Brasil como Pokémon, Os Cavaleiros do Zodíaco e Naruto. Mas para cada anime que fazia sucesso, vários outros acabaram sendo só mais um na multidão, mesmo com todo o esforço de emissoras de TV e de distribuidoras de animes. Nessa lista vamos relembrar alguns animes que chegaram ao Brasil com a promessa de sucesso, mas que no fim acabaram sendo ignorados pelo público (em alguns casos até injustamente). Vamos à lista!
Sailor Moon R na Record TV
Se nos anos 1990 os brasileiros tiveram um gostinho do que é ver um monte de anime na TV aberta, foi só no final da década com a estreia de Pokémon que as comportas foram abertas e recebemos muitas séries aqui no nosso país, sempre com muita audiência. Quem também estava interessada nesses pontos de Ibope era a Record TV e o programa da apresentadora Eliana. Com a franquia dos monstrinhos demonstrando um desgaste em meados dos anos 2000, a emissora foi atrás de um outro anime para a loira apresentar, e foi aí que Sailor Moon R apareceu.
A primeira série de Sailor Moon havia sido exibida nos anos 1990 pela Rede Manchete, e a partir de 2000 o Cartoon Network transmitiu a sequência direta da história, com novas dubladoras para as guerreiras e fingindo que a série clássica não existia. Por ser uma história focada no público alvo feminino, a Record TV viu ali uma oportunidade de atrelar a imagem da Eliana e fazer sucesso com outro anime. Aí o investimento foi pesado, colocaram até a apresentadora cantando músicas inéditas para as guerreiras lunares e gravando um clipe (de qualidade bem duvidosa).
Nada disso adiantou muito, pois Sailor Moon R ficou apenas um mês no ar e logo desapareceu da TV brasileira. Não se sabe o motivo para o cancelamento, há quem diga que foi a audiência baixa (um dado questionável), tem a teoria de problemas de licenciamento com a criadora da série Naoko Takeuchi e, claro, suspeitas de que a presença de “demônios” no anime incomodou a emissora evangélica. Para um canal que estava implicando com Death Note até outro dia, é até uma hipótese plausível.
Os Guardiões do Universo em VHS
Os Cavaleiros do Zodíaco foi um sucesso inquestionável durante os anos 1990, e foram os guerreiros de Atena os responsáveis por abrir as porteiras dos animes no mercado brasileiro. Só que a aventura de Seiya e os outros tinha um probleminha: ela acabava. Para manter as crianças na frente da TV, as empresas foram atrás de qualquer outro anime que remetia a personagens com armaduras, e nisso vieram Shurato, Samurai Warriors etc.
O mercado de VHS também foi aquecido com as vendas dos filmes de Os Cavaleiros do Zodíaco, então a Flashstar teve a ideia de lançar Fuuma no Kojiro, um outro anime baseado em mangá de Masami Kurumada. E era ainda melhor, porque o design de personagens era de Shingo Araki, o mesmo de Os Cavaleiros do Zodíaco, então poderia "enganar" as crianças, que comprariam as fitas de Kojiro e Os Guardiões do Universo (nome dado aqui no Brasil) achando que era o Seiya.
Infelizmente o plano não deu certo. Apenas 3 fitas foram lançadas no Brasil, totalizando 6 episódios dos 14 disponíveis no Japão. Talvez seja porque, tirando o visual, a série em nada tem a ver com Os Cavaleiros do Zodíaco e se trata de disputas entre clãs marciais rivais.
Ranma ½ em VHS
Mais um anime que veio parar no Brasil graças ao sucesso da venda de vídeos em VHS nos anos 2000. No auge de Dragon Ball, a editora Abril lançou nas bancas de todo o país os longa-metragens das aventuras de Goku e seus amigos. Quando acabaram os filmes, a editora foi atrás de adquirir os direitos dos dois filmes animados da série Ranma 1/2, que já havia sido publicada no Brasil aos trancos e barrancos no final dos anos 1990. Por que Ranma ½? Ninguém sabe. Talvez eles só pegaram o primeiro anime que viram na frente.
O filme Ranma ½ - A Grande Aventura na China foi lançado em 2003 mesmo sem que os brasileiros conhecessem aqueles personagens. O resultado comercial não deve ter valido a pena, porque a editora nem chegou a lançar o segundo longa-metragem, mesmo o filme tendo supostamente passado por um processo de dublagem.
Ranma ½ só foi ter mais sorte no Brasil quando foi para televisão, com seus episódios exibidos pelo Cartoon Network (em 2006) e na PlayTV (2007). O anime também seria transmitido pelo canal aberto Loading, mas o mesmo faliu antes que Ranma pudesse dar as caras na telinha.
One Piece no Cartoon Network e SBT
A repercussão de Naruto quando exibido pelo SBT foi gigante, e possivelmente isso contribuiu para popularizar o ninja e tornar a franquia num sucesso atravessando gerações. Porém, a violência e sangue do anime atrapalharam um pouco a transmissão, pois a emissora de Silvio Santos precisava se preocupar com a classificação indicativa. Enquanto estava lá passando a tesoura nas gotas de sangue voando em Naruto, o SBT descobriu um outro anime para poder apostar, um tal de One Piece.
Licenciado no ocidente pela 4Kids, essa versão americana excluiu sangue e amenizou temas pesados, além de censurar bebidas alcoólicas e armas de fogo. Parecia perfeito para transformar aquele pirata no novo queridinho das crianças. Felizmente o otaku brasileiro não aceita qualquer coisa, e a exibição do anime pelo Cartoon Network estava longe de ser um grande sucesso, tanto que apenas a primeira temporada foi exibida.
Já na TV aberta tentaram dar um “agrado” para o público brasileiro, e trocaram a abertura cafona da versão americana por uma tradução de "We Are", a canção tema japonesa. One Piece teve sua primeira temporada exibida no SBT (mais ou menos até chegarem na Ilha de Drum), mas sem uma fração do sucesso do Narutinho. A franquia criada por Eiichiro Oda só foi ganhar uma nova chance há alguns anos, quando a Netflix disponibilizou o anime em sua plataforma e redublou tudo seguindo a versão japonesa.
Urusei Yatsura em VHS
Recentemente estreou Urusei Yatsura no Japão, um anime baseado no mangá homônimo de Rumiko Takahashi (autora de InuYasha), mas os mais novinhos podem não saber que esse anime na verdade é um remake de uma série lançada no começo dos anos 1980. A história de como Ataru Moroboshi viu sua vida mudar quando derrota a alienígena Lum em uma partida de pega-pega foi um sucesso sem precedentes no Japão, mas aqui no Brasil o cenário foi outro.
Com o título de Turma do Barulho (uma tradução quase literal do título japonês), Urusei Yatsura chegou aqui em uma fita VHS numa época que esse formato de mídia fazia muito sucesso. Porém, na época o brasileiro estava preferindo as séries japonesas de tokusatsu e não deu muita chance para essa pérola. Por sorte é fácil encontrar na internet os dois únicos episódios de Urusei Yatsura com dublagem brasileira, para matar um pouco essa vontade de algo que nunca tivemos por completo.
Let's & Go no SBT
Baseado em uma linha de brinquedos, os Mini 4WD lançados pela Tamiya, o anime Let's & Go foi lançado no SBT com a promessa de ser uma propaganda para a venda dos carrinhos no mercado nacional. O anime estreou em 2006 no Sábado Animado, um dos mais importantes programas infantis da época.
Mas todo o planejamento da venda de brinquedos não sobreviveu às mudanças de humor de Silvio Santos. Na época o SBT passava por uma situação delicada de programação, a grade mudava toda hora, e Let's & Go acabou ficando com o ingrato horário da "madrugada", abrindo o Sábado Animado. Poucos episódios foram exibidos e logo saiu do ar sem deixar vestígios.
Yo-Kai Watch no Disney XD
Depois do sucesso de Pokémon, muitos seguiram na linha “anime com humanos interagindo com monstrinhos que lutam”. Após muitos Digimon, Monster Rancher, Medabots, a fórmula parecia ter se esgotado e a indústria do entretenimento foi atrás de modinhas. No entanto, em 2014 a Level 5 e o estúdio de animação OLM lançaram no Japão o anime Yo-Kai Watch, e ele foi aclamado pelo público. Contando as histórias de um garoto capaz de conversar com “espíritos” que eram responsáveis por traquinagens no nosso mundo, os produtores perceberam que era possível replicar o sucesso de Pokémon, mesmo anos após a “poké-febre”.
Por mais que tenha repercutido de certa forma no ocidente, o Brasil não abraçou tanto assim Yo-Kai Watch. Exibido pelo Disney XD, canal que em encarnações passadas se chamava Fox Kids e tinha muito anime de sucesso, Yo-Kai Watch passou um pouco em branco e os brinquedos não parecem ter atingindo as crianças. Na mesma época a Panini lançou no Brasil o mangá em um formato menor para atrair o público mais novo, mas o título foi cancelado por baixas vendas.
Zatch Bell no Cartoon Network e Globo
Se você nunca viu o anime de Zatch Bell no Brasil, culpe as empresas envolvidas na vinda da série para cá. Lançado no Japão entre 2003, o anime Gash Bell teve seu nome trocado para Zatch Bell e chegou nos EUA em meados de 2005. Além do título, várias outras alterações foram vistas para amenizar temas pesados e cenas violentas. Por aqui o anime chegou apenas em 2006, quando o Cartoon Network exibiu essa versão americanizada.
Mesmo exibido em um canal grande, Zatch Bell nunca emplacou como merecia. Em 2007 ele teve também uma passagem–relâmpago pela Globo, mas já era uma fase do canal que a programação infantil não tinha mais tanta expressão como no começo da década.
No decorrer dos anos, Zatch Bell acabou se tornando uma obra cultuada por fãs mais alternativos, e muitos clamavam por uma nova chance para a história de “rinha de crianças”. Pelo menos a versão em quadrinhos teve mais sorte: após décadas dos otakus brasileiro sugerindo o título, ele foi finalmente licenciado pela editora Mpeg e sairá agora nesse primeiro semestre de 2023.