Entre os otakus (fãs de cultura pop japonesa), existe o hábito de definir animes e mangás como Shounen, Shoujo, etc., como se isso informasse sobre o que se trata cada título. No entanto, esses termos se referem à demografia e não ao gênero. Na verdade, isso é mais levado em consideração quando falamos sobre a indústria de mangás.
Animes costumam ser adaptações de mangás, que são publicados periodicamente em revistas como a Zasshi, que parecem grandes listas telefônicas unindo diversas tramas em um só lugar. Quando começam a fazer sucesso, as histórias ganham outros formatos, mas parecidos com o que estamos acostumados no ocidente.
Cada uma dessas revistas é pensada para um público-alvo a partir de uma demografia e, por questões logísticas, são escolhidas histórias que se encaixam nesse direcionamento da revista para o mercado japonês.
Por exemplo, essa divisão de SHOUJO ("para meninas") e SHOUNEN ("para meninos") existe desde o século 19, quando já exisitiam revistas literárias que seguiam essa divisão. A linha editorial das revistas atuais ainda é construída a partir dessa perspectiva, com foco nesse público-alvo - ainda que ele não seja exatamente o público leitor.
Quem está de fora do contexto japonês muitas vezes confunde esses termos, achando que essas demografias que definem o público-alvo são gêneros. Mas essas duas coisas são bem diferentes.
Demografia e gênero
O gênero tem a ver com a narrativa, com a temática, com a abordagem da história, o desenvolvimento do roteiro... Assim como nos filmes, é possível classificar animes em diversos gêneros, como ação, comédia, romance, terror, ficção científica, sem contar os subgêneros, como esportes, slice of life, space opera, etc. Alguns títulos, inclusive, são mais difíceis de definir, já que o autor pode trabalhar muitos aspectos diferentes ao mesmo tempo, com possibilidades quase infinitas de definição.
Já a demografia é uma área do conhecimento das ciências sociais, que tem como base a análise e interpretação de dados e estatísticas. Os dados demográficos servem para analisar e mapear dinâmicas de diferentes populações, focando em características de uma sociedade ou grupo, baseado em critérios como nacionalidade, grupo étnico, religioso, etc.
Esses dados servem basicamente para estimar alguns valores de um grupo específico, como um estudo para definir também o público-alvo que possa ter afinidade e se identificar com algumas obras, baseado nas avaliações dessas estatísticas. Por conta disso, é bem comum que usem a palavra demografia como um real sinônimo de público-alvo, já que é a partir desses estudos que as obras são direcionadas para determinados horários da TV, qual a classificação indicativa ou qual revista vai publicar determinados títulos.
Mas os animes em si não são classificados como shounen ou shoujo, isso é uma coisa que acontece no mercado de mangás mesmo, como estratégia de publicação, por isso, só dá pra saber a demografia de uma obra vendo em qual revista ela foi publicada. Geralmente as classificações de público-alvo de mangás são definidas de várias formas, e as mais populares são: Kodomo, Shounen, Shoujo, Seinen, Josei - saiba mais no nosso Manual Para Entender Animes - Parte 1.
Pela comparação de diferentes obras e suas demografias com esses exemplos que fogem do estereótipo, percebemos o quanto nossa perspectiva pode ser limitada quando focamos demais na demografia ao falar de uma obra. Ao diferenciar demografia e gênero, fica muito claro como isso é muito mais uma organização do mercado japonês do que algo que define uma obra.
Ao compreender essa diferença, fica mais fácil consumir conteúdos sem preconceito, como imaginar que Shoujos são apenas romances e por aí vai. Há uma diversidade enorne nos gêneros de mangás e animes, que vão além da demografia. Saber disso pode abrir portas que vão mudar a sua forma de consumir os conteúdos.