Pokémon | Aposentadoria de Ash e Pikachu era necessária para o anime

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Pokémon | Aposentadoria de Ash e Pikachu era necessária para o anime

Passada a tristeza pela saída dos protagonistas de Pokémon, podemos ver que a franquia pode ficar ainda melhor sem a dupla

Omelete
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21.12.2022, às 10H00.

Depois de décadas sendo o protagonista de anime menos comentado do meio otaku, Ash Ketchum de Pokémon esteve no centro dos holofotes neste ano de 2022. Além do amigo do Pikachu ter sido consagrado como campeão em um torneio da Liga, a Pokémon Company anunciou a saída do protagonista do anime após 25 anos de serviços prestados. Por sorte, ele ainda deve cumprir um aviso prévio: vem aí uma mini-temporada em Pokémon Jornadas para fechar a história de Ash e passar o bastão para novos personagens principais a partir de abril de 2023.

Tendo passada a emoção com a futura despedida de Ash (temos até uma lista com os momentos mais tocantes da aventura), já estamos com a cabeça no lugar e podemos pensar que a saída do personagem não só era necessária para a continuidade de Pokémon, mas também era algo esperado de um anime que, nos últimos anos, foi tentando se reinventar para manter sua relevância com o público alvo.

Anime infantil

Parcialmente responsável por reviver a febre dos animes do Brasil no final dos anos 1990, Pokémon precisou lidar com a dura competição com outras produções que atraíam mais os brasileiros. Se de um lado da nossa televisão tínhamos a jornada de Goku em Dragon Ball Z com uma história repleta de reviravoltas e conflitos, do outro estava Pokémon com sua história que não “andava”. Comparado às animações ocidentais da época, Pokémon parecia sim uma “revolução” para nós brasileiros. Embora ainda tivéssemos muitas histórias curtas que se encerravam no próprio episódio, também tínhamos um protagonista em constante evolução e com um objetivo em vista. Mas essa repetição de histórias sem importância não era culpa de Pokémon, e sim fazia parte das características esperadas de um anime focado no público infantil.

Enquanto um anime/mangá tradicional costuma ter uma história com começo, meio e fim (mesmo que esse fim possa demorar algumas décadas), nos animes infantis a coisa funciona parecido com uma animação ocidental, com aventuras episódicas e sem mudanças bruscas no roteiro. Basta ver como Doraemon ou Crayon Shin-Chan estão no ar há gerações sem que seus personagens envelheçam um ano sequer, tudo porque o público é sempre renovado e novas crianças vão chegando para assistir a essas produções.

Doraemon/Reprodução

Talvez a “sacada” de Pokémon tenha sido misturar os elementos dos animes tradicionais com os dos infantis, criando uma história com uma jornada a ser realizada e um objetivo claro em mente (ser um Mestre Pokémon, seja lá o que significa isso). Para realizar seu sonho, Ash precisava cruzar diversas cidades, enfrentar líderes de ginásio, treinar seus monstrinhos e, por fim, mostrar suas habilidades em um torneio com outros treinadores. Mas a história de Ash não poderia ainda ter um final: o anime precisava continuar, pois tinha uma razão de existir.

O anime de Pokémon funciona como uma propaganda de 23 minutos de duração. Em cada episódio os produtores fazem divulgam o cenário dos games recentes da franquia e também os novos monstros de bolso, que estampam uma quantidade inimaginável de produtos de cadernos e pelúcias. Ash e Pikachu também eram destaques nos merchandisings, então eles tinham que continuar lá de qualquer jeito. Com isso, as “incoerências” da história (como o fato de Ash nunca sair dos seus 10 anos de idade) acabaram sendo relevadas pela equipe porque era importante o protagonista ser uma criança para atrair novos espectadores mirins.

Reprodução

E durante muito tempo essa fórmula funcionou. Gerações mudaram, personagens secundários entraram/saíram e Ash continuou com seu colágeno impecável e um Pikachu de nível 700, mas em algum ponto durante a temporada Pokémon XY a coisa deu uma baqueada. O sucesso de Pokémon continuava incontestável e o anime estava com a mesma audiência de sempre, mas um novo competidor apareceu para dar um sustinho: Yo-Kai Watch.

Mudanças na fórmula

Não há qualquer registro de alguém da produção dizendo isso, mas é notório como o anime de Pokémon sentiu o efeito do sucesso de Yo-Kai Watch. Produzido pelo mesmo estúdio de Pokémon, a OLM, e baseado em uma franquia de RPGs da Level 5, Yo-Kai Watch foi mais um anime de monstrinhos, mas este deu muito certo (pelo menos no começo). Ambientado no Japão, Yo-Kai Watch mostra como contratempos do dia a dia são causados por yokais, criaturas invisíveis aos olhos humanos e muito presentes no imaginário popular. O protagonista da vez é o menino Nate, que ganha um relógio especial capaz de mostrar esses monstros sobrenaturais e também convocá-los para batalhas ou missões. Como se pode ler por essa breve sinopse, é Pokémon de novo, mas com lendas japonesas.

Yo-Kai Watch/Divulgação

Embora Yo-Kai Watch não tenha sido um estouro deste lado do mundo, no Japão ele foi algo muito grande por um tempo. Cada episódio era composto de vários segmentos de tamanho variado, com histórias que tinham os dois pés no humor, ora escrachado e algumas vezes baseado em paródias de filmes e séries. Nem sempre Nate era o protagonista, pois há trechos com o yokai “caipira” Komasan aprendendo a viver na cidade grande ou então com o cão Sarnento tentando fugir de uma prisão de segurança máxima.

Embora nunca tenha abalado a hegemonia de Pikachu e os demais, a temporada seguinte de Pokémon trouxe mudanças que, aos olhos de muitos fãs, eram uma resposta direta ao sucesso de Yo-Kai Watch. A tradicional fórmula dos episódios, com Ash passeando a pé pelos continentes, foi deixada de lado e o garoto passa a frequentar a escola do professor Kukui. A OLM alterou o character design dos personagens, deixando um traço mais arredondado que permitia brincar com os personagens e garantir mais cenas de humor. Ash também ganhou a companhia de um Rotom falante com funções de Pokédex, algo facilmente relacionável ao yokai Whisper que fazia companhia ao Nate de Yo-Kai Watch e utilizava um tablet para identificar yokais.

Divulgação

Foi o frescor que a franquia precisava. Sol e Lua é considerada uma das mais inventivas fases de Pokémon, mesclando histórias de humor com alguns dramas bem inesperados para um anime infantil. Há discussões sobre morte e uma trama em que Ash precisa salvar a mãe de uma de suas colegas de classe que havia se fundido com uma criatura de outro planeta, um arco pra lá de dramático.

A experimentação se manteve na fase seguinte. A história de Pokémon Jornadas continuava episódica, mas Ash transitava por todas as regiões já inventadas na franquia. Uma das novidades foi a presença de Goh, um garoto com a função de co-protagonista no anime. Diferente de um Brock ou uma Serena, o rapaz tinha peso para a história e representava as mecânicas do game Pokémon Go, enquanto Ash mantinha seu jeitinho das primeiras temporadas (só um pouco mais energético).

Adeus, Ash

Nenhuma das mudanças propostas para o anime de Pokémon pôde ser radical porque Ash e Pikachu eram importantes por motivos mercadológicos. Com o tempo o anime “ensaiou” dar espaço para outras histórias, como o elenco feminino (May, Dawn etc) participando de concursos ou em animes derivados (Pokémon Crônicas ou especiais lançados para o YouTube), e talvez todas essas pequenas experiências deram a segurança para aposentar o treinador de Pallet.

Divulgação

A saída de Ash e Pikachu do protagonismo do anime não deve afetar a audiência e nem as vendas de produtos licenciados porque os dois já estão na cultura popular, principalmente o monstrinho elétrico. Se duvidar, Pikachu é mais conhecido que a própria franquia Pokémon, e está em um status de reconhecimento digno de um Doraemon, um Goku ou um Naruto. Boa parte da população japonesa deve saber quem é o Pikachu. Até mesmo seus pais ou avós aqui do Brasil devem saber reconhecer esse bichinho.

Por outro lado, os novos protagonistas Liko e Roy poderão trazer ainda mais novidades para Pokémon, algo esperado em uma franquia com quase três décadas de duração. Dando certo a mudança, a Pokémon Company poderá oferecer histórias ainda mais diferentes a cada lançamento dos games, apostando em novos personagens e dando destaque para outros Pokémon sem ser o rato elétrico da primeira geração. A perspectiva de futuro é positiva, embora com isso a gente perca também o delicioso humor da Equipe Rocket.

Se esses novos personagens vão conseguir manter o pique de Pokémon, isso ainda não temos como dizer. Também é impossível afirmar que Ash não fará participações ocasionais, às vezes até sendo parente de algum personagem ou tutor da nova dupla. Enquanto essa nova era de Pokémon não chega, ainda teremos um tempinho para nos despedir de Ash antes que ele possa curtir a aposentadoria jogando dominó na praça e alimentando Pidgeys com migalhas de pão.

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