Naruto

Créditos da imagem: Naruto/Studio Pierrot/Reprodução

Séries e TV

Lista

10 animes que sofreram censura no Brasil

Muitos animes vieram com cortes de fora, mas alguns foram feitos aqui no nosso país

20.04.2021, às 12H54.

Já falamos aqui de animes censurados em suas exibições no ocidente, mas você sabia que o Brasil já precisou censurar alguns animes por conta própria? Nessa lista lembramos dos casos mais memoráveis entre as séries já exibidas na televisão, tanto aberta quanto paga.

Uma observação importante: falamos somente sobre os animes censurados no Brasil. Séries como Pokémon, One Piece e Dragon Ball já vieram editadas de fora para nossa televisão, e já falamos delas em outra matéria. Vamos à lista!

Os Cavaleiros do Zodíaco

Os Cavaleiros do Zodíaco
Os Cavaleiros do Zodíaco/Toei/Reprodução

As duas primeiras passagens de Os Cavaleiros do Zodíaco no Brasil causaram dores de cabeça para suas respectivas emissoras, afinal desde sempre o anime chamou a atenção por suas várias cenas de violência. Essa característica já foi percebida logo na hora de decidir exibir o anime na grade: "Me sentaram para assistir a um trailer de 15 minutos do desenho. O vídeo era exatamente assim: sangue, violência, tentativa de suicídio, autoflagelação, cara furando os olhos...", contou Eduardo Miranda, chefe da divisão de cinema da Manchete em entrevista ao Omelete realizada em 2014. Quando exibiu em 1994, a Manchete cortou alguns frames mais polêmicos, como a orelha do Cassius pulsando após ser cortada por Seiya.

Já em 2004 a Band adquiriu os direitos e virou a nova casa dos Cavaleiros de Atena, mas uma coisa impediu a retomada da febre dos cavaleiros: o Ministério da Justiça havia classificado o anime para ser exibido somente após às 20h, um horário bem improvável. Segundo o colunista Daniel Castro contou na Folha de S.Paulo, no fim a Band conseguiu exibir o anime no final da tarde "após comprometer-se a cortar cenas de violência". Com o passar do tempo, a emissora foi "relaxando" e deixou de lado esse compromisso, exibindo episódios sem cortes, como conta o site de fãs CavZodíaco.

Yu Yu Hakusho

Yu Yu Hakusho
Yu Yu Hakusho/Studio Pierrot/Reprodução

A Manchete já passava por sérias dificuldades em 1996, e por isso a emissora apostou forte nos animes para repetir o sucesso comercial de Os Cavaleiros do Zodíaco. Uma das séries adquiridas para manter a audiência foi Yu Yu Hakusho, que nem havia estreado e já apareceu em matéria de jornal falando sobre a violência do desenho.

A jornalista Mariana Scalzo noticiou na seção Ilustrada que o anime baseado na obra de Yoshihiro Togashi teria sido proibido em diversos países, inclusive nos EUA. A informação pode ter sido uma barrigada, pois Yu Yu Hakusho só seria licenciado os EUA em 2001, com o nome Yu Yu Hakusho: Ghost Files. Acontece, a internet e as informações não eram tão difundidas em meados dos anos 1990.

Mesmo assim, a Manchete tomou todo o cuidado do mundo para o anime não dar mais dor de cabeça, tanto que ela decidiu editar a luta contra o ninja Kazemaru para não mostrar a suástica budista em sua testa (que é muito semelhante à suástica nazista, como já contamos nesta matéria).

Rurouni Kenshin - Samurai X

Rurouni Kenshin
Rurouni Kenshin/Gallop/Reprodução

Enquanto a febre dos animes era revivida no Brasil graças a Pokémon e Dragon Ball Z, a Globo foi comendo pelas beiradas estreando em setembro de 1999 o anime Samurai X (ou Rurouni Kenshin, para quem gosta do nome original). Mas se o anime trazia em sua história um samurai conhecido como "Battosai, o Retalhador", a Globo mostrou para o protagonista Kenshin Himura quem era mais habilidoso na arte do corte.

Revistas especializadas da época, como a Herói, apontavam que a tesoura dominava os episódios de Samurai X, e muitas vezes a Globo cortava tantas cenas violentas que as histórias às vezes eram feitas por remendos de três episódios diferentes. Os brasileiros só foram entender a história de Kenshin Himura quando o mangá foi lançado pela JBC e o anime passou a ser exibido na íntegra pelo Cartoon Network.

Power Stone

Power Stone
Power Stone/Reprodução

No começo dos anos 2000 a Globo reforçou a sua programação infantil com inúmeros animes, afinal era o que dava audiência na época, porém uma das séries não conseguiu ser exibida com tanta facilidade assim. O anime de Power Stone, baseado no jogo homônimo de Dreamcast, foi considerado violento demais para ser exibido na faixa infantil. O fato de termos pela primeira vez desde a redemocratização um desenho animado sendo censurado virou manchete em jornais como a Folha de S.Paulo.

Acontece que Power Stone não tinha apenas a violência como um empecilho para a exibição. De acordo com uma matéria publicada no site JBox, o personagem homossexual Kikonojo teria sido um entrave para a exibição do anime, pois ele se vestia com roupas femininas e tinha um jeito mais afeminado (e esse traço foi mantido na dublagem brasileira, feita pela Parisi Video). No fim, o anime teve uma exibição relâmpago na Globo, que cortou um episódio inteiro dos 26 existentes para que a série terminasse numa sexta-feira.

Shin-chan

Crayon Shin-Chan
Crayon Shin-chan/Shin-Ei Studio/Reprodução

Em 2002 estreou na Fox Kids o anime Shin-chan (ou Crayon Shin-chan, no original) uma série infantil sobre um garoto bem politicamente incorreto. O endemoniado Shin-chan Nohara atormentava seus pais, seus professores e sempre estava fazendo a "Dança da Bundinha Peladinha", cujo passo principal envolvia abaixar a cueca e rebolar suas nádegas em qualquer situação. O anime é um sucesso no Japão até hoje, mas aqui no ocidente sua exibição teve passagem curta por causa do comportamento do protagonista.

Poucos meses após a estreia, César Maia, o então prefeito do Rio de Janeiro, fez um decreto para desqualificar a exibição de Shin-chan na televisão. "A Secretaria Municipal de Governo encaminhará expediente a todas as emissoras de TV sugerindo que quando utilizarem este desenho animado, o façam fora da programação infantil", dizia o decreto ignorando que Shin-chan já era exibido às 22h.

A Fox Kids tirou Shin-chan da programação e o garoto arteiro só foi ganhar uma nova chance em 2005 quando foi adquirido pelo canal Animax, especializado em anime.

Tenchi Muyo

Tenchi Muyo
Tenchi Muyo/Reprodução

Muitas das séries desta lista foram censuradas por conta de cenas violentas, mas Tenchi Muyo foi alvo de cortes por causa da sensualidade de algumas histórias. A comédia romântica teve duas passagens no Brasil, e estreou no Band Kids em 2000, na época em que o programa era comandado pela apresentadora Renata Sayuri (interpretando a lutadora espacial Kira), fazendo companhia para Dragon Ball Z, Bucky e El Hazard.

Nessa primeira passagem o anime foi exibido na íntegra, com suas 3 séries diferentes exibidas como uma coisa só, inclusive a Tenchi Muyo Ryo-Ohki com as cenas de nudez. Quando a série retornou à grade em 2004, dessa vez acompanhando Os Cavaleiros do Zodíaco, a Band foi mais precavida e cortou qualquer cena que poderia conter uma insinuação sexual. Infelizmente o anime não durou muito tempo na grade.

Yu-Gi-Oh!

Yu-Gi-Oh!
Yu-Gi-Oh!/Studio Gallop/Reprodução

Yu-Gi-Oh! foi exibido com cortes no Brasil, mas isso é por causa da versão americana feita pela 4Kids que tentou amenizar o roteiro mais sombrio da história original. Sendo assim, o tipo de dor de cabeça que Yugi Moto e Seto Kaiba garantiram para as emissoras de televisão veio de uma outra forma: através de acusações de satanismo.

Com o sucesso do anime na Globo, pastores em igrejas evangélicas começaram a afirmar que Yu-Gi-Oh! apresentava um baralho satânico para as crianças. Em busca de polêmica e audiência fácil, o apresentador Gilberto Barros usou o seu programa na Band, o Boa Noite Brasil, para associar o anime ao ocultismo. O apresentador estendeu a crítica a outros animes, e inclusive exibiu cenas de Dragon Ball Z como se fosse uma influência negativa para as crianças (isso tudo aconteceu dois anos após a Band perder os direitos do anime para a Globo, olha só que coincidência).

O caso não rendeu uma censura necessariamente, mas a Globo não exibiu novas temporadas de Yu-Gi-Oh! após essas polêmicas. Anos depois, a RedeTV exibiu a continuação Yu-Gi-Oh! GX e não teve qualquer repercussão negativa.

Temos uma matéria bem completa aqui no Omelete sobre esse triste episódio na história dos animes no Brasil, vale a pena ler.

InuYasha

InuYasha
InuYasha/Sunrise/Reprodução

O anime de InuYasha era uma das grandes apostas na televisão brasileira: a série era um sucesso mundial, tinha muitos episódios, já era exibida no Cartoon Network e o mangá era lançado no Brasil pela JBC. Com tudo isso em mente, a Globo adquiriu os direitos para exibir o anime na sua programação, mas esbarrou num problema: ele foi considerado impróprio para menores de 12 anos e não poderia ser exibido antes das 20h.

Em setembro de 2004, o jornalista Daniel Castro relatou na coluna Ilustrada da Folha de S.Paulo as dificuldades enfrentadas pela Globo para colocar InuYasha no ar: "Se for mantida [a classificação para depois das 20h], equivale ao banimento da série na emissora, que só exibe desenhos de manhã". A Globo conseguiu exibir InuYasha tempos depois, com ainda mais cortes que a versão ocidental do anime, mas durou apenas 26 episódios.

Fullmetal Alchemist

Fullmetal Alchemist
Fullmetal Alchemist/Reprodução

Após conquistar muitos pontos de audiência com Pokémon, a RedeTV decidiu investir em animes no ano de 2006. Para inaugurar sua faixa de desenhos animados japoneses no final da tarde, a emissora escalou Fullmetal Alchemist e Super Campeões 2002. O anime de futebol passou sem qualquer problemas e fez bastante sucesso, mas o primeiro teve alguns entraves.

Fullmetal Alchemist havia estreado um ano antes no canal pago Animax, que o exibiu na íntegra e dublado, mas para exibir na TV aberta, a RedeTV precisou fazer alguns cortes nas cenas mais violentas da animação. Alguns episódios ficaram sem sentido, mas não deixa de ser um acontecimento a exibição das aventuras do Alquimista de Aço na televisão brasileira.

Naruto

Naruto
Naruto/Studio Pierrot/Reprodução

Em meados de 2002, Mauro Lissoni (então diretor de programação do SBT) deu uma declaração para a revista TV Folha sobre a ausência dos animes na emissora do Silvio Santos: "em função do teor agressivo desses desenhos, e em respeito ao público, resolvemos não incluir tais produções em nossa grade de programação". Como o mundo dá voltas, cinco anos depois o SBT era o responsável pelo grande anime do momento, Naruto.

Com o sucesso e a visibilidade, o Ministério da Justiça ficou de olho na nova atração infantil do SBT. Naruto foi classificado para exibição após às 20h, e o SBT precisou cortar todas as cenas violentas e controversas. O famoso beijo entre Naruto e seu rival Sasuke, por exemplo, foi limado da TV aberta para não dar dor de cabeça para o SBT. As mortes de personagens, um dos marcos do anime, foram bastante amenizadas.

E como está hoje em dia?

Re:Zero
Re:Zero/Reprodução

Atualmente a classificação indicativa do Ministério da Justiça, responsável por quase todas as censuras listadas aqui, funciona de forma diferente: as emissoras ainda precisam informar a idade adequada para se assistir ao programa, mas não há mais determinação de horário.

Isso permitiu que os animes fossem exibidos sem cortes, como em 2015 quando Os Cavaleiros do Zodíaco teve sua exibição na íntegra na Rede Brasil ao lado de séries como Re:Zero, ou atualmente com os animes exibidos pela Loading.

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