Eren Yeager foi um fenômeno nas indicações do mais recente Crunchyroll Anime Awards: o principal personagem de Attack on Titan foi lembrado tanto na categoria de melhor protagonista como na de melhor vilão por tudo o que aconteceu (e está acontecendo) na temporada final do anime dos titãs. Mas será que ele é o único” mocinho-vilão” que encontramos nos animes? Listamos alguns que podem até estar na posição de protagonistas, mas que na verdade estão ali para fazer a coisa errada (mesmo achando que estão certos).
Eren Yeager (Attack on Titan)
Eren só queria ser feliz e andar tranquilamente na muralha em que nasceu, mas num belo dia seu sossego foi interrompido por um titã invadindo sua cidade e devorando sua mãe. A vida do protagonista de Attack on Titan foi um carrossel de emoções: ele entrou em uma força tarefa militar, descobriu ter o poder de se transformar em titã, teve um lance bem arrastado envolvendo um certo porão e presenciou um incontável número de colegas virando alimento monstrengos enormes.
Após altos e (muitos) baixos em Attack on Titan, o autor Hajime Isayama começou a colocar um pouco mais de complexidade na trama. Nem tudo era preto no branco, e personagens muito controversos foram ganhando justificativas para suas ações, mesmo que falhas. Mas o grande ponto de virada foi o autor ter transformado o seu mocinho em um sociopata capaz de acreditar que o extermínio de inocentes é o correto.
Eren chegou à quarta temporada com um cabelo comprido, olheiras e um pessimismo característico de poeta ultrarromântico. Sem qualquer esperança, sem sonhos e temendo que o criador da série o transformasse em um pombo, o representante da linhagem Yeager passou a tomar decisões cada vez mais equivocadas e a se colocar contra seus antigos amigos/aliados Mikasa e Armin. E quem já sabe o que acontece no final do mangá está ciente de que ainda há espaço para o protagonista de Attack on Titan violar mais algumas convenções da Organização das Nações Unidas até o último episódio. Por mais que Armin tenha “passado um pano” bonito para as decisões do protagonista no desfecho da versão em quadrinhos, é justíssimo colocar Eren Yeager na lista de principais vilões da série.
Light Yagami (Death Note)
Querido por muitos otakus e perseguido tardiamente pela Record TV, o anime Death Note foi uma das principais produções japonesas do começo deste século. Enquanto seus colegas de Shonen Jump se destacavam com ninjas loiros e piratas que esticam, este mangá chamou a atenção ao trazer ao protagonismo um adolescente genial chamado Light Yagami que, com um caderno mágico, passou a eliminar a vida das pessoas criminosas. Seu objetivo? Ser o Deus de um novo mundo.
Um dos principais pontos de conflito entre os fãs de Death Note é saber se o Light estava certo ou não. O fato dele ser o personagem principal do anime serviu para algumas pessoas acreditarem que a série estava defendendo sua visão e ideologia, quando na verdade o final indica que o verdadeiro “mocinho” da história era o detetive L, além da união formada por Mello e Near. É inviável achar que um protagonista que acredita ser apto para decidir quem vive e quem morre é um mocinho tradicional, e no fim a história se transforma em uma grande caçada de gato e rato para capturar esse protagonista desvirtuado. Tal qual a novela Rubi, Death Note é uma história sobre uma pessoa com ideias muito deturpadas que tenta se dar bem no final.
Como curiosidade, Death Note viria a ter um protagonista mais “certinho” na história one-shot lançada em 2020. Nela, o protagonista utiliza o caderno não para cometer assassinatos ou impedir a aproximação de agentes do FBI, e sim para enfrentar um grande adversário chamado Capitalismo. Vale a pena ler a história, lançada no Brasil pela editora JBC.
Tanya (Saga Of Tanya The Evil)
A história da Tânia Malvada na verdade é um isekai, ou seja, aquelas histórias em que uma pessoa do nosso mundo é transportada magicamente para um outro universo. O protagonista da vez é um trabalhador, e ele vai parar no mundo de Tanya the Evil após ser assassinado por um colega de firma. Nesse outro mundo, ele acaba sendo... uma pessoa desprezível depois de ter sido muito certinho em sua vida passada. Ou seja, espere por um anime em que a protagonista violará uma dúzia de direitos humanos por episódio.
Uma das grandes diferenças de Saga of Tanya the Evil para outros isekais é sua ambientação: em vez de um cenário medieval e mágico, dessa vez a trama tem cenário mais próximo da Alemanha Imperial, ou seja, aqui temos uma trama mais militar do que mágica.
Takemichi Hanagaki (Tokyo Revengers)
Na história de Tokyo Revengers, o protagonista Takemichi Hanagaki precisa voltar no tempo para impedir uma fatalidade: que no futuro sua namorada da adolescência venha a morrer vítima de uma perigosa gangue de Tóquio. Em vez de cogitar matar as pessoas da gangue ou falar “amorzinho, não vá a tal lugar no dia x”, Takemichi decide fazer as coisas do jeito mais complicado possível: seu plano é se infiltrar na gangue e conquistar um posto de destaque na organização, algo que permita proteger a pobre Hinata. O problema é que isso nunca dá certo.
Em Tokyo Revengers o protagonista retorna muitas vezes no tempo porque suas ações no passado sempre estão modificando o futuro. Só que em toda ida ao presente o pobre protagonista percebe que ele causa mais desgraça: não só cada decisão de Takemichi no passado destrói qualquer prosperidade de seus amigos como também ele nunca consegue impedir o fim de Hinata, que morre cada vez de uma forma ainda mais cruel. O rapaz passou a temporada praticamente tentando apagar uma fogueira usando um litro de gasolina.
Para piorar a situação, Takemichi parece incapaz de cumprir qualquer missão no passado, por mais simples que pareça. Precisa proteger o Draken? Depois da intervenção do protagonista o coitado levou uma facada. Precisa impedir a morte do Baji? Takemichi conseguiu fazer com que o cabeludo decidisse acabar com a própria vida. Ou seja: o maior vilão de Tokyo Revengers não é Tetta Kisaki, e sim esse ímã de desgraça e incompetência chamado Takemichi Hanagaki.
Lupin the Third (Lupin the Third)
Lupin the Third é um dos mais importantes personagens dos animes e mangás, protagonista de diversas séries e longa-metragens (muitos inclusive foram lançados no Brasil). Lupin III é neto do lendário ladrão Arsène Lupin (personagem criado por Maurice Leblanc) e, tal qual seu homônimo da Netflix, tem como objetivo realizar roubos impossíveis de objetos de grande valor. O protagonista conta com a ajuda de um gangster atirador, um samurai e uma femme fatale para cumprir com seus objetivos e fugir das mãos da polícia.
Esse aqui é um exemplo clássico de protagonista “vilão”. Se a história fosse focada no inspetor Zenigata, a figura da lei desse universo, teríamos Lupin como sendo o grande vilão da história. Mas o autor Monkey Punch fez o inverso, então nós como espectadores precisamos torcer para o carismático ladrão de casaca saquear tesouros em companhia de seus colegas controversos. Como Lupin III é um poço de carisma, nem é uma tarefa muito difícil ficar do lado dele.
Nine e Twelve (Terror in Ressonance)
Com direção de Shinichiro Watanabe (de Cowboy Bebop), o anime Terror in Ressonance mostra uma dupla de terroristas tocando o terror pelo Japão. As duas criaturas misteriosas aparecem na internet, soltam algum enigma e aí cabe às autoridades japonesas impedir qualquer atentado que possa aparecer. Até aí parece um anime bastante tradicional, mas os protagonistas não são os agentes da lei, e sim os dois terroristas em busca de uma arma nuclear. Coisa leve!
Na verdade tudo é bastante explicado no anime, pois os adolescentes Nine e Twelve passaram por alguns experimentos e se tornaram pessoas bastante perigosas. De qualquer forma eles são ameaças nesse mundo, afinal provocam um terror e destruição bem real nos 11 episódios desse anime.
Senhorita Kuroitsu (Miss Kuroitsu from the Monster Development Department)
A protagonista de Miss Kuroitsu from the Monster Development Department pode até não ser a grande líder de um império do mal cujo objetivo é obliterar a Terra, mas trabalha para essa organização criminosa. Ou seja, já podemos considerá-la como uma antagonista dos heróis de collant nesse universo, não é mesmo? Kuroitsu é a profissional responsável pelo departamento de criação de monstros do dia, e precisa viabilizar seus projetos de acordo com os interesses dos grandes vilões.
Mas os grandes adversários de Kuroitsu não são os heróis coloridos que se transformam e lutam na pedreira da Toei, e sim a rotina de trabalho exaustiva, os constantes cortes de verba e todos os contratempos que rondam suas 44 horas semanais de labuta. Felizmente esse anime tem espaço para ficção dar as caras: seus empregadores não só compreendem a dureza de seu trabalho como também impedem que ela ultrapasse as horas de ralação previstas na CLT. Revolução trabalhista que chama.