Os shonens de lutinha que sonham em ser o próximo Demon Slayer

Créditos da imagem: Doron Dororon/Demon Slayer/The Elusive Samurai/Reprodução

Mangás e Animes

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Os shonens de lutinha que sonham em ser o próximo Demon Slayer

Quem são Doron Dororon e The Elusive Samurai e quais serão os novos sucessos da Shonen Jump?

Omelete
8 min de leitura
02.03.2022, às 11H24.

Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba é um fenômeno incontestável. Seu anime bate recordes de audiência, o filme Mugen Train foi um dos longas animados mais assistidos de todos os tempos e o mangá em pouquíssimo tempo atingiu uma vendagem que outras séries levaram décadas para conquistar. No entanto, a franquia tem um problema mercadológico: seu mangá já acabou.

Mas se o estúdio ufotable ainda tem muito material para encher os bolsos de dinheiro com cenas de lutas bem animadas, a Shueisha já instalou um Tinder para encontrar seu novo amor editorial. Ou melhor, a empresa já está atrás da nova série que lhe trará prestígio, fama e, claro, dinheiro.

Fase delicada na Shonen Jump

Embora o funcionamento da Shonen Jump seja bem conhecido entre os otakus, principalmente os que leram Bakuman (série de mangá dos mesmos autores de Death Note sobre dois garotos que sonham em publicar na revista), é importante relembrar aqui os principais pontos para que todo mundo entenda como se dá essa procura por um “novo Demon Slayer” no Japão.

A Shonen Jump da editora Shueisha é uma revista semanal no estilo antologia, ou seja, toda edição são publicados capítulos de várias séries de mangá. Sabe o volume brasileiro de Demon Slayer, com vários capítulos da história de Tanjiro? Então, cada um desses foi lançado semanalmente na revista, ao lado de capítulos de Jujutsu Kaisen, My Hero Academia, One Piece e outros. A revista destinada ao público masculino adolescente (ou seja, o “shonen”) funciona com base na popularidade dos títulos: quanto melhor a recepção do público e as vendas individuais das séries, mais tempo ela dura dentro da antologia. Se a série começa a fracassar nas votações populares, os editores cancelam o título e colocam uma nova série na tentativa de alcançar o sucesso dessa vez.

Demon Slayer/Reprodução

Não é errado considerar a Shonen Jump como a maior revista de mangás no Japão, afinal seus números são os mais impressionantes desse meio. Houve época em que a revista imprimia semanalmente 5 milhões de exemplares para dar conta da quantidade de leitores! Além disso, a antologia foi a casa dos “shonen de lutinha” mais famosos do mundo, como Dragon Ball, Naruto, Os Cavaleiros do Zodíaco, Yu-Gi-Oh!, Yu Yu Hakusho, Hunter x Hunter, Bleach, Rurouni Kenshin - Samurai X, Shaman King e dezenas de outras franquias queridas pelo mundo. São histórias famosas de personagens guerreiros que fazem amizades, encontram desafios, participam de torneios de luta e sempre estão em busca do mais forte. Por conta desse histórico de séries de sucesso, muitos ficam de olho nas páginas da Shonen Jump para encontrar o próximo fenômeno.

Atualmente a revista passa por uma fase delicada. One Piece continua firme e forte, mas outras séries famosas estão se encaminhando para o final. Jujutsu Kaisen e My Hero Academia devem acabar daqui a alguns poucos anos, enquanto Dr Stone já está em vias de dar tchau definitivamente aos leitores. Em contrapartida, não existe ainda outro sucesso inquestionável nas páginas da revista, apenas boas promessas e outras nem tanto. Entre as séries mais longevas atualmente estão Black Clover, Undead Unluck e Mashle, mas nenhuma dessas conseguiu chegar perto do fenômeno de outras franquias focadas em luta. Black Clover até tentou, mas seus números de venda estagnaram e seu anime foi interrompido, talvez um futuro anime de Mashle (uma doida mistura de musculação com Harry Potter) tenha mais sorte.

Muitas séries novas vêm estreando nos últimos tempos, e curiosamente algumas trazem temáticas que se assemelham a esse tal de Demon Slayer, sinal de que a Shonen Jump está tentando fazer o raio cair duas vezes no mesmo lugar.

Os novos Demon Slayer

Como grande produtora e exportadora de “shonen de lutinha”, é normal que muitas das séries da Shonen Jump acabem inspirando umas as outras. A estrutura clássica dos shonen foi refinada no passar das décadas, e os títulos de maior sucesso atualmente lembram clássicos do gênero porque seus autores acompanhavam com afinco aqueles mangás. Kohei Horikoshi, de My Hero Academia, é um exemplo perfeito disso: quando era mais novo, ele mandou um desenho para o autor de One Piece e teve sua arte publicada em um volume encadernado do mangá. Tempos depois, Horikoshi se tornou colega de revista de seu ídolo Eiichiro Oda.

Ayashimon/Reprodução

Demon Slayer é um amontoado de clichês de shonen de lutinha, mas alguns de seus pontos mais marcantes começaram a aparecer mais em mangás recentes. Ayashimon, de Yuji Kaku, chama a atenção por apresentar um mundo em que demônios e seres humanos convivem. Mas em vez de focar em guerreiros com espada e um grande vilão maquiavélico, Ayashimon é ambientado em um bairro japonês repleto de grupos de mafiosos compostos por essas criaturas. O protagonista Maruo, um otaku superforte, se alia a Urara, filha de um grande demônio que deseja recuperar seu legado. É tão clichê quanto qualquer outro shonen de lutinha, tem todo o lance de amizade e formar grupo com pessoas diferentes, mas percebe-se que alguns dos clichês mais exaltados em Demon Slayer acabam sendo escolhidos para essas histórias.

Mesmo que não tenham nada a ver com o tradicional gênero shonen de lutinha, séries recentes como Earthchild e Akane-Banashi (uma ficção científica sobre heróis e um drama familiar sobre arte rakugo, respectivamente) apostam pesado em protagonistas com fortes laços com seus pais e a família, um clichê usado à exaustão por Demon Slayer para justificar a origem das motivações de Tanjiro.

Doron Dororon/Reprodução

Talvez o mangá que mais beba de Demon Slayer, e consequentemente o que talvez tenha mais chances de fazer muitos ienes cair na conta da Shueisha, é Doron Dororon de Gen Oosuka. A série, ambientada no tempo presente, mostra o adolescente Dora que sonha em ser um Samurai, uma classe de guerreiros que extermina Mononokes (criaturas monstruosas que atacam os humanos). Infelizmente ele não tem a energia espiritual para isso, mas não será necessário: Dora se alia a Kusanagi, um Mononoke transmorfo que quer proteger os humanos, e ambos passam a lutar para enfrentar desafios cada vez mais fortes.

Veja bem, boa parte das principais características de Demon Slayer estão presentes aqui. Os Mononokes são os Onis da vez, os Samurais são o esquadrão de extermínio e, claro, todo mundo luta com uma espada tal qual Tanjiro, Zenitsu e por aí vai. Até mesmo a motivação dos personagens é quase igual: Dora quer se vingar do Mononoke que assassinou a sua mãe.

Mas enquanto Demon Slayer parte para um caminho mais sério e soturno, Doron Dororon não esconde ser uma galhofa das boas. O senso de humor de Gen Oosuka é maravilhoso, e a interação entre Dora, Kusanagi e a “mestra” Gin rende sempre ótimos momentos. Para completar, as cenas de luta são ótimas e até um pouco mais violentas do que o esperado para a revista, algo que também estava presente na história de Koyoharu Gotouge.

Mas talvez a série atual com maior chances de ser projetada como a “nova Demon Slayer”, ou apenas um possível próximo sucesso da Shonen Jump, seja The Elusive Samurai (ou Nige Jouzu no Wakagimi). Além de normalmente ir muito bem nos rankings da revista, o destaque aqui é seu autor. Yusei Matsui foi o responsável por Assassination Classroom, um dos grandes sucessos da Jump em meados da década passada, e agora sua nova aposta é uma trama histórica fantástica, mas ainda baseada em fatos reais.

The Elusive Samurai/Reprodução

The Elusive Samurai começa no ano de 1333, quando o guerreiro Ashikaga Takauji promove uma revolução e extermina o clã Kamakura, tomando seus domínios. O único sobrevivente é Hojo Tokiyuki, um garoto pacífico cuja habilidade especial é fugir muito bem. Tokiyuki é salvo pelo monge Suwa Yorishige, que ensina o garoto como usar seus "poderes de fuga" para se tornar um grande general de guerra capaz de recuperar seu território.

Uma das coisas mais sensacionais de The Elusive Samurai é que todos os eventos do mangá são livremente baseados em fatos reais. Yusei cria muitas situações fantásticas e superpoderes mágicos, principalmente para ocupar lacunas presentes nos livros de História, mas ainda assim é uma ótima aventura histórica cheia de cenas de luta de bastante impacto. E não pense que o autor amenizou por ter protagonistas crianças e adolescentes, a guerra é retratada de forma violenta como em outros mangás destinados ao público mais velho.

Embora seja possível ver semelhanças e clichês de Demon Slayer sendo replicados em outros mangás, é impossível determinar qual série será um grande sucesso. A própria fama de Demon Slayer se deu de forma inesperada, uma soma de um anime bem produzido com uma vontade do público por histórias prezando a família.

Trouxe para essa matéria algumas séries que podem ser próximos sucessos da Shonen Jump, mas nada impede que essas obras sejam canceladas a qualquer momento e outros grandes sucessos apareçam de onde menos se espera. Talvez essa seja a graça do negócio, os elementos necessários para o shonen de lutinha se destacar são completamente imprevisíveis.

Como ler

Ficou com curiosidade para ler esses mangás novos da Shonen Jump? É possível ler oficialmente no Brasil através do aplicativo/site MangaPlus, da própria Shueisha. Todos domingo o serviço disponibiliza os capítulos da semana da antologia, geralmente em inglês e espanhol. Em português, há até o momento apenas Jujutsu Kaisen e One Piece.

É possível ler de graça os primeiros três capítulos dos mangás e os três mais recentes, mas neste ano de 2022 o aplicativo de Android e iOS passou a disponibilizar os capítulos “do meião”, desde que o usuário gaste um tíquete gratuito. Funciona apenas para as séries em publicação e só pode ser usado uma vez, mas é uma forma de alcançar a leitura dos sucessos atuais.

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