Os otakus soltaram a mão de My Hero Academia?

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Os otakus soltaram a mão de My Hero Academia?

My Hero Academia foi perdendo parte do público com alguns desenvolvimentos equivocados de roteiro, mas a série ainda é um pilar importante entre os shonen de lutinha

Omelete
8 min de leitura
22.02.2023, às 12H34.

My Hero Academia está caminhando para o fim tanto na versão em quadrinhos quanto na série animada, mas a sensação que se tem é que só se fala em outra coisa. Longe de gerar debates nas redes sociais como One Piece ou de compartilhamento de grandes trechos bem animados como Jujutsu Kaisen e Demon Slayer - Kimetsu no Yaiba, as aventuras de Midoriya em sua escola de heróis parecem ter sido deixadas de lado pelos fãs. Mas estaria a série realmente em decadência? E, se isso for verdade, quando esse fenômeno começou a acontecer?

Entender a importância da Shonen Jump no mercado de animes e mangás é parte do processo para compreender a importância de My Hero Academia. O almanaque semanal mais vendido do Japão é onde são publicados os capítulos de séries de muito prestígio, como One Piece, Jujutsu Kaisen e Black Clover. A revista também foi casa de dezenas de séries famosas no passado, como Hunter x Hunter, Cavaleiros do Zodíaco, Jojo's Bizarre Adventure, Yu-Gi-Oh e muitas outras. Com um histórico respeitável desses, já dá para perceber que uma série ser lançada na Shonen Jump é um bom primeiro passo para se tornar uma mania mundial.

A revista se apoia em "pilares", séries com muita procura que sustentam a revista e outros mangás de menor sucesso. No passado, o trio Dragon Ball-Yu Yu Hakusho-Slam Dunk fazia a Shonen Jump vender milhões de cópias semanalmente, mas no começo dos anos 2000, quem segurou o status da revista era o trio One Piece-Naruto-Bleach. Com o término de alguns pilares, outros foram surgindo para ocupar esse espaço, e é aí que My Hero Academia entra em cena, lá em 2014. Criada por Kohei Horikoshi, a série abordava um assunto do momento (um mundo cheio de heróis, como no Universo Cinematográfico da Marvel), um protagonista com características muito atraentes e uma ambientação escolar. Assim, My Hero Academia rapidamente se transformou em um queridinho da revista, tanto que rapidamente ganhou um anime produzido pelo estúdio BONES.

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A partir daí, a obra de Kohei Horikoshi seguiu a trajetória padrão de um sucesso da Shonen Jump: ganhou um monte de quinquilharias licenciadas, lançaram alguns spin-offs em quadrinhos com supervisão do autor e até mesmo foram produzidos três longas-metragens de sucesso para o cinema. My Hero Academia foi até considerado o "novo Naruto", graças às possibilidades de ser um estouro mundial, mas com o tempo as conversas sobre a série foram se tornando mais escassas. Não havia mais tantas pessoas debatendo as teorias sobre quem era o espião da turma 1-A, muito menos sobre os mistérios envolvendo o médico que diagnosticou a falta de individualidade do Deku. Será que My Hero Academia havia chegado a um ponto de saturação?

Parte da nossa impressão sobre My Hero Academia não ser tão bem sucedido assim pode vir da comparação com outros mega-sucessos da Shonen Jump, como Demon Slayer, Jujutsu Kaisen e Chainsaw Man. Estes exemplos são produções recentes de orçamento gigante que têm outra proposta, mas na comparação acabam fazendo My Hero Academia parecer um Chaves querendo brincar com a bola do Kiko. Colocar essas produções numa mesma balança é até injusto com a obra de Horikoshi, porque um fenômeno como Demon Slayer é capaz de qualquer coisa, até arrastar milhões de espectadores aos cinemas com a exibição de episódios compilados. É um fenômeno que não acontece sempre.

Contudo, se compararmos My Hero Academia a outros animes atualmente em exibição no Japão, podemos ver que o anime não faz feio. Transmitido em um horário de prestígio na TV japonesa, ele tem mantido um público fiel e superado a audiência de Doraemon e Crayon Shin-Chan. Nos mangás, a série também vende muito bem, com recordes significativos batidos em suas últimas edições, atingindo a marca de quase 700 mil cópias vendidas em um único volume. Além disso, a série tem tido sucesso em outros mercados importantes, como o francês, onde é a quarta série de mangá mais vendida.

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No Brasil, apesar da falta de informações precisas sobre números, podemos afirmar que My Hero Academia é bem forte. Quando a editora JBC foi absorvida pelo grupo Cia das Letras, o release informou que o título já havia atingido a marca de mais de 600 mil exemplares vendidos no mercado brasileiro. Além disso, a série parece ser bem-sucedida em plataformas de streaming: My Hero Academia sempre aparece entre os mais vistos da Crunchyroll, e a plataforma aposta tanto no anime que até temos acesso a uma versão dublada. E vamos lembrar que o anime também teve até uma rápida passagem na TV aberta, quando suas quatro primeiras temporadas foram exibidas pelo finado canal Loading.

As críticas dos (antigos) fãs

O tal fracasso de My Hero Academia pode até ser uma lorota, mas isso não muda o fato que pessoas foram abandonando a série no decorrer de sua serialização. Pessoalmente falando, a construção de narrativa de Horikoshi é cheia de altos e baixos: em alguns arcos como o do Overhaul é possível ver o esforço do autor para criar uma trama bem desenvolvida e cheia de reviravoltas empolgantes como manda a cartilha do shonen de lutinha, já em outros, como na batalha entre a turma 1-A e a 1-B, temos a sensação se sermos enrolados pelo roteiro.

Além disso, outro problema grave em My Hero Academia é o subaproveitamento do elenco secundário. Embora Horikoshi tenha criado muitos personagens secundários cativantes, ele geralmente se concentra nos mesmos cinco heróis para quase todas as histórias. Isso fica ainda mais evidente no arco da invasão à base dos vilões na primeira metade da sexta temporada - os fãs sentem falta de ver mais momentos com outros personagens, como os demais alunos da turma 1-A ou os novos heróis apresentados.

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Para fornecer uma visão mais democrática para esse texto, fiz uma pesquisa nas redes sociais para saber em que momento as pessoas abandonaram My Hero Academia e obtive algumas respostas curiosas. Embora haja opiniões mistas sobre alguns arcos, como o da apresentação musical no festival da escola, há tópicos citados muitas vezes e que merecem atenção.

Um ponto negativo para uma parcela dos fãs é o desenvolvimento de Deku. No início da história ele é apresentado como alguém sem poderes que deseja ajudar as pessoas e, portanto, com potencial para ser o típico protagonista que alcança seus sonhos através do esforço pessoal. No entanto, isso não acontece sempre, pois Deku é "carregado" muitas vezes. E não apenas pelo mentor All Might que lhe deu seus poderes, mas também pelo roteiro: sempre que o protagonista se vê encurralado em alguma limitação, Horikoshi cria uma situação conveniente para resolver aquilo. Uma dessas situações é o fato de Deku ter dentro de si poderes dos antigos detentores do One for All, o que é visto por muitos como um problema na história de My Hero Academia por causar muitos furos. Ainda hoje tem gente se perguntando por que o All Might não podia usar os poderes de seus antepassados da mesma forma que Deku.

Outro tópico levantado foi a humanização de Endeavor. O atual herói número 1 do mundo é apresentado como um homem maldito que fez várias tentativas de conseguir um filho com o poder que ele queria, mas após a “queda” do All Might ele passou a ser retratado pela história como um paizão exemplar. Não há qualquer ponto na trama que sugira uma crítica a essa "beatificação" de Endeavor, o que leva muitos fãs a questionarem como a narrativa passa um pano para esse personagem. Além disso, muitos fãs comentaram o quanto Shigaraki é um vilão com carisma negativo, apesar de sua história de vida dramática ter sido apresentada em um flashback emocionante.

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O trabalho do estúdio BONES também foi citado como uma razão para "abandonar" My Hero Academia. Após as primeiras temporadas de alta qualidade, houve uma queda de animação entre a quarta e quinta temporadas, especialmente considerando as fases da história que exigiam um pouco mais de capricho. Embora o anime tenha melhorado desde então, continuará sendo cobrado porque há outros shonen de luta com animação superior (como é o caso do One Piece, que atualmente apresenta uma qualidade impressionante para um anime semanal).

Mesmo com muitas críticas à reta final de My Hero Academia, não podemos esquecer o quanto a opinião dos leitores e espectadores pode mudar ao longo dos anos. O arco final de Naruto saturou os fãs durante sua publicação e o desfecho de Bleach foi duramente criticado, mas o tempo fez com que o ninja loiro ganhasse mais e mais fãs e o shinigami conseguisse transformar o ódio em aclamação com o mais recente anime. O fator nostálgico e a distância do período de publicação pode fazer com que as pessoas fiquem mais abertas a uma série, que tenham memórias mais doces, então quem sabe no futuro não veremos uma fanbase com saudade de quando Deku e seus amigos precisaram enfrentar o All for One? Só o futuro nos dirá.

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Onde assistir?

Todas as temporadas de My Hero Academia estão disponíveis na Crunchyroll, com legendas e dublagem em português. A atual sexta temporada tem episódios novos sendo lançados todos os sábados e o anime está rumando para o seu final (acredita-se que acabará na sétima temporada, ainda sem previsão de lançamento).

Já o mangá é publicado no Brasil pela Editora JBC e está colado com o lançamento japonês. Como a editora tem reimpresso volumes antigos, é fácil encontrá-los. Para ler semanalmente junto com a publicação na Shonen Jump, basta conferir o app MangaPlus da Shueisha, mas My Hero Academia está disponível apenas em inglês por lá.

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