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Será mesmo que os otakus rejeitam títulos traduzidos em animes?

O correto é “Demon Slayer” ou “Kimetsu no Yaiba”? Ou melhor, por que não podemos traduzir isso para o português?

Omelete
8 min de leitura
FG
19.04.2023, às 09H52.
Será mesmo que os otakus rejeitam títulos traduzidos em animes?

Créditos da imagem: Como Raeliana Foi Parar na Mansão do Duque/Reprodução

Se chegar em um grupinho de otakus querendo falar sobre “One Piece” ou “Bleach”, perceberá que todos parecem falar o mesmo idioma. Mas propor conversar sobre “Demon Slayer” pode fazer com que alguns te vejam com olhos tortos, afinal o nome “certo” é “Kimetsu no Yaiba”. Embora os japoneses adorem dar nomes em inglês para muitas de suas franquias de sucesso, algumas outras são nomeadas com (às vezes muitas) palavras japonesas, e aí começa uma confusão.

Como o idioma japonês não é tão difundido pelo globo, os detentores dos direitos acabam normalmente optando por títulos em inglês para que as obras sejam mais conhecidas pelo mundo inteiro. Por mais bem intencionada que seja a ideia, às vezes ela esbarra em péssimas escolhas de títulos internacionais, tipo Kekkai Sensen que deste lado do mundo virou o difícil de pronunciar Blood Blockade Battlefront.

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Mas onde ficam os brasileiros no meio dessa disputa de nomes? Perdidos, claro. Embora a língua inglesa seja mais “próxima” da nossa, até por estarmos mais imersos nessa cultura através de filmes e séries, uma pesquisa do British Council constatou que apenas 1% da população brasileira fala inglês com fluência. Já a parcela da população com um conhecimento não tão avançado assim do idioma é de 5%. E se considerarmos que muitos títulos de animes apresentam o tema principal da história, como é que podemos popularizar esse produto de mídia? Bem, traduzindo.

Traduções em tempos de internet

Acompanhar produtores de conteúdo otaku na internet pode proporcionar algumas situações confusas para o público. Como os animes costumam ter dois títulos, o japonês e o em inglês, às vezes as pessoas não conseguem se entender em uma recomendação simples. Claro, um Boku no Hero Academia tem um nome muito próximo de um My Hero Academia, mas e se a pessoa recomenda um Boku Dake ga Inai Machi e você não consegue entender qual é esse anime porque o título na plataforma de streaming é Erased?

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Não é muito difícil entender por que parte do público prefere utilizar os nomes originais das séries. Além da questão “respeitar a originalidade”, um ponto muito válido ainda mais quando títulos como Attack on Titan não adaptam tão bem seus originais, há uma tendência da pessoa sentir que um nome com palavras em japonês é mais... “japonês”. Para se sentir mergulhada naquela cultura tão distinta, a pessoa pode preferir que seu anime favorito tenha o mínimo de interferência possível. Nesse caso ela pode preferir um título em japonês, palavras não traduzidas em legendas (mesmo que existam traduções para elas) e por aí vai. É um comportamento próximo do conceito de tribo urbana, em que se cria esse “dialeto” para que pessoas com gostos parecidos conversem com termos próprios e se sintam como parte de uma mesma identidade.

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Claro que nem todo mundo que prefere título em japonês é um jovem querendo manter seus hobbies dentro de uma comunidade menor. A internet às vezes faz com que os títulos de séries sejam conhecidos primeiro em japonês pelo público, e só tempos depois através de uma tradução oficial. Hoje em dia podemos ter acesso a mangás e light novels muito antes do anúncio de suas adaptações em anime, momento no qual costuma ser criado o tal título internacional em inglês. E, com isso, o nome japonês acaba sendo o primeiro ao qual temos contato, aquele que nosso cérebro identifica como referente àquela série que gostamos.

As traduções no passado

A maior prova de que na maioria das vezes preferimos os títulos da forma como fomos apresentados às séries é lembrarmos que durante anos existiam traduções de nomes nos animes que assistimos na televisão. Saint Seiya para nós é Os Cavaleiros do Zodíaco, Captain Tsubasa virou Super Campeões e se você chamar Guerreiras Mágicas de Rayearth de Mahou Kishi Reiasu com certeza alguém vai te olhar com cara de ponto de interrogação.

E olha que nenhum desses títulos tem muito a ver com o nome original em japonês. Os Cavaleiros do Zodíaco e Super Campeões adaptam nomes que falam de indivíduos (no caso o cavaleiro Seiya e o capitão Tsubasa) e trocam para um título que reflete um coletivo de pessoas (no caso os cavaleiros e o time de futebol). Já o terceiro é uma tradução quase “errada”: o nome original seria algo como O Cavaleiro Mágico Rayearth, se referindo ao mashin/robô da protagonista, mas aqui elas viraram as Guerreiras Mágicas de Rayearth e pronto, ninguém questiona.

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No decorrer dos anos também tivemos algumas distribuidoras que trouxeram animes com nomes em japonês, mesmo que isso afetasse a compreensão dos títulos. Nos anos 1990 podemos lembrar do sucesso de Yu Yu Hakusho, um título que não diz muito para a gente sobre o que é a história e nos anos 2000 os brasileiros tiveram na televisão aberta um anime chamado Tenchi Muyo. Havia até quem acreditasse que o título era o nome completo do protagonista (mesmo sendo chamado de Tenchi Masaki na série toda).

Se pensarmos então que o público brasileiro aceita os títulos de animes e mangás diferentes do original, por que não traduzir então? Felizmente temos empresas que estão dando alguns passos nesse campo.

Um mercado aberto a traduções

Toda essa discussão poderia ser apenas um debate entre biscoito e bolacha se não fosse um ponto importante: a compreensão do título faz parte da experiência. Com a oferta de séries cada vez maior no Japão, tornou-se um artifício comum os autores japoneses criarem os maiores títulos possíveis para suas séries, até como forma de apresentar a sinopse da história no próprio nome.

Com isso o japonês que passar numa livraria e ver na capa o nome Suraimu Taoshite Sanbyaku-nen, Shiranai Uchi ni Reberu Makkusu ni Nattemashita (I've Been Killing Slimes for 300 Years and Maxed Out My Level em inglês) sabe que se trata de uma história na qual a protagonista passou 300 anos matando slimes para aumentar seu nível até o máximo sem nem precisar olhar a sinopse atrás do livro. E alguém que vê esse título na lista de animes da temporada vai saber exatamente o que esperar só de ver o pôster da série.

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Nos serviços de streaming a escolha entre traduzir ou não um título sempre foi um “depende”. Quando o Prime Video apostou mais em desenhos japoneses tivemos alguns exemplos de localizações: o anime Wotakoi ganhou o subtítulo “O Amor é Difícil para Otaku” e Jashin-chan Doroppukikku foi adaptado para… “Um Chute no Meu Diabo”. Alguns dos animes da Netflix são mantidos na plataforma com nome original (ou nome internacional), como Record of Ragnarok ou Romantic Killer, já alguns outros títulos de grande apelo podem ganhar um subtítulo (Beastars - O Lobo Bom) ou uma tradução total (Kotaro vai Morar Sozinho). Parece existir ali uma compreensão de que o título traduzido pode atrair o público em um anime mais “desconhecido”, como no caso da série da criança que vai morar sozinha em um apartamento japonês.

Enquanto a maioria dos streamings parece não seguir um padrão lógico, a Crunchyroll começou recentemente a mudar essa cultura de não adaptar títulos de animes para o português. Os animes na plataforma sempre traziam seus nomes internacionais em inglês, mas nas últimas temporadas começaram a experimentar. Primeiro alguns animes foram ganhando tradução nas telas de abertura (o The World's Finest Assassin Gets Reincarnated in Another World as an Aristocrat foi adaptado literalmente para "O Melhor Assassino do Mundo Reencarna em Outro Mundo como um Aristocrata"), e agora a plataforma começou a lançar seus animes com nomes em português na atual temporada de primavera de 2023.

Para entender esse movimento da Crunchyroll, fui atrás de Yuri Petnys, líder de marketing da plataforma no Brasil. “Embora trabalhar com títulos internacionais seja mais fácil do ponto de vista logístico (uma única aprovação funciona para todas as regiões), localizar os títulos permite que nosso público, que consome nosso conteúdo majoritariamente em português, engaje com o conceito da obra em um nível mais familiar, o que costuma lhes convencer a dar uma chance para obras novas” detalhou o profissional. Na atual temporada encontramos muitos títulos totalmente traduzidos para o português, como é o caso de:

- Como Raeliana Foi Parar na Mansão do Duque
- Crônicas de um Aristocrata em Outro Mundo
- Ganhei um Poder Apelão em Outro Mundo e Agora Sou Imbatível no Mundo Real
- Invocado Para Outro Mundo... De Novo?
- Meu Primeiro Amigo é um Tapado
- Meu Trabalho no Café Yuri
- Minha História de Amor com Yamada-kun Nível 999
- Minha Mana Apelona
- Uma Vizinha de Outro Mundo

Como se pode notar, são animes de nomes longos e, na maioria deles, é necessário compreender o que o título diz para entender do que se trata a história. Já alguns outros nomes de séries mantiveram uma parte do nome em japonês (a mais conhecida) e ganharam um subtítulo no nosso idioma:

- KamiKatsu: Atividades Divinas em um Mundo sem Deuses
- Mashle: Magia e Músculos

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Como o processo não é bagunça, tudo está de acordo com os responsáveis pelo anime no Japão: “os nomes localizados visam criar um título chamativo e que esteja alinhado com o propósito da obra original, e são elaborados pelos times locais com a supervisão das distribuidoras japonesas, que tomam a decisão final”, explica Yuri.

Animes com títulos em português é um passo importante para esse mercado, pois facilita que mais pessoas possam se interessar pelas séries. Um movimento muito parecido foi visto quando começaram a traduzir para o português os nomes das séries americanas, antes exibidas nas TVs pagas apenas com o nome original. A tradução dos nomes, além de um trabalho de dublagem bem feito, aproximou um público que não se interessava pelas produções antes e ampliou o mercado, e agora é esperar que esse processo se repita nos animes.

Enquanto isso não se estabelece, vamos continuar com essas discussões sobre título. Pelo menos aqui no Brasil a série de Tanjiro Kamado é conhecida apenas como Demon Slayer e Kimetsu no Yaiba, imagina a confusão que é na Espanha que a série foi adaptada para Guardianes de La Noche… se bem que esse título traduzido é bem simpático, heim?

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