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Dr STONE | O “shonen de lutinha” que troca jutsus por ciência

Em sua 3ª temporada, anime protagonizado por adolescente cientista continua ícone na luta contra o negacionismo

Omelete
8 min de leitura
FG
03.05.2023, às 14H33.
Dr STONE | O “shonen de lutinha” que troca jutsus por ciência

Créditos da imagem: Divulgação

Quando falamos em Shonen Jump, a revista de mangás mais vendida do Japão, é normal lembrarmos dos grandes shonen de lutinha que nasceram ali, como Demon Slayer, Dragon Ball e Naruto. Todas essas histórias têm em comum uma trama baseada em combates e no poder da amizade, mas às vezes é bom lembrar que na mesma revista já tivemos títulos “diferentes” como Dr STONE.

Mesmo sem o sucesso de um Demon Slayer, a duração de um Dragon Ball e com (muito) menos lutas que um Naruto, Dr STONE vai na contramão ao apresentar uma aventura divertida e com personagens dependendo da ciência e do cérebro em vez dos músculos, e trata a ciência de uma forma inédita até se pensarmos em quadrinhos educativos. Com sua terceira temporada atualmente no ar, será que conseguimos explicar qual a ciência por trás do sucesso de Dr. STONE?

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O que é esse dr Pedra?

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A versão em quadrinhos de Dr STONE começou a ser publicada em março de 2017, nascida da parceria entre dois autores famosos. O roteirista Riichiro Inagaki, lembrado por causa do mega-sucesso Eyeshield 21 (com desenhos de Yusuke Murata, de One-Punch Man) se uniu ao desenhista sul-coreano Boichi (de Sun-Ken Rock e Origin) para criar Dr. STONE, uma viagem de premissa um pouco absurda, mas fascinante.

A história começa no nosso tempo presente, com o adolescente prodígio Senku Ishigami tentando ajudar seu amigo brucutu Taiju a se declarar para sua amada Yuzuriha. Tudo ali parecia um cenário de romance escolar dos mais tradicionais, mas do nada uma luz surge no horizonte e transforma toda a humanidade em pedra (!). Os animais sobrevivem normalmente, mas todos os seres humanos se transformaram em estátuas de uma hora para a outra. Se passam dias, semanas, meses, anos, séculos, milênios... até Senku despertar após quase 4 mil anos.

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Tudo ao seu redor estava diferente. Os resquícios de civilização e humanidade desapareceram, dando lugar a um mundo coberto pela natureza e pelos animais. Mas agora esse adolescente genial tem uma ideia bem audaciosa: usar seu conhecimento científico para sair dessa "idade da pedra" compulsória e fazer o mundo retornar à modernidade tecnológica. A premissa parece algo que encontraríamos em uma ficção científica daquelas bem densas, mas logo Dr STONE nos lembra que estamos em um mangá para adolescentes: em meio à crise da humanidade temos alguns elementos fantasiosos salpicados na trama, como a resistência sobre-humana de Taiju ou a existência de uma poção capaz de despetrificar os humanos transformados em estátua. Dr STONE funciona assim mesmo, com um pezinho na ciência que aprendemos na escola e o outro nos absurdos que só um mangá da Shonen Jump poderia proporcionar.

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Com o despertar de mais pessoas graças à poção, alguns “vícios” humanos como a ambição começam a se fazer presente. O primeiro grande choque de ideologias acontece quando Senku ressuscita o adolescente mais forte do mundo, Tsukasa. Enquanto o cientista juvenil revela ter como plano trazer todo o planeta de volta à vida, o seu antagonista quer somente pessoas selecionadas, afinal o mundo continuaria um lugar terrível se as pessoas más que controlavam a Terra voltassem também. Tsukasa tem a linha meio “Thanos” de pensar que a humanidade tinha muita gente, e que o planeta poderia sobreviver com menos pessoas.

Embora esse primeiro arco da história já apresente conflitos interessantes, para muitos a história de Dr STONE começa após alguns episódios quando Senku chega sozinho à Vila Ishigami e faz amizade com alguns moradores locais, como a guerreira Kohaku e o “cientista amador” Chrome. Esse local muito primitivo é habitado por seres descendentes de humanos que não foram petrificados milhares de anos antes, o que faz surgir muitos mistérios: quem são os antepassados desse povo? Como sobreviveram à petrificação? Por que o nome da vila é o mesmo do sobrenome de Senku? E os autores não enrolam para responder essas dúvidas, e a partir daí o espectador já está rendido pela história.

A partir do arco da Vila Ishigami temos uma noção de como será o desenvolvimento de Dr. STONE. Senku descobre que a filha do líder sofre de uma doença grave, então ele utilizará seus conhecimentos científicos e políticos para criar o “remédio cura-tudo” (na verdade, o antibiótico penicilina). Através de um quadro negro o protagonista explica aos amigos todos os passos que levam à criação do remédio, e a busca por cada item se torna uma aventura à parte, isso sem falar da necessidade de convencer os poucos os moradores da vila sobre as boas intenções de Senku. Com tudo resolvido, o personagem partirá para resolver o conflito com Tsukasa e, depois, tentar descobrir a origem da petrificação.

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Menos combate, mais ciência

Longe do didatismo de um livro educativo, Dr STONE acerta ao transformar a jornada atrás de cada elemento em uma quest de RPG (às vezes literalmente, pois os autores brincam muito com Dragon Quest a cada conquista feita por Senku). Alguns elementos químicos perigosos na natureza ganham uma representação mais lúdica, como quando Senku vai atrás de ácido sulfúrico e este composto é representado como uma fada que atrai seres humanos para a morte certa.

Mesmo quando a obra insere alguma batalha física mais tradicional, o poder da ciência se sobressai. Senku sobrevive a muitos combates com pessoas mais fortes por ter preparado um produto químico certeiro ou por utilizar a física a seu favor. Fica claro que o foco da história não é em fazer lutinha bem feita, e sim mostrar como o desenvolvimento científico (e estratégia) pode ser o “jutsuque até uma pessoa mais fraca pode usar para vencer uma disputa.

Outro grande acerto de Dr STONE é mostrar como todo tipo de ciência é necessário para a humanidade. Por mais que Senku seja excelente em física e química, o rapaz é uma negação quando se trata de trabalhos manuais, humanidades ou até em cozinha. Artistas, jornalistas, programadores, todas as profissões são necessárias e valorizadas em algum ponto da história. E diferente daquela visão de acadêmico sem qualquer humildade, Senku reconhece suas limitações e despetrifica pessoas com conhecimentos científicos que ele não possui. Essa personalidade conciliadora do protagonista se mostra ainda mais importante quando, mais pra frente na história, a geopolítica aparece como ciência e temos que acompanhar acordos e tratados entre povos diferentes.

Talvez o mais curioso de se ver em uma história pró-ciência é o fato disso não ser tratado como algo elitizado ou excludente, pois mesmo quem não teve estudo formal (como os “primitivos” da Vila Ishigami) é capaz de ter algum tipo de conhecimento científico específico que será útil para levar o mundo para a modernidade. O Chrome, por exemplo, até tem um conhecimento pré-histórico de ciência, mas por ser observador ele é capaz de chegar às conclusões científicas mesmo sem a ajuda de seu mentor Senku. A relação entre os dois personagens é um destaque na história, e Chrome é responsável por popularizar o termo “cienceiro” em vez de “cientista” para as pessoas que fazem parte desse Reino da Ciência.

Dr STONE é muito divertido sim, mas isso não impede algumas falhas que podem incomodar as pessoas. O anime até dá uma arrumada nisso, mas o desenho do Boichi sexualiza demais as personagens femininas. Qualquer salto ou pirueta se torna uma desculpa para colocar um close na calcinha das mulheres, isso quando o autor não coloca a Kohaku em posições impossíveis apenas para exibir suas curvas traseiras e dianteiras ao mesmo tempo. Além disso, na parte de roteiro, demora um pouco para o espectador entender o “tom” da história, se o Inagaki quer algo super pé no chão ou uma farofa sem limites. Por mais que exista ali uma ciência aplicável na vida real, Dr STONE não esconde ser um mangá que busca divertir a qualquer custo, então o jeito é embarcar nas doideiras propostas por Senku e seus amigos.

Considero que um shonen é bem sucedido quando, além de divertir, ele tem um poder transformador de incentivar alguém a fazer algo legal. Mangás são capazes de popularizar esportes, artes, profissões e lutas, e por que não ciência? Vivemos em um tempo tão sombrio, com o conhecimento científico desdenhado por pessoas influentes no nosso mundo, então dá um quentinho no coração quando um mangá simples tenta passar a mensagem de que “a ciência é legal”. Mesmo sendo uma pessoa com meus 30+ anos, consigo sentir essa paixão pela ciência quando assisto um episódio de Dr. STONE. Fico pensando que, se eu tivesse assistido a esse anime quando criança, provavelmente eu cogitaria a possibilidade de no futuro me tornar um cientista. Ou melhor… um “cienceiro.”

Onde assistir

Esse é um excelente momento para se começar a acompanhar Dr STONE porque já há muito material para conferir. O anime atualmente está em sua terceira temporada, Dr STONE: NEW WORLD, com lançamento semanal pela Crunchyroll (tanto com legenda quanto dublado). As duas primeiras temporadas, Dr STONE (24 episódios) e Dr STONE: STONE WARS (11 episódios), assim como o especial Dr STONE RYUSUI (sequência direta de STONE WARS), também estão no catálogo da plataforma, com legenda e dublagem.

Para quem não aguenta esperar o anime e quer saber logo o final da história, o mangá de Dr STONE foi publicado por completo pela editora Panini, tendo sido encerrado em 26 volumes. Infelizmente a editora não falou ainda sobre lançar o spin-off Dr STONE Reboot: Byakuya, que conta uma história alternativa protagonizada pelo pai de Senku, mas ele pode ser lido (em inglês) no app MangaPlus da editora Shueisha.

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