Hi Score Girl, o anime da Netflix sobre o casal unido por Street Fighter II

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Hi Score Girl, o anime da Netflix sobre o casal unido por Street Fighter II

Conheça a série do rapaz que apanhou do Zangief da amiga no jogo da Capcom e se apaixonou.

Omelete
8 min de leitura
12.06.2023, às 10H13.

O lançamento de Street Fighter 6 fez com que muita gente relembrasse o quão divertido é esse universo da briga de rua. Mas embora conte com dezenas de jogos, filmes, mangás, animes etc, a história que melhor abordou o impacto cultural do jogo de luta não foi produzida pela Capcom, e sim pela Square Enix! Hi Score Girl é um anime da Netflix que pode até parecer uma história de romance entre dois adolescentes japoneses, mas na verdade é uma ode ao mundo dos fliperamas e, sobretudo, uma carta de amor à franquia Street Fighter.

Pilão contra Guile defensivo

O lançamento de Street Fighter II foi uma revolução nos videogames. Lançado em 6 de fevereiro de 1991, o jogo levou milhares de gamers às casas de arcade e também causou um estardalhaço em suas versões caseiras para Super Nintendo e Sega Genesis (o nosso Mega Drive). A Capcom refinou a jogabilidade do primeiro jogo da série e criou um modelo que viria a ser repetido por franquias como Mortal Kombat, Fatal Fury, Darkstalkers e muitas outras.

Era impossível ficar alheio a Street Fighter II nos anos 1990, mesmo aqui no Brasil. Era revista em quadrinhos nas bancas, um anime transmitido pelo SBT, filme animado nas locadoras, live action nos cinemas, isso sem falar no mercado paralelo que a Capcom não fazia nem ideia, com álbuns de figurinhas clandestinos e máquinas não-oficiais rodando o chamado "Street Fighter de Rodoviária", uma versão turbinada e caótica do jogo original. Tínhamos até um personagem para chamar de nosso, o Blanka, embora fosse um retrato pra lá de estereotipado.

No Japão, Street Fighter II deu uma guinada nos jogos de arcade. Se antes era comum encontrarmos nessas casas de fliperama alguns jogos de plataforma, brigas de rua ou games de navinha, a franquia da Capcom inaugurou um boom de jogos de luta que viraram a sensação de todos os gamers japoneses. Eram jogos rápidos e bastante competitivos, além de consumirem dezenas de fichas. Esse universo tão particular serviu como inspiração para o autor Rensuke Oshikiri criar o seu Hi Score Girl.

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A história é protagonizada pelo adolescente Haruo Yaguchi, um viciado em videogames que passa boa parte de sua pré-adolescência frequentando casas de arcade. Sua fixação com os jogos é tamanha que ele não só enxerga os personagens dos games na vida real como também conversa com eles e recebe conselhos (e porradas). Mas a vida do jovem Yaguchi mudou após um contra no Street Fighter II, quando ele apanhou feio de uma menina usando o Zangief, e a partir desse momento chave acompanhamos a rivalidade infantil tornando-se uma história de primeiro amor.

Mas não pense que se trata de um romance comum. Akira Ono vem de uma família rica e rígida, além de ter uma pequena dificuldade de se comunicar. Mas se Ono não consegue transmitir em palavras seus sentimentos, através dos jogos ela consegue manter uma comunicação não-verbal clara com o Yaguchi. Além de Ono, com o passar dos episódios somos apresentados a outros personagens, como a adolescente Koharu Hidaka que se apaixona por Yaguchi e enxerga Ono como sua rival no amor e nos jogos. Quem não gosta de um triângulo amoroso repleto de garotas geniosas e um rapaz tapado vai se desenrolando em meio às evoluções do mercado de games, não é mesmo?

Um retrato dos gamers no Japão

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Mesmo para quem tem um pouco de preguiça de acompanhar histórias de romance, Hi Score Girl capricha na reprodução histórica daquele momento histórico dos games. O mangaká Rensuke tinha 12 anos na época do lançamento de Street Fighter II, a mesma idade de Haruo Yaguchi no começo da história, então provavelmente essa ambientação rica em detalhes veio das memórias de tudo que o autor testemunhou durante sua adolescência em meio ao boom dos jogos de arcade.

Yaguchi parece um típico gamer dos anos 1990: compra revistas de games, vai atrás de lançamentos e sempre está animado com as novidades do mundo da tecnologia. No decorrer do anime acompanhamos não só as mudanças de Street Fighter II em duas dimensões a um Virtua Fighter poligonal, mas também as revoluções do mercado de videogames caseiros. Se no começo da história Yaguchi junta suas economias para um Super Nintendo, mais para o final da história temos o protagonista escolhendo entre o Sega Saturn e o Sony PlayStation.

Mas ainda assim Street Fighter é o fio condutor da história. Além de ser o meio utilizado por Ono para se comunicar com Yaguchi, já que a garota não se expressa verbalmente, os bonecos do jogo de luta também atuam como "conselheiros" dos personagens da trama. Guile, o lutador favorito de Yaguchi, precisa não só enfrentar lutadores pelo mundo todo, mas tem a função de indicar caminhos para o protagonista, comentar o mais recente fora da Ono e também decifrar o coração de Hidaka. O famoso jogo de luta também é o meio utilizado para resolver conflitos. Se num mundo normal apelaríamos para a conversa, em Hi Score Girl as disputas amorosas são resolvidas na base do hadouken pixelizado.

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É delicioso ver como vários elementos e piadas do mundo de Street Fighter são reproduzidos em Hi Score Girl. Uma das piadas recorrentes na história é o fato do tal Street Fighter III nunca chegar, e a Capcom espremer o segundo jogo da série até não dar mais. E, quando todo mundo imaginou que viria uma sequência, a desenvolvedora japonesa surpreendeu com a prequela Street Fighter Alpha (chamada de Street Fighter Zero no Japão, um título que deve ter irritado muitos Yaguchis). Outra gracinha relacionada à franquia de luta é o truque para escolher o Akuma em Super Street Fighter II Turbo, que se for executado de forma errada faz com que o jogador pegue um Ryu de kimono marrom.

Comédia romântica obrigatória para gamers

Por ser uma história que se propõe a retratar o universo dos arcades no Japão, imagine as dificuldades burocráticas para se fazer tudo isso. O mangá de Hi Score Girl foi publicado na revista Big Gangan que pertence à Square Enix, mas isso não impediu que Rensuke utilizasse personagens e jogos de outras desenvolvedoras como Capcom, Konami, Bandai Namco e por aí vai. Claro, nem tudo correu tão bem. Em 2014 o autor passou por um problema quando a SNK Playmore (dona das franquias The King of Fighters, Samurai Shodown e outras) acusou o mangá de violar direitos autorais. Hi Score Girl teve suas vendas suspensas momentaneamente, e somente um ano depois a Square Enix se resolveu com a desenvolvedora de Fatal Fury.

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Essa situação legal atrapalhou não só a publicação do mangá, como provavelmente atrasou a versão em anime. Originalmente anunciado no finalzinho de 2013, a adaptação animada de Hi Score Girl estreou somente em julho de 2018, com lançamento mundial pela Netflix no final do mesmo ano. O anime de Hi Score Girl tem 24 episódios, sendo composta por duas temporadas e 3 episódios de OVA. Isso tudo equivale aos 10 volumes já encerrados do mangá, ou seja, não teremos terceira temporada porque o desfecho da trama é aquele do anime.

Hi Score Girl é um anime ideal para quem também gosta de videogames e, de certa forma, viveu esse mundo nos anos 1990. Por mais que a série mostre situações tipicamente japonesas, como relações com vendinhas de bairro e viagens escolares, ele também trata de elementos mais globais ao mostrar crianças curtindo seus hobbies, a descoberta do amor e essa paixão avassaladora por Street Fighter II. E o autor consegue inserir na trama de forma muito orgânica as evoluções tecnológicas na história, então existe ali um significado narrativo em jogar Final Fight com a pessoa amada, disputar pontuação em Time Crisis ou esconder um Game Boy para não ser descoberto pela professora em uma viagem.

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O único ponto mais polêmico de Hi Score Girl acaba sendo sua animação feita em computação gráfica, com produção do J.C Staff (de Edens Zero) e animação feita pela Shogakukan Music & Digital Entertainment. Embora em alguns momentos as movimentações pareçam travadinhas, a qualidade num geral é excelente e em muitas vezes você se esquece que se trata de um anime quase todo feito em 3DCG. Inclusive vale comentar que a versão animada utiliza vídeos dos próprios jogos, além dos sprites pixelizados retirados de cada versão (ao contrário do mangá, que o autor desenhou Guile, Zangief e demais).

Por mais que Haruo e Ono sejam personagens bem difíceis de se simpatizar (eu mesmo estive do lado da Hidaka em todos os momentos possíveis, por mais que ela transborde uma falta de amor próprio), o desfecho de Hi Score Girl é muito satisfatório e até bastante realista, mesmo com o capítulo final sendo quase um delírio de Yaguchi com seus jogos favoritos. No final de tudo, é uma obra muito bonitinha que vai te dar vontade de tirar a poeira daquele SNES no fundo do armário para uma partidinha de Guile contra Zangief num Street Fighter II

Onde assistir?

Todos os 24 episódios de Hi Score Girl estão disponíveis na Netflix, com legenda e dublagem em português. A dublagem merece ser comentada aqui à parte porque o nível oscila bastante.

A primeira temporada e os OVAs foram localizados pela Dubbing Company Campinas e apresenta uma qualidade bastante irregular de tradução e atuação, por mais que o trio principal seja bem interpretado. A partir da segunda temporada a Netflix mandou o anime para o estúdio paulista UniDub (de One Piece e Jojo's Bizarre Adventure), e a qualidade melhorou muito, inclusive mantendo as vozes do estúdio de Campinas. Quer dizer, exceto o protagonista que deixou de ser interpretado por Roberto Rodrigues no episódio 12 e foi substituído por Alexander Vestri até o fim da série, ambos bons no papel.

O mangá original de Hi Score Girl não foi licenciado no Brasil e não há meios de se ler oficialmente por aqui. Além deste, o autor criou uma sequência spin-off chamada Hi Score Girl Dash que se passa em 2007 e acompanhamos a Hidaka como uma professora, então o máximo que podemos fazer agora é rezar para que essa nova série ganhe um anime.

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