Em 10 de setembro de 1993, no horário nobre do canal estadunidense Fox, estreava Arquivo X. A novata abriu com tímidos números de audiência, mas em pouco tempo foi ganhando a atenção do público e, consequentemente, dos executivos de sua emissora. Apesar dos trancos sofridos pela série ao longo de seus nove anos, ela hoje pode ser considerada um marco da televisão mundial, a reintrodução da ficção científica e suspense às telinhas.
Conversamos com Chris Carter, o criador de Arquivo X, em comemoração ao aniversário de 20 anos da série. O roteirista, que manteve o programa como o último trabalho em seu currículo pelas duas últimas décadas, nos falou sobre a criação de sua maior obra, o trabalho com Gillian Anderson e David Duchovny, sua participação na Comic-Con 2013, a possibilidade de um terceiro filme e mais.
Sobre a criação de Arquivo X, Carter explica que a ideia veio para preencher uma lacuna que havia ficado na TV aberta estadunidense: "eu achava que não tinha nada assustador na TV dos EUA à época. Esse foi meu maior incentivo, pegar um gênero que havia sido tão importante na minha infância e tentar trazer esse gênero de volta à vida." Séries como Além da Imaginação, A Quinta Dimensão, The Night Stalker, Night Gallery e Dark Shadows eram exemplos do que Carter sentia falta nas telinhas e queria ver de volta no quotidiano das pessoas.
Segundo o roteirista, o time que o acompanhou ao longo dos nove anos também deve ser responsabilizado pelo sucesso do programa: "por sorte eu consegui contratar uma ótima equipe desde o início, pessoas também gostavam desses programas e sabiam como assustar os outros. Você não faz uma série sozinho, é preciso um bom time ao seu lado, um time que entenda o que você está tentando fazer."
Dentre os nomes que compuseram o time de escritores estão Vince Gilligan, "que é uma estrela", Frank Spotnitz, "que foi de extrema importância para o sucesso e longevidade da série", John Shiban, Glen Morgan, James Wong, Darin Morgan, Howard Gordon e Alex Gansa, "que seguiram para criar Homeland", entre outros. "Eu tive muita sorte quando contratei essas pessoas. Eles chegaram a mim através de diferentes circunstâncias, muitos foram indicados, eu só aceitei o conselho dos amigos, completa Carter.
Mesmo depois de 20 anos, no entanto, depois de inúmeras demonstrações de carinho e dedicação dos fãs, ele se diz surpreso pela popularidade da série e pelo "fato de que eu estou falando com você 20 anos [depois]. É surreal para mim." Sobre o painel que comemorou o aniversário da série durante a Comic-Con 2013, Carter se diz "chocado pelos fãs e pelo respeito que eles têm para com a série e os personagens." A longevidade do programa e dos personagens o surpreendeu: "acho que isso é a real prova [de amor] ao trabalho de David [Duchovny] e Gillian [Anderson]", completou. Há ainda a nova geração de fãs, que descobrem a série através de canais de streaming, como Netflix e Hulu: "que essas pessoas jovens gostam da série é surpreendente."
Carter falou ainda sobre a dificuldade de se trabalhar quando não há prospecto para o final do projeto: "é complicado, porque quando você se predispõe a fazer uma série, você espera fazer 100 episódios - o que resulta em mais ou menos cinco anos. Mas de repente você tem 200 episódios e deve começar a pensar nas coisas de uma maneira diferente. Algumas pessoas reclamavam que a mitologia começou a ficar complicada demais, mas eu acho que a reclamação real é que [tudo] estava ficando muito longo e extenso. Exigia-se muita concentração para manter [os pedaços da história] frescos na cabeça. Com o sucesso, chegam também complicações imprevisíveis. Uma coisa boa a se fazer é sempre ter em mente que a audiência precisa conseguir te acompanhar."
No entanto, a introdução da Internet e dos canais de streaming podem mudar o formato pré-estabelecido estadunidense de se fazer séries de TV. "Estava conversando recentemente com uma pessoa que estava assistindo a uma série feita para a TV convencional no Hulu. Ele ficou muito irritado com as recapitulações no início de cada episódio porque ele não precisava daquilo, estava assistindo tudo de uma só vez." Prestes a embarcar em um projeto com a Amazon, Carter mostra preocupação em se adaptar e criar novos meios de narrativa: "em Arquivo X, nós tínhamos o que era conhecido como a mitologia, que tinha uma qualidade quase que como de um filme estendido. Agora pretendo fazer de uma forma que fique mais e completo com a Amazon."
Com a introdução de novos projetos em sua carreira, Carter não deixa de lado as pessoas com quem trabalhou: "eu sempre penso [em Gillian e David] e em como poderia usá-los. Há algum tempo, eu tinha um projeto no qual escrevi um papel para Gillian. Nós conversamos e ela disse que faria [o papel], o que me deixou muito animado." Ele explica que o projeto ainda não foi pra frente, mas que sempre terá a dupla em mente.
Na realidade, Carter sempre pensou em Anderson desde o início. Durante o processo de escolha do elenco, executivos da Fox queriam uma mulher mais atraente, ele insistiu na então jovem atriz: "ela precisava interpretar uma agente do FBI crível, precisava ser jovem, mas ainda assim passar credibilidade como uma médica legista. Gillian incorporou uma seriedade ao papel... Ela tinha que ser inteligente, mas não demasiadamente sexy. Se ela estivesse um pouco mais dentro dos moldes da TV aberta, [o papel] não teria passado a credibilidade necesária. Gillian era crível em todos os sentidos."
Depois de Anderson ter falado que toparia voltar caso um terceiro filme de Arquivo X acontecesse, Carter completa que já pensou em uma continuação e até teve ideias para ela, "mas no final das contas fica tudo a cargo do pessoal da 20th Century Fox". No entanto, ainda há esperanças: "outro dia ouvi dizer que houve algum tipo de comunicação sobre o assunto, mas nada diretamente comigo", completou.
Humilde, ao ser questionado sobre o legado de Arquivo X e suas possíveis influências em séries sucessoras, Carter explica que "é um contínuo. Espero que tenhamos sido bem sucedidos o suficiente para influenciar e inspirar outras pessoas. Eu definitivamente tive inspirações de outras séries também."
Além de seu projeto com a Amazon, o roteirista também desenvolve uma nova série para a AMC. Perguntamos se ele poderia revelar algum detalhe, já que não se sabe absolutamente nada sobre a trama: "por mais que eu gostaria de te falar alguma coisa, sou supersticioso sobre um trabalho que ainda está em desenvolvimento. Sinto como se eu começasse a falar, ele tomará vida própria e nesse momento eu preciso fazer o possível, injetar o máximo de mim no projeto. Ainda é muito cedo para discutir qualquer coisa."