O "pequeno filme" de Oren Peli continua dando frutos desde sua concepção oficial em 2007. Os mistérios em torno do amigo imaginário Toby, passando de uma simples assombração para um demônio desperto num ritual de bruxaria, parecem não ter fim, partindo, inclusive, para outros países e envolvendo famílias diversas. Foi uma ideia simples, inicialmente, oriunda de uma reportagem que o cineasta, até então inexperiente, leu sobre um casal que se mudou devido a problemas com fantasmas em sua residência. Peli imaginou que, se estivesse numa situação similar, encheria a casa de câmeras de vídeo para registrar as atividades sobrenaturais com o propósito de finalmente desvendar a existência de forças malignas capazes de influenciar e incomodar os vivos. A ideia, auxiliada pela reação do público em exibições-teste, cativou o diretor Steven Spielberg a sugerir mudanças e incentivar uma franquia.
A partir daí, o excelente custo-benefício intitulado Atividade Paranormal tornou-se um evento anual, lançando continuações a cada novo outubro e permitindo spin-offs, teorias e ampliações da mitologia. Foram exatamente esses excessos que condenaram a franquia: cada filme trazia novas ideias para a série, incluindo até mesmo idas e vindas de sua narrativa imaterial, complicando o conceito simples de tal modo que muitas perguntas deixariam de ser respondidas em seu episódio final, além de explicitar seus furos. Ao término do quinto filme oficial, Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma, o espectador não conseguirá evitar uma sonora decepção, devido às expectativas criadas pela aparição do demônio e pelos efeitos especiais realizados em computador. Mas, antes...
Uma passagem pelas outras Atividades (com spoilers)
O primeiro Atividade Paranormal, lançado oficialmente no Brasil em 4 de dezembro de 2009, trazia o casal Katie (Katie Featherston) e Micah (Micah Sloat) com problemas em sua nova morada, em 2006. Obcecado por filmagens caseiras, o rapaz parecia se divertir com a possibilidade de registrar experiências paranormais em cada cômodo. Portas que batem sozinhas, cobertor puxado, a combustão espontânea da tábua Ouija, pegadas pela casa, barulhos estranhos, uma mordida em Katie e seu comportamento suspeito...evidenciavam uma presença estranha no local. A visita do psíquico Dr. Fredichs (Mark Fredrichs) aponta a influência de um demônio no ambiente - e um demonologista, Dr. Averies, parece não estar interessado em ajudá-los. Entre os destaques do filme, quase próximo de um horror genuíno, há a cena em que pesquisam na internet o ocorrido com uma tal de Diane Mercer (Ashley Palmer), que, em 1966, teria devorado a si mesma e morreu durante um exorcismo. Custando apenas $15 mil dólares, o longa alcançou a marca expressiva de $107, dando o pontapé inicial para a realização da parte 2.
Atividade Paranormal 2 estreou em 22 de outubro de 2010, sob o comando de Tod Williams para um roteiro desenvolvido por Michael R. Perry, Christopher Landon e Tom Pabst. A trama, concomitante com os eventos do primeiro filme, apresentava uma nova família, já que Micah fora assassinado no original e Katie estaria desaparecida. Daniel Rey (Brian Boland), sua esposa Kristi (Sprague Grayden), os filhos Ali (Molly Ephraim) e Hunter (William Juan Prieto e Jackson Xenia Prieto), além do cachorro, começam a testemunhar atividades estranhas em sua residência, em Carlsbad, Califórnia, a partir da visita de Katie e Micah. Imaginando se tratar de uma invasão de domicílio, eles colocam câmeras nos cômodos, incluindo a parte externa, para descobrir o que anda acontecendo. A empregada Martini (Vivis Colombetti) é a primeira a sentir uma presença ruim no local, mas é logo mandada embora, como acontece em várias produções demoníacas – sorte dela, pois poderia ter o mesmo destino da babá de Damien. Movimentos na piscina, arranhões na madeira, ataque ao cachorro, a importância de Hunter (o primeiro homem nascido na família desde 1930), e a "transferência" do demônio para Katie fazem parte do cardápio macabro do segundo filme, que mantém a atmosfera do primeiro e termina com a morte dos pais e o sequestro de Hunter pela possuída Katie.
Em 21 de outubro de 2011, estreou no Brasil a terceira parte, um dos pontos altos da franquia. Ela se passa em 1988, e apresenta a infância das irmãs Katie (Chloe Csengery) e Kristi (Jessica Tyler Brown) com a mãe Julie (Lauren Bittner) e o padrasto Dennis (Christopher Nicholas Smith), que também gosta de filmar com sua câmera “ultra-moderna” os acontecimentos estranhos na residência. As pequenas possuem um amigo "imaginário" chamado Toby, que as ensina a brincar de Bloody Mary, algo que perturba o tio Randy (Dustin Ingram), arranhado pela entidade. Dennis descobre o triângulo invertido e encontra referências a um coven que faz pacto com o demônio em troca de riquezas. Ao tentar escapar das influências malignas, Dennis leva as meninas até Moorpark, na casa da avó, após testemunhar uma ocorrência sobrenatural na cozinha, sem saber que está fazendo exatamente o que as bruxas querem. No final, Julie e Dennis são atacados no local, enquanto as meninas serão conduzidas a uma preparação para eventos futuros - o que será visto na parte 5.
A parte 4, que estreou em 19 de outubro de 2012, se passa em 2011, cinco anos após o sequestro de Hunter por Katie. Diferente dos filmes anteriores, este tem como foco a adolescente Alex (Kathryn Newton), que vive com a família em Henderson, Nevada. Ela e o irmão Wyatt (Aiden Lovekamp), além do namorado Ben (Matt Shively), começam a perceber movimentos estranhos no vizinho da casa da frente, principalmente com o pequeno e estranho Robbie (Brady Allen). Quando o menino passa a conviver com a família, ele começa a influenciar Wyatt, apresentando-o a Toby, a partir do Kinect, do xbox. A surpresa de Atividade Paranormal 4, muito próximo de um horror adolescente, está em enganar o público sobre a identidade de Hunter: enquanto alguns imaginam ser o sinistro Robbie, depois descobre-se que Wyatt é o menino raptado por Katie.
Embora Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal seja considerado apenas um spin-off latino, ele traz algo que faltou em Tóquio (2010): uma continuidade na mitologia da série. Ele estreou em 10 de janeiro de 2014, e é um bom exemplar da franquia, trazendo o jovem Jesse (Andrew Jacobs) com a influência do demônio após testemunhar a morte de um vizinho. Ele passa a adquirir estranhos poderes, e descobre uma conexão da entidade demoníaca com as bruxas, num confronto bem interessante na divertida sequência final, que resgata os acontecimentos no primeiro filme, mostrando Katie matando Micah. Se fosse um pouco mais apurado no roteiro, este poderia ser um final digno para a série, sem a necessidade de tentar mostrar mais do que devia como foi feito na parte 5. (fim dos spoilers)
Enfim, você irá ver a Atividade...
Anteriormente previsto para ser lançado em outubro 2013, Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma foi adiado primeiramente para outubro de 2014 e depois março de 2015. Apenas em janeiro deste ano, a Paramount finalmente indicou como data oficial dia 23 de outubro, um dia após o lançamento no Brasil. Geralmente, essas alterações constantes na estreia ocorrem por consequência de algumas recepções ruins em exibições-teste, ainda que a distribuidora insista em apontar detalhes de logística. De qualquer forma, o quinto filme oficial da franquia de Oren Peli arrecadou mais do que gastou, mas colecionou críticas negativas em diversos sites e jornais, sendo considerado o pior longa de uma desgastada série. Injustiça? Infelizmente, não.
Desde os primeiros trailers, com a informação de que desta vez o público veria a atividade, os efeitos especiais em CGI já desanimavam o espectador. A promessa em 3D e a repetição da fórmula também contribuíram para a baixa expectativa, ainda que houvesse a esperança de finalmente saber os propósitos das bruxas e o seu interesse pelo menino Hunter. Com o surgimento dos créditos finais, com a lamentação evidente do público, a sensação aparente é que Atividade Paranormal 5 é uma mistura indigesta de Poltergeist com a série Supernatural, e que muito foi feito para algo que acabou se concluindo de maneira simplória.
O longa começa com a sequência final do terceiro filme, quando Dennis tem a coluna partida por Toby, enquanto as pequenas Kristi e Katie são levadas pela avó Lois a um cômodo, onde um homem misterioso as aguarda para iniciar os preparativos para algum ritual. Vinte e cinco anos depois, em dezembro de 2013, o público conhece os Fleeges: os pais Ryan (Chris J. Murray) e Emily (Brit Shaw) e a pequena de seis anos Leila (Ivy George). Eles estão em vias de comemorar o Natal com o irmão de Ryan, Mike (Dan Gill), chateado por terminado um namoro recente, e a bela Skylar (Olivia Taylor Dudley), a primeira a descobrir que Leila possui um amigo imaginário chamado Toby. Enquanto filma todos os acontecimentos, sem grandes motivações para isso, Ryan encontra uma caixa na nova residência contendo fitas de vídeo, datadas de 1988 a 1992, e uma câmera antiga, capaz de captar uma estranha presença no local.
É através dessa câmera que o público verá a manifestação de Toby em 3D (as demais câmeras são comuns) - uma ideia que remete às tentativas de William Castle nos efeitos de 13 Fantasmas (1960). Ao assistir às fitas, as de 1988 são a representação de Atividade Paranormal 3, já a de 1992 trazem um estranhamento para Ryan e Mike nas tentativas das garotas de se comunicar com Toby, e a interação com os acontecimentos de 2013. Elas descrevem o quarto de Leila, os irmãos e até dizem "saúde" para o espirro da menina. Já a câmera começa a visualizar uma estranha mancha negra, como se fosse óleo, movendo-se pela casa em movimentos assustadores, o que leva Ryan a espalhar câmeras como testemunhas dos acontecimentos.
A partir daí, o filme segue a fórmula da franquia, numerando as noites, enquanto apresenta a evolução da entidade, adquirindo forma gradualmente. Como Poltergeist, Leila começará a ser levada para o outro lado; como Supernatural, eles seguirão as sugestões do padre Todd (Michael Krawic) para um extermínio do Mal, com traçados no chão, cobertor benzido e ritual de limpeza. Para justificar o 3D, o demônio, por diversas vezes, saltará na direção da tela, enquanto coisas começarão a ser atiradas na direção do público em sustos falsos, elevados pela sonoridade extrema.
O roteiro de Jason Pagan, Andrew Deutschman, Adam Robitel e Gavin Heffernan é bastante óbvio e não vai além do que se espera. Não há surpresas, nem grandes revelações sobre a importância de Hunter (e também Leila) para a manifestação física do demônio. "Elas só precisavam de uma gota de sangue", diz Leila, fazendo o espectador suspirar por tamanha atividade em três décadas de gravações mal justificadas. Ora, a franquia A Entidade soube explicar por qual razão o demônio queria que as crianças filmassem os assassinatos...por que não deram um argumento para a necessidade de tantas famílias registrarem com câmeras os acontecimentos?
Teria sido muito melhor também se os acontecimentos com a família Fleeges fossem similares às manifestações ocorridas com Alex, do quarto filme, quando Hunter/Wyatt foi simplesmente sequestrado pelas bruxas com a ajuda do menino Robbie. Se Hunter tem a mesma importância de Leila, devido ao nascimento na mesma data, por que o demônio precisou abrir passagem entre dimensões para levar a garota até 1992, sendo que o menino não precisou disto? Ou então, as bruxas poderiam invadir a casa, sequestrar Leila e levá-la para algum lugar onde poderia ser feito o ritual, não?
Todas essas situações mal explicadas, acentuadas pelos efeitos ruins, sustos falsos e a conclusão abrupta, condenaram qualquer possibilidade de uma boa avaliação para o quinto filme. E, pelo visto, será o último da franquia oficial, já que o produtor Jason Blum disse em entrevista que não descarta que outros spin-offs possam ser feitos, nem mesmo um reboot. Se a saga found footage teve seu fim com Dimensão Fantasma, pode-se comemorar pelo desgaste da fórmula, mas não pela conclusão dos acontecimentos. Será que Toby ainda será visto em mais algum filme?
Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma é atualmente o terceiro filme mais visto no Brasil (veja aqui). Com um orçamento de US$ 10 milhões, o filme já arrecadou US$ 67 milhões mundialmente.