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Avonts #9: Como Brooklyn Nine-Nine nos ensina a equilibrar drama e humor

Comédia policial trata de assuntos sérios sem perder a leveza

26.05.2020, às 19H36.

Brooklyn Nine-Nine foi criada por Dan Goor, roteirista, produtor e diretor de Parks and Recreation, e por Michael Schur, cocriador da versão americana de The Office e de Parks and Recreation, e também criador de The Good Place.

O que todas essas séries assinadas por Schur têm em comum é o humor construído em torno das relações entre os personagens e o público. É por isso que muita gente começa a ver e não acha muita graça logo de cara. Brooklyn Nine-Nine, por exemplo, é conhecida pela quebra de estereótipos, buscando risadas justamente no contraponto da expectativa de comportamento criada por suas personalidades exageradas. Mas para rir dessa fórmula é preciso conhecer Jake Peralta (Andy Samberg), Amy Santiago (Melissa Fumero), Rosa Diaz (Stephanie Beatriz), Charles Boyle (Joe Lo Truglio), Raymond Holt (Andre Braugher), Gina Linetti (Chelsea Peretti), Hitchcock (Dirk Blocker) e Scully (Joel McKinnon Miller).

Aproveitando essa relação pessoal com o seu público, a série sempre usou seu espaço para falar de temas relevantes. Não se trata exatamente de uma dramédia, mas Brooklyn Nine-Nine é uma peça única dentro do gênero policial. Completamente distante dos procedurais que lotam a TV americana, como Law & Order, CSI e Chicago PD, a série também não é uma comédia escrachada como as Loucademia de Polícia ou Corra que a Polícia Vem Aí. Talvez Um Tira da Pesada seja exemplo mais próximo como comédia policial, ironizando as situações pelo olhar do carismático Alex Foley, mas sem perder a gravidade dos assuntos que o cercam.

É o fator humano que permite Brooklyn Nine-Nine fazer piada com coisa séria, sejam crimes ou relações sociais. Uma lógica que a série também aproveita para comentários mais profundos, já que a própria negação do peso de um problema é um mecanismo defesa. Essa noção garante que quando Peralta faz os suspeitos de um caso de assassinato cantarem “ I Want You That Way” não seja por sadismo.

Entre uma piada e outra, a série vai dando consistência para os seus personagens, falando sobre a relação complicada de Peralta com seus pais, sobre o trauma de Terry, a bissexualidade de Rosa, a ascensão de Amy no trabalho, as dúvidas sobre maternidade de Gina, entre muitos outros exemplos. Além de usar episódios inteiros para tratar de assuntos complicados, como o racismo na polícia em “Moo Moo” (S04E16), quando Terry é abordado por um policial ao procurar o cobertor da filha na rua da sua casa, ou a onda de revelações do movimento “Me Too” com “He Said, She Said” (S06E08), em que Amy investiga um caso de assédio e relembra a sua própria experiência.

Para tratar de assuntos sérios, Brooklyn Nine-Nine não deixa de ser uma comédia, o que não significa que sua mensagem não seja contundente. Especialmente em um momento como o atual, em que uma pandemia global gerou uma crise sem precedentes, a empatia inspirada pela série é fundamental. O peso dos seus dramas é sentido mesmo em um contexto inusitado porque o público se importa com cada um dos personagens (até mesmo Hitchcock e Scully).

Por esse equilíbrio entre drama e comédia surge a possibilidade de encontrar respiro. Como John Krasinski fez ao criar o seu canal Some Good News - o que David Byrne já havia feito com o Reasons to be Cheerful, ou o Razões para Acreditar faz aqui no Brasil - é preciso encontrar o lado bom para que o negativo não nos consuma. Ao mesmo tempo, como explica Gregório Duvivier no episódio “Leveza” do Greg News, enquanto vivenciamos o negativo, a arte nos ajuda a lidar com o trágico, seja pela comédia que nos distrai ou pelo drama que nos ajuda a entender a morte enquanto seguimos com a vida.

Na sua despretensão, Brooklyn Nine-Nine se prova a receita perfeita para entender que a vida precisa ser uma dramédia. Enquanto os problemas são reais e não parecem ter fim, há uma luz no fim do túnel, uma risada perdida, um momento besta, uma ironia para seguir com o dia.

Confira acima o Avonts sobre Brooklyn Nine-Nine e veja abaixo as referências da conversa:

1. Brooklyn Nine-Nine:

  • “Moo Moo” (S04E16) | Onde ver: Netflix
  • “He Said, She Said” (s06e08) | Onde ver: Netflix

2. A Saudável Masculinidade de Brooklyn Nine-Nine (Entre Planos) | Onde ver: Youtube 

3. Um Tira da Pesada | Onde ver: Globoplay e Amazon Prime Video

4. Some Good News | Onde ver: YouTube

5. Reasons to be Cheerful

6. Razões para Acreditar

7.Greg News - “Leveza” | Onde ver: HBO e Youtube

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