Independente em relação a todos os filmes do Cavaleiro das Trevas que o precederam, bem como das mais recentes produções cinematográficas da DC — que incluem Pacificador, O Esquadrão Suicida (2021) e até Coringa (2019) —, Batman chega aos cinemas com a sua própria interpretação do mito do personagem. Conforme reescreve personagens icônicos como Bruce Wayne (Robert Pattinson), Selina Kyle (Zoë Kravitz) e Oswald Cobblepot (Colin Farrell), o diretor e roteirista Matt Reeves homenageia arcos dos quadrinhos, direciona a história que quer contar e até dá noções de futuro para o que pode ser uma nova saga.
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Para trazer à luz esse trabalho de mudança em personagens clássicos tão queridos à cultura pop, o Omelete lista abaixo as principais mudanças visíveis nesses e em outros componentes da mitologia do Homem-Morcego já no início do novo filme, sem muitos spoilers. Ainda assim, só leia tudo se não se incomodar com uma contextualização maior antes de assistir à produção da Warner.
Batman/Bruce Wayne (Robert Pattinson)
Como o próprio Matt Reeves já antecipou inúmeras vezes, Batman se passa no segundo ano de atividades do herói-título. Por isso, não espere ver o Cavaleiro das Trevas experiente, totalmente frio e calculista. No novo filme, a dor da morte de Thomas (Luke Roberts) e Martha Wayne segue tão viva na mente de Bruce Wayne quanto quando aconteceu. Isso o impulsiona a uma espiral obsessiva de atuação como o Cavaleiro das Trevas, fazendo dele um insone recluso e propenso a alguns excessos de confiança e violência, ao menos no início do filme.
Deixando sua persona civil quase que completamente de lado, Bruce põe em risco o destino das Indústrias Wayne e da estabilidade de sua farsa como um bilionário supostamente alienado. Por ele, tudo bem: o jovem herói enxerga em seu vigilantismo a única forma de honrar a memória de seu pai e de sua mãe – pais fundadores reverenciados em Gotham – e salvar a cidade que eles tanto amavam. Seus métodos vingativos, entretanto, começam a levantar dúvidas quanto à eficiência, ao mesmo tempo em que ameaçam alienar aqueles poucos que estão ao seu lado
Referências: Batman: Ano Um; Batman: Ano Dois; Batman: Ano Zero; Batman: Gotham 1889; Batman: Terra Um; Batman: Veneno; Batman: Ego
Edward Nashton/Charada (Paul Dano)
No lado oposto de Wayne está o misterioso serial killer Charada, um assassino frio que dá cabo de suas vítimas de maneiras simultaneamente brutais e elaboradas. A cada morte, uma charada e uma mensagem direcionada ao Batman são deixadas na cena do crime, o que força o Cavaleiro das Trevas e o Departamento de Polícia de Gotham a mergulharem em uma corrida contra o tempo antes que a ação do psicopata fira as estruturas da sociedade que conhecem.
Esta versão do tradicional vilão do Homem-Morcego, entretanto, é muito diferentes daquelas mais populares que vimos anteriormente. Esqueça o terninho verde com pontos de interrogação ou a teatralidade: o Charada de Batman é um matador silencioso que só deixa as trevas para manipular a mídia e a Opinião Pública a seu favor. Suas motivações também são mais profundas que apenas ganância, inveja ou orgulho; estão intimamente ligadas a segredos do passado de Gotham.
Referências: Batman: Arkham City (game); Batman: Ano Zero; Batman: Silêncio; Se7en - Os Sete Crimes Capitais (1995); Jogos Mortais (2004).
Alfred Pennyworth (Andy Serkis)
Um dos raros aliados na jornada de Bruce é o tradicional mordomo Alfred Pennyworth. Em Batman, entretanto, ele surge como muito mais do que a figura paterna na vida do bilionário. Ex-MI6, Pennyworth foi contratado pelos Wayne para liderar a segurança da família, considerando um fracasso pessoal a morte de seus patrões. Levando como sua missão de vida a proteção do jovem órfão e do legado da família, ele vive um momento de tensão com seu protegido, já que o ímpeto dele como Batman ameaça colocar tudo a perder.
Com uma roupagem mais jovem e intensa, e mais participação nas ações do Homem-Morcego como um vigilante em Gotham, este Alfred traz cicatrizes físicas e emocionais, guarda segredos importantes e promete ser um dos pontos altos dessa nova saga, caso ela venha se desenvolver em mais filmes após este primeiro.
Referências: Batman: Terra Um; Batman: A Corte das Corujas.
James Gordon (Jeffrey Wright)
Para começar, o famoso "Comissário Gordon" não é ainda comissário, mas sim um tenente que rema contra a maré por insistir na honestidade em uma cidade caótica como Gotham. Defensor da ideia de que a polícia precisa colaborar com o Batman, ele usa sua experiência e história na força de segurança para garantir que seus colegas permitam o acesso do Cavaleiro das Trevas em investigações importantes.
Conforme o cerco do Charada se torna mais e mais intenso, entretanto, a relação delicada entre ele e o Homem-Morcego chega a um ponto de ruptura que exige evolução ou fim. De certa forma, é ele o "homem comum" da história que empresta seus olhos ao público, conforme megulha em uma trama de tons por vezes surreais.
Referências: Batman: Ano Um; Batman: Terra de Ninguém.
Selina Kyle/Mulher-Gato
Além de um elemento em sua origem inédito até hoje nas telonas, que seria um enorme spoiler revelar aqui, essa Selina Kyle é muito fiel a alguns retratos da personagem nos quadrinhos; especialmente o escrito por Frank Miller em Batman: Ano Um. Uma jovem da classe trabalhadora, ela aprendeu a se proteger e proteger aos seus dada a dureza da vida em Gotham, e emerge como gatuna conforme a conspiração que engole a cidade a afeta em uma esfera pessoal.
O coração de Selina, entretanto, é feito mais doce e inocente que o de sempre em Batman. Ainda pouco envolvida com atividades criminosas graves, a personagem é confrontada com escolhas que determinarão como sua persona anti-heróica irá se desenvolver moralmente — tudo isso enquanto encontra no misterioso Batman uma espécie de espelho distorcido de sua própria jornada.
Referências: Batman: Ano Um; Mulher-Gato: Her Sister's Keeper; Batman: Vitória Sombria.
Oswald Cobblepot/Pinguim (Colin Farrell)
Esqueça o monóculo, o fumo constante, o guarda-chuva, a cartola e até a risada engraçada. Esqueça também as versões onde ele é um grande chefão do crime. Ainda portando cicatrizes e um jeito de andar que o fizeram ser conhecido como Pinguim, o tradicional vilão do Batman é reimaginado como um personagem digno de um filme de Martin Scorsese. Braço direito do líder mafioso Carmine Falcone (John Turturro), o maior mérito de "Oz" é ser o dono do badalado Clube Iceberg; ponto de encontro do submundo de Gotham.
Isso não significa, entretanto, que Matt Reeves pasteurizou um dos melhores antagonistas do Homem-Morcego. Muito pelo contrário, aliás. Ao enquadrá-lo como um homem ambicioso que foi colocado em segundo plano, mas que tem potencial para almejar mais, o cineasta prepara uma apoteótica ascensão para o bandido que deve acontecer na série solo dele, desenvolvida para a HBO Max.
Referências: Pinguim Triunfante; Pinguim: Dor e Preconceito; Batman: Arkham City (game).
Carmine Falcone (John Turturro)
Por fim, ele: o último dos grandes chefes do crime da antiga Gotham. Envolvido até o pescoço em tudo de errado que a assola desde que Thomas Wayne e Martha Wayne se empenhavam para melhorar a cidade, o agora recluso gângster vive de sua fama e do temor que conquistou ao tomar o espólio deixado pela queda de Salvatore Maroni.
Turturro interpreta Falcone com imenso sadismo, mas também vulnerabilidade. É o misto da arrogância de um homem que se sente intocável, no topo do mundo, ao mesmo tempo que enxerga no horizonte a tempestade que fará seu Olimpo ruir.
Referências: Batman: Ano Um; Batman: O Longo Dia das Bruxas; Batman: Vitória Sombria.
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Dirigido por Matt Reeves (Planeta dos Macacos), Batman tem no elenco Pattinson como o Homem-Morcego, Paul Dano (Charada), Zoë Kravitz (Mulher-Gato), Jeffrey Wright (Comissário Gordon), Andy Serkis (Alfred) e Colin Farrell (Pinguim).
A estreia do filme ficou para 3 de março no Brasil, e a pré-venda dos ingressos já começou.
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