Danger Girl: Perigosamente Sua - Volume 1
Érico Borgo
Depois que a Panini lançou o encontro entre Danger Girl, curvilínea criação de J. Scott Campbell, e o Batman, a primeira aventura da equipe de espiãs finalmente chega ao Brasil.
A HQ apresenta a primeira missão de Abbey Chase, arqueóloga espevitada, e a organização secreta formada por Natalia Kessle, Sydney Savage e Silicon Valerie. Traz também o recrutamente da nova agente e sua última aventura antes de juntar-se à sensual, turbinada e seminua equipe.
Mas o lançamento demorou demais. As aventuras de Danger Girl logo completarão uma década e perderam toda a inovação. Principalmente hoje, quando nem mesmo Lara Croft e As Panteras parecem funcionar mais. O gibi devia ter saído faz tempo... chega com jeitão de coisa velha, como um filme de ação de 1998 sendo lançado só agora nos cinemas.
O formato também não ajuda. Na contramão de suas ótimas publicações recentes, a Devir lançou o primeiro arco de histórias de Danger Girl dividido em duas partes, cada uma custando 36 reais. Pra piorar, o exemplar resenhado tem problemas de registro, resultando numa arte borrada em algumas páginas e prejudicando justamente o único elemento que poderia ter algum apelo aos leitores com 72 reais no bolso pra pagar esses gibis: o fetiche.
(Danger Girl Preview, Danger Girl 1 a 4) De J. Scott Campbell e Andy Hartnell. Editora Devir. Formato americano, 122 páginas. 36 reais.
Ero-Guro: o Erótico-Grotesco de Suehiro Maruo
Érico Borgo
E por falar em fetiche, Ero-Guro - O erótico-grotesco de Suehiro Maruo bate todos os recordes do gênero.
A HQ imediatamente me lembrou de Macumba, um filminho bastante popular nas faculdades em meados da década de 1990. Dizem que ela foi editada por Mike Patton, o vocalista do Faith No More, o que diz muito sobre o sujeito. A saudosa fita VHS (nunca devolveram a minha cópia-da-cópia-da-cópia), trazia uma compilação de cenas pornográficas das mais degradantes possíveis. Eram mutilações em curso, mutilados engajados em práticas pouco ortodoxas, gente deleitando-se com toda sorte de materiais excrementosos e por aí vai... a cada três amigos que viam, dois reencontravam-se antes da hora com suas refeições.
Suehiro Maruo, autor de Ero-Guro, deve ter o Macumba original em DVD. Ou, se bobear, aparece no vídeo...
A HQ, lançada no confortável formato mangá-livro da Conrad, reúne nove histórias repletas de atrocidades macumbescas. Nela, um garoto abortado cresce no esgoto alimentando-se de dejetos, outro decide experimentar a vovó, irmãos mutilados cometem incesto, entre outras situações aberrantes. Isso sem falar na língua-no-olho, olho-na-coisa...
Uma obra feita para chocar, sem dúvida. Algo que costumo exaltar por aqui, afinal, qualquer coisa que nos tire do marasmo artístico merece ser conferida. O problema é quando a coisa foge do controle... Ero-Guro tem como ponto forte o sentimento de inadequação, mas não sustenta o foco em algumas das histórias. Problema do qual o lançamento anterior de Maruo, O vampiro que ri, não sofre. Mas para quem aprecia filmes como o recente Três extremos, porém, o mangá é um prato cheio (do quê cabe ao leitor decidir).
(Yaneura no tetsugakusha, muteikou-toshi) De Suehiro Maruo. Editora Conrad. Formato livro (16 x 23 cm), 227 páginas. 32 reais.
Corto Maltese: A balada do mar salgado
Érico Borgo
Corto Maltese já foi objeto de artigos diversos aqui no Omelete, o que torna dispensável falar mais uma vez na qualidade da série e da genialidade de seu criador, Hugo Pratt. Mas a republicação brasileira de A balada do mar salgado, primeiro arco de histórias do personagem, merece ser exaltada.
O livro é o primeiro trabalho da Pixel Media Comunicação, nova empresa especializada na nona arte e parceria entre a Futuro Comunicação - dissidência da Conrad Editora - e a Ediouro. A edição, num formatão letter (21x28 cm) é extremamente caprichada. Traz dois artigos complementares e ótimo acabamento - impressão irretocável, papel couchê e capa em cartão. O preço também é acessível, 33 reais.
A balada do mar salgado apresenta Corto, Rasputin e alguns outros personagens recorrentes da série, envolvidos com um grupo de corsários a serviço das alemães no Pacífico Sul no início da Primeira Guerra Mundial. Um épico obrigatório das HQs, já publicado no Brasil pela L&PM.
Leia uma crítica sobre Corto Maltese aqui (edição portuguesa) e um artigo especial sobre o criador e sua obra aqui.
(La ballade de la mer salée) De Hugo Pratt. Editora Pixel Media. Formato 21x28 cm, 172 páginas. 33 reais.
Batman 39
Marcus Vinicius de Medeiros
A edição 39 da revista mensal do Batman, publicada no Brasil pela Panini, merece atenção por trazer dois epílogos de grandes sagas já passadas e o início de um novo arco de histórias, escrito por um nome consagrado na cena alternativa. Uma análise atenta ajuda a desmistificar idéias comuns sobre o funcionamento dos quadrinhos de super-heróis. Eventos como A Morte do Super-Homem e A Queda do Morcego, embora tenham conseguido empolgar o público e conquistar novos leitores, revelaram-se jogadas comerciais com falhas básicas em conceito e execução. Por certo, histórias pré-fabricadas que se estendessem por várias revistas pareciam nocivas à indústria, e o caminho a ser seguido seria o de liberdade criativa a escritores de visão própria sobre os personagens. O fato é verdadeiro, mas nem sempre se aplica.
No caso em questão, temos o epílogo da megassaga Jogos de Guerra, que durou sete edições da revista mensal, mais uma edição extra introdutória; um epílogo da saga Silêncio, centrado no vilão Charada; e o início da nova história Cidade do Crime, escrita pelo premiado David Laphan, de Balas Perdidas. Surpreendentemente, as duas primeiras atrações da revista acabam se mostrando as mais atraentes e acessíveis. "Aliviando a pressão", o epílogo de Jogos de Guerra, escrito por Andersen Gabrych e desenhado por Paul Lee é bastante simples, uma história que praticamente se escreve por si própria. Ainda assim, eficiente em seu propósito de explorar o status de Batman e seus aliados após os traumáticos eventos das edições anteriores. Não há nada de inovador, nenhuma tentativa de fazer diferente, mas atinge o leitor de forma direta. "Ninguém", a história protagonizada pelo Charada, escrita por Shane McCarthy e desenhada por Tommy Castillo, fecha algumas pontas da trama iniciada na fase de Loeb e Lee à frente do Morego. Trata-se de um estudo de personagens eficaz, em que o criminoso em decadência busca a proteção de Hera Venenosa. Tal como o trabalho de Geoff Johns no Flash, é um exemplo de boa exploração da mentalidade dos supervilões.
Os dois primeiros capítulos de Cidade do Crime, que deveriam marcar a entrada triunfal de Laphan no universo do Cavaleiro das Trevas, acabam decepcionando. Até pode ser notado o talento do autor, mas a sensação de que ele não parece à vontade num título de super-heróis é inegável. Seu maior trunfo é tratar Gotham City como personagem central, a exemplo das (boas) obras de Frank Miller com Batman, que seriam a influência de Laphan. Através da composição de personagens periféricos, a cidade ganha vida, e o leitor penetra o ambiente criado. Não passa disso, porém. Os mistérios, situações que deveriam cativar nosso interesse e a ação de Batman e Robin surgem de forma pouco apreciável. No final das contas, não temos nem uma história tradicional de super-heróis que entretenha, nem um trabalho autoral que estabeleça novos parâmetros. Pode ser que ele se encontre no decorrer da série, mas considerando casos como o de Brian Azzarello em Superman, a esperança não é grande. Em todas as histórias da edição, os desenhos apenas cumprem seu papel de forma aceitável, sem nenhum grande destaque. A volta do superestimado roteirista Judd Winnick na próxima edição, com uma idéia questionável, não ajuda. Por enquanto, parece que Batman funcionará melhor em grandes eventos, pelo menos até a entrada de Grant Morrison e Paul Dini nas séries mensais após Infinite Crisis.
(Batman 634, Detective Comics 801 e 802, Detective Comics 797 a 799) Panini Comics. Formato americano, 100 páginas. 6,90 reais.