Em dezembro, o coração do fã palpita mais forte porque sabe que a CCXP está chegando. O festival, que chega a seu oitavo ano de realização, já virou tradição entre a comunidade geek. Respeitado e apoiado pelas maiores produtoras e distribuidoras de conteúdo do mundo, o evento já atraiu mais de 1,2 milhão de pessoas, somando apenas as edições presenciais em São Paulo, e coleciona outros números impressionantes que o colocam entre os principais encontros da cultura pop no planeta. Entretanto, como em toda "jornada do herói", o começo foi difícil.
Para ser épico de verdade, a organização trabalhou incessantemente, desde antes da primeira edição, em 2014, com a missão de convencer o público, a mídia e o mercado de que o festival mudaria os rumos do entretenimento no mundo. Ivan Costa, cofundador da CCXP e curador de outros eventos de cultura pop, precisou se reunir pessoalmente com empresas e veículos de imprensa e mostrar a real dimensão da experiência até então inédita no Brasil.
"Tivemos muitas dificuldades no primeiro ano. Passamos por uma descrença do público, muita gente dizia: 'No Brasil? imagina, sem a menor condição, não vai dar certo, é um evento pirata!'. Ouvimos muita bobagem também do mercado corporativo, das marcas e dos estúdios, porque para eles Comic-Con só acontecia em San Diego, em julho, mas nos Estados Unidos muitas cidades sediam Comic-Cons toda semana. Havia esse aspecto cultural que precisávamos superar. Mesmo assim, acreditamos no potencial. Na época, eu nem era da área comercial e fui a muitas reuniões, tive literalmente que vender a ideia. Todo mundo teve de ser convencido de que aquilo fazia sentido e tinha espaço no Brasil", relembra.
Ivan Costa, que já tinha no currículo eventos como o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), sediado em Belo Horizonte, largou a empresa de marketing onde trabalhava para transformar sua paixão por cultura pop em arte. Em 2013, fundou a Chiaroscuro Studios e começou a vislumbrar uma Comic-Con no Brasil, semelhante às que ele visitou nos Estados Unidos, sem saber que este projeto estava engatilhado pela alta cúpula do Omelete.
"Tive a primeira reunião de trabalho no Omelete com o seguinte ponto: 'Queremos fazer uma Comic-Con no Brasil e que você esteja envolvido de alguma forma'. Minha resposta: 'Eu também!'", lembra. "Optamos por unir forças. Fui à minha primeira Comic-Con em 2000 e lamentava que aqui faltava um evento do mesmo porte, que unisse todas as verticais de cultura pop, havia só de anime ou só de quadrinhos. Em San Diego, Los Angeles está do lado, muitos atores moram ali, os estúdios ficam lá, a proximidade geográfica favorecia muito nesse aspecto. Em Nova York, as duas maiores editoras, tanto a DC quanto a Marvel, ficavam ali. Estávamos fora desse circuito e sabíamos que seria muito difícil ter um evento daquele tamanho. Esse sentimento acabou orientando até a definição do nome da empresa. A conotação de Experience, na raiz, significava chegar próximo ao evento de fora", explica.
Sob resistência, mas também com muito respaldo do público, em 25 de janeiro de 2014 a primeira CCXP foi anunciada para dezembro do mesmo ano, inicialmente projetada para ocupar metade do espaço da SP Expo, localizado às margens da rodovia dos Imigrantes (zona sul da capital paulista). Em função da demanda de público e de expositores, o festival utilizou a capacidade total do pavilhão na época (40 mil m²) e atraiu 97 mil espectadores.
Não há comparação com o tamanho da edição presencial mais recente. Já com o centro de convenções ampliado, a CCXP de 2019 ocupou um espaço de 115 mil m², com ativações de 15 estúdios e plataformas de streaming, 35 lojas especializadas em produtos com temática geek e 55 marcas que, segundo estimativa dos organizadores, tiveram faturamento de R$ 52 milhões. Em relação à estreia, o público saltou para 280 mil pessoas, destacando o evento no cenário do entretenimento mundial.
"O que entregamos naquela primeira edição, pequena se comparada à de hoje em todos os aspectos, foi um divisor de águas. Conseguimos mostrar que cultura pop não era um punhado de fãs dedicados por alguma mídia, gênero ou personagem. Provamos que éramos um mercado. Quando mostramos que ali há pessoas que consomem e se relacionam com marcas, produtos e licenças, outras empresas abriram os olhos, e o mercado começou a mudar", analisa Ivan Costa.
Nos painéis da CCXP, o público presenciou anúncios exclusivos e convidados do primeiro time do entretenimento. Logo em 2014, exibiu a pré-estreia exclusiva de O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos, com o ator Richard Armitage, intérprete no longa de Thorin Escudo-de-Carvalho. Do lendário quadrinista Frank Miller à dama da dramaturgia Fernanda Montenegro, o evento ultrapassou os limites da SP Expo e do universo geek. A primeira edição fora da capital paulista ocorreu em 2017: a CCXP Tour, em Pernambuco. Desde 2019, a CCXP está na Alemanha. Em 2020, o festival inaugurou sua primeira edição 100% digital, a CCXP Worlds, que está mantida para 2021 na estreia do CCXPverso, calendário de eventos com seu ápice em dezembro de 2022, no retorno da CCXP ao formato presencial.
"Não temos dúvida de que a CCXP22 será a maior da história", diz finaliza Pierre Mantovani, sócio-fundador da CCXP. "Estamos sedentos para fazer a edição presencial. Vamos acoplar todo nosso aprendizado e a plataforma tecnológica da CCXP Worlds na CCXP22. Hoje, o palco é um estúdio. A partir de 2022, estará dentro do evento. Vamos desenvolver ferramentas para que as pessoas interajam ainda mais, e que a experiência tanto de quem não foi ao evento quanto de quem foi possa ser aumentada. Para 2022, esperamos ter um line-up incrível de conteúdo, amplificação dos meios digitais que aprendemos na CCXP Worlds e fazer uma experiência que, além de tudo, possa ser uma grande celebração da alegria no mundo. Vamos trazer todo esse sentimento às pessoas potencializando com boas experiências presenciais e ferramentas colaborativas sociais digitais".