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12 Horas | Crítica

Sem a carga dos filmes de "autor", Heitor Dhalia encontra no thriller de vingança um canal adequado para seu mal-estar

12.04.2012, às 18H38.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H38

A vantagem de ver diretores brasileiros trabalhando sob encomenda nos EUA é que podemos testemunhar, de perto, como opera a máquina de moer dos produtores de Hollywood. Em entrevistas, Heitor Dhalia, diretor de NinaO Cheiro do Ralo e À Deriva, que está estreando na indústria de lá com o suspense 12 Horas (Gone), diz que não podia sequer ensaiar com a atriz Amanda Seyfried sem que o produtor Tom Rosenberg estivesse presente.

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O irônico dessa situação - trabalhar de mão de obra barata, como o próprio Dhalia diz, sem ter qualquer poder de decisão - é que 12 Horas é um filme muito mais interessante do que os três longas anteriores e "autorais" do diretor. No Brasil, Dhalia carrega consigo uma suposta assinatura de autor (seus filmes têm fotografia carregada e moral definida; portanto, na opinião da mídia, têm personalidade) que se sobrepõe aos filmes em si. Por ser um produto hollywoodiano de gênero, 12 Horas não dá espaço a essa ambição "de artista".

O suspense parte da clássica situação da vítima que se vinga de seu agressor. Depois de escapar de um maníaco assassino, Jill (Seyfried) agora vive em estado de alerta: faz artes marciais, mapeia o parque onde foi atacada, evita estranhos à noite. Quando sua irmã desaparece, Jill tem certeza de que aquele mesmo maníaco - que agora estaria armando uma isca para pegá-la de vez - é o responsável. O problema é que ninguém na polícia, claro, acredita em Jill.

Nada em 12 Horas vai fazer história. Há dos clichês mais básicos, como o gato preto que pula na frente da câmera, à estrutura mais manjada, como estabelecer coadjuvantes desnecessários (o policial bonzinho, o namorado da irmã) que só servem para estufar o whodunit com meia-dúzia de potenciais suspeitos pelo crime. 12 Horas não vai para o portfólio de ninguém, enfim.

Mas há na forma enganosamente impessoal que Dhalia filma Seyfried pelas ruas de Portland, em meio a tantos homens sem identidade - quase todos encapuzados, de costas ou nas sombras, e aqueles que mostram o rosto não têm relevância no filme -, a criação de uma situação autêntica de opressão. Não é apenas o caso de uma garota que foi vítima de uma violência, mas de uma garota com jeito frágil que enfrenta solteira o inverno molhado da cidade, com seu carrinho econômico em meio a um universo masculino de SUVs, jipes e caminhonetes.

E de repente, no trabalho de encomenda que é 12 Horas, dá pra perceber aqui e ali a mesma visão de mundo desesperançada de um Nina. O que torna esse enlatado hollywoodiano tão interessante dentro da "obra" de Dhalia é que a misantropia e o mal-estar - tão mal elaborados em seus filmes anteriores - ganham num thriller de vingança, subgênero que acomoda bem esses sentimentos, um sentido de ser.

Nota do Crítico
Bom
12 Horas
Gone
12 Horas
Gone

Ano: 2012

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 94 min

Direção: Raúl Marchand Sánchez

Roteiro: Raúl Marchand Sánchez

Elenco: Marcos Betancourt, Cielomar Cuevas, Michelle Deliz, Flavia Manes Rossi, Charlie Massó, Yadira Nazario, Wanda Rovira, Teófilo Torres, Rosabel del Valle, Patricia Alonso, Jaime Bello, Joe Blues, Fernanda Bracho, Juan M. García, Modesto Lacen

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